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O desmantelamento do HS2: um retrocesso na ferrovia do Reino Unido

Escrito por Bruno Teles
Publicado em 15/01/2024 às 18:17
O desmantelamento do HS2: um retrocesso na ferrovia do Reino Unido
Foto: Divulgação/HS2

High Speed 2 (HS2), o ambicioso projeto de ferrovia do Reino Unido, inicialmente concebido para revolucionar a infraestrutura ferroviária do país e unir regiões, enfrenta agora um sucateamento significativo. Este projeto, que prometia conectar 8 das 10 maiores cidades britânicas através de uma rede em forma de Y, viu suas fases cruciais sendo canceladas, incluindo a importante extensão para Leeds.

O projeto da ferrovia para o High Speed 2 (HS2), uma vez considerado um marco na modernização da infraestrutura ferroviária do Reino Unido, enfrenta um destino incerto. O projeto original previa uma extensão da linha HS1, formando uma rede abrangente em forma de Y, conectando Norte, Midlands e Sul do Reino Unido, e oferecendo acessibilidade a 8 das 10 maiores cidades britânicas.

Infelizmente, o projeto sofreu desvios significativos de sua visão inicial. Em vez de uma integração com a HS1 e uma conexão efetiva entre as regiões Sul e Norte, o resultado foi um empreendimento fragmentado. A HS2 foi projetada para ser executada em duas fases. A Fase 1 visava ligar Londres a Birmingham, enquanto a Fase 2 se estenderia para o norte, dividindo-se em ramos ocidental e oriental, com estações planejadas em locais estratégicos, incluindo Manchester e Leeds.

Porém, mudanças notáveis ocorreram

Em novembro de 2021, a Fase 2b, que se estenderia a Leeds, foi cancelada, assim como a linha leste-oeste de alta velocidade conectando Manchester a Leeds. Esse cancelamento foi justificado pela eficiência e redução de custos. Dessa forma, os trabalhos na estação de Euston foram paralisados devido ao aumento dos custos.

Em 2022, Rishi Sunak tomou a decisão de cancelar toda a Fase 2 do HS2, motivado pelo aumento dos custos do projeto, que mais que dobraram desde a aprovação inicial, e pela mudança nos padrões de comportamento dos passageiros após a pandemia de COVID-19. Como resultado, apenas a segmento Londres-Birmingham será completado.

A anulação da Fase 2 tem implicações profundas

O contrato para a aquisição de 54 trens de alta velocidade, com base no modelo Zefiro V300 modificado, está agora sujeito a reavaliação. A expansão da estação de Manchester Piccadilly também enfrenta desafios, pois a estação tem dificuldades em acomodar conjuntos de trens HS2. As composições de trens planejadas, com 400 metros de comprimento, são duas vezes maiores do que os trilhos da estação, limitados a 200 metros. E claro, sem a capacidade de inclinação, os trens HS2 terão velocidades máximas inferiores às atuais do West Coast Mainline, não ultrapassando 177 km/h em certas seções.

Outro desenvolvimento preocupante é a venda de terras adquiridas publicamente para a Fase 2. A decisão de Sunak levou o Departamento de Transporte a remover a proteção dessas terras, eliminando as possibilidades de retomada futura do projeto completo do HS2. Vale destacar que já foram investidos 3,4 bilhões de libras em aquisições de terras e propriedades para a rota original do HS2, incluindo 584 milhões destinados às pernas planejadas ao norte de Birmingham.

Economia com o corte da Fase 2

A economia estimada com o corte da Fase 2 é de cerca de 36 bilhões de libras, que devem ser realocadas para projetos de transporte no norte do Reino Unido. Contudo, a recepção ao plano de investimentos “Network North” tem sido morna, ofuscada por equívocos, como o compromisso de estender o sistema de bondes Metrolink de Manchester ao Aeroporto de Manchester, uma extensão já operacional desde 2014.

Quanto à Fase 1, aproximadamente 22,5 bilhões já foram gastos, principalmente na construção de estruturas de engenharia complexas, como os 51 km de túneis envolvidos no projeto. As máquinas de perfuração de túneis “Florence” e “Cecilia” avançam pelo Túnel de Chiltern, enquanto “Sushila” e “Caroline” progrediram no Túnel Northolt.

Embora o objetivo principal do HS2 seja a expansão da capacidade, a falta de vontade política no Reino Unido contrasta com o desenvolvimento de sistemas de ferrovias de alta velocidade em países como França e Espanha. Com o sucateamento do HS2, o Reino Unido permanece significativamente atrás de seus pares europeus em infraestrutura ferroviária de alta velocidade, com uma rede de apenas 108 km, em comparação com os 2.800 km da França.

O HS2, que prometia ser um projeto transformador para o Reino Unido, enfrenta agora um futuro incerto. As mudanças no projeto, especialmente o cancelamento da Fase 2, reduzem drasticamente o escopo e a ambição original do empreendimento. Com um investimento substancial já feito, mas com uma redução significativa na entrega final, o projeto HS2 representa um momento crítico na infraestrutura ferroviária do Reino Unido. A decisão de limitar o projeto à rota Londres-Birmingham, embora seja uma economia de custos, marca um retrocesso na visão de conectar efetivamente o país por meio de uma moderna rede ferroviária de alta velocidade.

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Bruno Teles

Falo sobre tecnologia, inovação, petróleo e gás. Atualizo diariamente sobre oportunidades no mercado brasileiro. Com mais de 2.300 artigos publicados no CPG. Sugestão de pauta? Manda no brunotelesredator@gmail.com

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