Com mais de 1,25 milhão de acres cultivados e US$ 4,9 bilhões em exportações, a produção de amêndoas na Califórnia impulsiona o agronegócio, mas gera impactos ambientais graves e desafia a sustentabilidade da agricultura local
A Califórnia concentra 80% da produção mundial de amêndoas, sendo a principal exportadora dos Estados Unidos. Com mais de 1,25 milhão de acres dedicados à cultura, o estado movimenta bilhões no agronegócio, mas enfrenta desafios crescentes como escassez de água, pressão sobre as abelhas polinizadoras e resíduos agrícolas excessivos.
A região do Vale de San Joaquin, no centro do estado, abriga as maiores fazendas de amêndoas do mundo. Em 2020, a produção californiana chegou a 2,8 bilhões de libras (1,2 milhão de toneladas). O clima mediterrâneo seco e quente aliado a uma infraestrutura hídrica desenvolvida favorece o cultivo comercial dessa oleaginosa, que não é nativa da região.
Apesar da alta produtividade, a produção rural de amêndoas exige recursos em larga escala. A irrigação intensa e a dependência de colmeias comerciais durante a floração tornam o sistema vulnerável a crises ambientais e logísticas. Nos últimos anos, problemas climáticos e econômicos reduziram o ritmo de expansão.
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Impacto econômico e exportações globais movimentam o mercado de amêndoas
Segundo o Departamento de Agricultura da Califórnia, as amêndoas foram o terceiro produto agrícola mais valioso do estado em 2019, gerando US$ 4,9 bilhões e representando cerca de 11% do valor total da produção agrícola estadual. Europa, China e Índia lideram o ranking de importadores.
O crescimento da cultura foi impulsionado pela mecanização agrícola, que reduziu a necessidade de mão de obra. Durante a colheita, máquinas chamadas tree shakers balançam violentamente as árvores para derrubar as amêndoas, aumentando a eficiência em comparação a outras lavouras do agronegócio.
Com a ascensão global da demanda por alimentos saudáveis, a indústria californiana de amêndoas dobrou sua produção desde o início dos anos 2000. Essa valorização levou muitos produtores a substituir culturas tradicionais, como o algodão, por amendoeiras, gerando uma transformação no perfil agrícola da região.
Crise hídrica, colmeias alugadas e impacto ambiental desafiam o modelo produtivo
A dependência de água é um dos principais gargalos da produção de amêndoas. Durante a seca histórica entre 2011 e 2017, a cultura chegou a consumir cerca de 10% da água do estado, levando produtores a aumentar a captação de água subterrânea de forma insustentável.
Além disso, o setor depende fortemente das abelhas polinizadoras. Como as amêndoas precisam de polinização cruzada, agricultores importam colmeias de várias partes dos EUA. Esse trânsito intensivo aumentou os custos e expôs os apiários à síndrome do colapso das colônias, reduzindo a produtividade de várias lavouras simultaneamente.
Outro desafio é o excesso de resíduos. Em 2015/2016, a produção gerou mais de 2 milhões de toneladas de cascas e resíduos orgânicos. Com o declínio na demanda por subprodutos na pecuária, o setor busca alternativas como o uso de biochar em pneus, plásticos biodegradáveis e compostagem de pomares inteiros.
Perspectivas futuras exigem inovação e manejo sustentável das amêndoas
Com o aumento da concorrência de países como Austrália e África do Sul, o setor californiano tem investido em tecnologia agrícola, reutilização de resíduos e melhoria genética de cultivares mais resistentes à seca. Além disso, iniciativas como o reciclo total de pomares têm ajudado a reter nutrientes no solo e melhorar a eficiência hídrica.
A recente crise logística global também impactou as exportações. Em julho de 2021, mais de 75% dos contêineres saindo de Los Angeles estavam vazios devido à corrida por insumos asiáticos. Com isso, toneladas de amêndoas ficaram paradas nos portos, afetando diretamente a rentabilidade de fazendeiros e cooperativas.