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Descoberta de 100 novas estruturas em Gran Pajatén dobra conhecimento sobre civilização Chachapoya e revela rede de cidades perdidas na floresta nublada do Peru

Escrito por Jefferson S
Publicado em 08/06/2025 às 19:29
Pesquisador realiza restauração em parede de pedra com frisos geométricos e rostos humanos esculpidos, parte das ruínas de Gran Pajatén na floresta nublada do Peru
Imagem mostra um arqueólogo do World Monuments Fund restaurando uma estrutura Chachapoya em Gran Pajatén, com detalhes impressionantes em frisos geométricos e esculturas de rostos humanos entalhados em pedra. A construção, feita com camadas horizontais de rocha, representa a sofisticação artística da civilização da floresta nublada dos Andes peruanos.

Usando tecnologia de ponta, arqueólogos revelam que o enigmático sítio Gran Pajatén era parte de um complexo sistema interligado no coração do Parque Nacional do Rio Abiseo, com mais de 100 construções inéditas datadas do século XIV

Um dos maiores mistérios da arqueologia andina acaba de ganhar novos capítulos. Arqueólogos do World Monuments Fund (WMF) descobriram mais de 100 estruturas desconhecidas no sítio arqueológico Gran Pajatén, localizado no alto da floresta nublada do Parque Nacional do Rio Abiseo, no Peru. A revelação, divulgada em maio de 2025, mais do que dobra o número de construções conhecidas da cultura Chachapoya, e muda tudo o que se sabia sobre a ocupação da região.

Segundo o Popular Mechanics e o próprio WMF, a descoberta foi possível graças ao uso de tecnologias avançadas como LiDAR aéreo e manual, fotogrametria e mapeamento topográfico, permitindo que os pesquisadores “enxergassem” por baixo da vegetação densa sem danificar o ambiente. O trabalho revelou um ecossistema arqueológico sofisticado, com plataformas cerimoniais, mosaicos, frisos e até redes de estradas interligando Gran Pajatén a outros centros da antiga civilização.

O redescobrimento da civilização da floresta nublada

Conhecidos como os “povos da floresta nublada”, os Chachapoya viveram entre os séculos VII e XVI nas escarpas dos Andes peruanos, entre 2.000 e 3.000 metros de altitude. Sua arquitetura, distinta pelas formas circulares, relevos geométricos e túmulos encravados em penhascos, resistiu por séculos ao tempo e à vegetação.

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Gran Pajatén, descoberto oficialmente nos anos 1960 e registrado arqueologicamente na década de 1980, era até então considerado um local isolado e enigmático, com apenas 26 estruturas conhecidas. As novas evidências dobram esse número e demonstram que o sítio fazia parte de uma rede complexa de assentamentos conectados.

Segundo o diretor executivo do WMF no Peru, Juan Pablo de la Puente Brunke, os dados revelam que Gran Pajatén integrava um sistema articulado de cidades pré-hispânicas, conectado a locais como La Playa, Papayas e Los Pinchudos, todos situados dentro do Parque Nacional do Rio Abiseo, uma área reconhecida como Patrimônio Mundial da UNESCO desde 1990.

A descoberta também reforça a sofisticação urbanística dos Chachapoya. Em vez de um povo disperso, os dados sugerem uma sociedade estruturada, com hierarquias regionais e infraestrutura interligada por estradas de pedra nas montanhas.

A maioria das construções identificadas permanecia oculta sob a floresta densa, e sua revelação só foi possível graças ao uso de tecnologia de escaneamento LiDAR, que capta topografia mesmo sob o dossel da mata.

O Parque Nacional do Rio Abiseo, com seus mais de 274 mil hectares, abriga ainda centenas de espécies ameaçadas, como o urso-de-óculos e o macaco-lanudo. Por isso, o turismo na região é extremamente restrito, o que também ajudou a preservar o sítio com alto grau de autenticidade.

Tecnologia de ponta em meio à selva virgem

O projeto de escavação e conservação liderado pelo WMF foi realizado entre 2022 e 2024, com o objetivo de documentar e preservar Gran Pajatén sem impactar negativamente o meio ambiente. As ferramentas utilizadas incluíram desde drones com sensores LiDAR até softwares de reconstrução 3D e análise morfológica.

Além do mapeamento, a equipe também realizou intervenções físicas controladas, como a reconstituição parcial de muros, reforço de escadarias, estabilização de relevos em pedra e selagem de juntas com uma mistura de argila feita sob medida. Essas ações foram lideradas pelo especialista Ricardo Morales Gamarra e servem agora como referência internacional para ações futuras de conservação em áreas sensíveis.

Uma das grandes surpresas foi a identificação de mosaicos com figuras humanas, plataformas cerimoniais e frisos que refletem a complexa simbologia dos Chachapoya. Apesar de serem conhecidos por sua resistência ao Império Inca, a civilização acabou incorporada ao domínio incaico pouco antes da chegada dos espanhóis.

Outro dado relevante foi o aprofundamento da cronologia de ocupação do sítio. Análises estratigráficas indicam que Gran Pajatén pode ter sido usado desde antes do século XIV, tornando-se um dos mais antigos assentamentos monumentais da cultura Chachapoya.

O estudo não apenas reconfigura a compreensão sobre o papel regional do sítio, como também amplia os limites do que se imaginava ser o “território Chachapoya”, estendendo a área de influência desses povos em centenas de quilômetros.

Mesmo inacessível ao público geral, Gran Pajatén poderá ser explorado digitalmente. A presidente do WMF, Bénédicte de Montlaur, afirma que a documentação gerada permitirá criar experiências de narrativas imersivas para visitantes virtuais ao redor do mundo.

Biodiversidade, legado cultural e futuro da preservação

O Parque Nacional do Rio Abiseo é uma das regiões mais biodiversas do mundo. Abriga 980 espécies de plantas, como bromélias, orquídeas e samambaias, além de quase 300 espécies de aves e 50 de mamíferos, incluindo animais raros como o jaguar e o taruca (um cervo andino).

Essa riqueza ecológica é o que justifica o rigor com que o governo peruano e entidades internacionais protegem a área, restringindo fortemente o acesso turístico e proibindo grandes expedições não autorizadas. Isso, por sua vez, garantiu que Gran Pajatén permanecesse praticamente intocado por décadas.

A exposição digital desses achados está sendo realizada no Museu de Arte de Lima (MALI) entre 21 de maio e 18 de junho de 2025. A mostra é gratuita e permite ao público conhecer de perto os detalhes dessa civilização esquecida e as tecnologias usadas na pesquisa.

O WMF tem como objetivo transformar o trabalho realizado em um modelo replicável para outros parques e sítios arqueológicos de difícil acesso ao redor do mundo, unindo ciência, tecnologia e conservação ambiental.

A esperança é que, mesmo sem turismo físico, o legado dos Chachapoya possa ser valorizado por meio da educação digital, permitindo que mais pessoas conheçam a sofisticação dessa cultura que construiu cidades nas nuvens antes mesmo da chegada dos incas.

Gran Pajatén, hoje, representa não apenas um tesouro arqueológico recém-ampliado, mas também um modelo de equilíbrio entre preservação cultural e ambiental, com lições valiosas para o futuro da arqueologia na era digital.

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Jefferson S

Profissional com experiência militar no Exército, Inteligência Setorial e Gestão do Conhecimento no Sebrae-RJ e no Mercado Financeiro por meio de um escritório da XP Investimentos. Trago um olhar único sobre a indústria energética, conectando inovação, defesa e geopolítica. Transformo cenários complexos em conteúdo relevante sobre o futuro do setor de petróleo, gás e energia. Envie uma sugestão de pauta para: jasgolfxp@gmail.com

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