A ampliação da isenção do IR vai beneficiar milhões de brasileiros da classe média, enquanto a conta será compensada por contribuintes de alta renda, que passarão a pagar mais sobre lucros e dividendos
A decisão de ampliar a faixa de isenção do Imposto de Renda promete alterar a forma como o Brasil arrecada tributos, beneficiando principalmente trabalhadores da classe média e transferindo parte do peso para a parcela mais rica da população.
De acordo com estimativas da Receita Federal, cerca de 15 milhões de contribuintes deixarão de pagar ou passarão a recolher menos imposto, em um universo de aproximadamente 40 milhões de declarantes. A mudança, que entra em vigor a partir de 2026, estabelece que quem ganha até R$ 5 mil por mês ficará isento. Já salários entre R$ 5 mil e R$ 7.350 terão isenção parcial, reduzindo a alíquota aplicada.
Atualmente, apenas quem recebe até R$ 3.036 mensais está livre do pagamento, o equivalente a dois salários mínimos. Com a nova regra, a faixa de isenção se expande consideravelmente, trazendo alívio fiscal a milhões de trabalhadores.
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Mais ricos assumem o custo da mudança
O economista Bruno Carazza, comentarista do Jornal da Globo e doutor em direito econômico pela UFMG, destacou que, embora milhões sejam beneficiados, cerca de 150 mil brasileiros de alta renda — aqueles com ganhos acima de R$ 50 mil por mês, ou R$ 600 mil ao ano — terão de compensar a diferença.
Segundo ele, essa parcela reduzida da população concentra parte expressiva da renda nacional e será atingida por uma tributação progressiva sobre lucros e dividendos que pode chegar a 10%. “A medida concretiza a ideia de retirar os mais pobres da base de cobrança e transferir a responsabilidade para os mais ricos”, afirmou Carazza.
Justiça fiscal em debate
Nos últimos 20 anos, os contribuintes mais ricos vinham sendo menos pressionados no sistema tributário brasileiro. Vários mecanismos permitiram essa distorção, como a isenção de lucros e dividendos e a tributação reduzida sobre aplicações financeiras.
Carazza observa que, na prática, quanto maior a renda, menor era a proporção efetiva de imposto pago no país. A proposta tenta corrigir esse desequilíbrio, fixando uma cobrança mínima de 10% sobre rendimentos que antes estavam livres.
Já quem depende apenas do salário continuará submetido à tabela progressiva tradicional, com retenções que podem chegar a 27,5%.
Brechas continuam
Apesar do avanço, o economista ressalta que o sistema ainda preserva benefícios para grupos específicos. Continuam fora do alcance do Imposto de Renda, por exemplo, valores recebidos por herança, seguros de vida e planos de previdência privada.
Mesmo assim, a expectativa é que o debate sobre a reforma tributária avance gradualmente, reduzindo privilégios históricos e ampliando a percepção de justiça fiscal.
“A medida sinaliza uma mudança no modelo de arrecadação, ampliando a isenção para milhões de contribuintes de renda média e repassando parte da responsabilidade para quem está no topo da pirâmide econômica”, reforçou Carazza.