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Como São Paulo superou Bahia, Pernambuco e Maranhão, saltou de 9ª maior cidade para potência econômica e virou a locomotiva do Brasil

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 20/09/2025 às 14:54
São Paulo cresceu do isolamento à liderança nacional em 100 anos, impulsionado por café, ferrovias, imigrantes e industrialização.
São Paulo cresceu do isolamento à liderança nacional em 100 anos, impulsionado por café, ferrovias, imigrantes e industrialização.
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De província esquecida e com poucas exportações, São Paulo construiu sua força no café, nas ferrovias, na imigração e virou a locomotiva nacional.

O estado de São Paulo tem uma economia tão forte que, se fosse um país, seria mais rico que quase todos os vizinhos da América Latina. Os números mostram que o estado também é, de longe, o estado mais rico do Brasil.

Mas nem sempre foi assim. Até cerca de 200 anos atrás, São Paulo não era uma região de grande relevância na economia, na política ou mesmo em termos populacionais.

Em 1872, a capital paulista tinha apenas 30 mil habitantes. Era a nona maior do Brasil. Belém, por exemplo, tinha o dobro dessa população. Já o Rio de Janeiro era quase dez vezes maior. Mas, em um intervalo muito curto, tudo mudou.

É uma transformação impressionante, rara até na história econômica mundial. Em menos de 100 anos, São Paulo se tornou a cidade mais populosa e também a mais rica do país. Então, o que aconteceu?

Um passado periférico

Após a chegada dos portugueses ao Brasil, São Paulo passou longos séculos sem prestígio. A província tinha pouca importância, tanto política quanto econômica.

No início do século XIX, São Paulo ainda era uma província relativamente pobre, dentro de um país que também não tinha grande peso internacional.

Mais grave ainda para os paulistas da época: São Paulo era visto como uma espécie de periferia do Rio de Janeiro.

Bahia, Pernambuco e Maranhão eram províncias mais ricas. Exportavam produtos valorizados no mercado externo. O Maranhão exportava algodão. Bahia e Pernambuco eram grandes produtores de açúcar.

São Paulo também produzia açúcar, mas em quantidade menor. Exportava pouco e, por isso, permanecia relativamente pobre.

A muralha natural

O solo paulista era fértil. Mas havia um obstáculo: o transporte. Para levar produtos do interior ao litoral, onde ficavam os portos, era preciso atravessar a Serra do Mar. E na serra existia um paredão íngreme, apelidado de “A Muralha”.

Durante séculos, esse trajeto era feito em trilhas abertas pelos povos indígenas. Eram caminhos estreitos, que dificultavam o transporte de qualquer mercadoria.

A primeira estrada só surgiu no fim do século XVIII. Era sinuosa e tinha 133 curvas, ligando o alto da serra ao litoral. Ainda assim, já representava um avanço.

Essa abertura permitiu o primeiro passo para a transformação paulista: o início do cultivo de café. Mas o transporte seguia lento, caro e dependente de tropas de mulas.

O pedágio de mulas

O milho era o combustível das mulas. Caro, difícil de transportar. Foi então que, em 1831, após a abdicação de Dom Pedro I, as províncias ganharam mais autonomia.

São Paulo aproveitou a oportunidade e criou dezenas de pedágios. Quem passava com tropas de mulas pagava 200 réis por animal. O dinheiro arrecadado financiava melhorias nas estradas.

Isso permitiu expandir as plantações de café para áreas mais distantes do litoral. Essa decisão, aparentemente simples, mudou a trajetória econômica do estado.

A força da ferrovia

O salto decisivo viria logo depois. Produtores de café investiram na construção de ferrovias. Por elas, o café era transportado até Santos e de lá seguia para o mundo.

Na mesma época, países como os Estados Unidos aumentavam o consumo de café. A demanda internacional crescia, e São Paulo estava pronto para aproveitar a oportunidade.

O avanço da ferrovia incentivou a fundação de cidades no interior, próximas às estações, e multiplicou a produção. Mas plantar mais café exigia mais trabalhadores.

Fim do tráfico e busca por mão de obra

O Brasil proibiu o tráfico de pessoas escravizadas vindas da África. Com isso, iniciou-se o chamado tráfico interno, trazendo escravizados do Nordeste para o Sudeste.

Esse modelo, no entanto, tornou-se inviável. A resistência dos próprios escravizados e o movimento abolicionista criaram uma situação insustentável.

Diante desse cenário, a elite paulista tomou outra decisão crucial: incentivar a imigração.

A chegada dos imigrantes

São Paulo recebeu milhões de imigrantes. Passaram pela antiga hospedaria de imigrantes mais de 3 milhões de pessoas em menos de 100 anos.

Alguns vieram do Japão e do Oriente Médio. Mas a maioria era europeia. Italianos chegaram em massa, fugindo de crises econômicas, guerras e fome.

A chegada desses imigrantes formou uma classe trabalhadora assalariada, algo raro no Brasil da época. Eles tinham dinheiro para gastar, o que impulsionou a indústria nascente.

Enquanto outros estados ainda dependiam de uma economia escravista em declínio, São Paulo avançava para um modelo industrial.

República Café com Leite

O café não trouxe apenas riqueza, mas também poder político. Elites de São Paulo e Minas Gerais passaram a dominar a política nacional.

A chamada República Café com Leite marcou o início do século XX. São Paulo liderava a produção de café, e Minas Gerais, a de leite.

Mas a crise de 1929 derrubou os preços do café e afetou a hegemonia paulista.

Revolução de 1932

Getúlio Vargas assumiu o poder em 1930 e reduziu a autonomia dos estados. Nomeou interventores federais e governou sem constituição.

Paulistas reagiram com a Revolução de 1932. Foram derrotados militarmente, mas a elite local respondeu investindo em conhecimento.

Criou a Universidade de São Paulo (USP), que se tornou referência acadêmica.

Industrialização e migração nordestina

Na década de 30, a dificuldade para importar produtos levou o Brasil a adotar políticas de proteção à indústria. São Paulo saiu beneficiado.

A indústria cresceu, e o estado recebeu migrantes de todo o país. Nordestinos tiveram papel fundamental, ocupando empregos na construção civil e nas fábricas.

Segundo o Censo de 2022, mais de 5 milhões de nordestinos vivem em São Paulo. Eles representam mais de 11% da população estadual.

Esse fluxo migratório moldou não apenas a economia, mas também a cultura paulista.

Cultura, economia e poder simbólico

São Paulo virou sinônimo de desenvolvimento, mas também de disputas simbólicas.

Alguns especialistas alertam que a elite paulista usou a ideia de “europeização” para justificar uma liderança sobre o restante do país.

Segundo Jessé Souza, essa elite explorou o poder simbólico para consolidar o poder econômico e político.

O resumo da transformação

Em poucas palavras, São Paulo enriqueceu porque resolveu o problema do transporte com pedágios e ferrovias.

Porque cultivou café em grande escala, aproveitando a demanda internacional.

Porque trouxe milhões de imigrantes que formaram uma classe trabalhadora assalariada.

E porque reinvestiu parte dessa riqueza em industrialização e educação.

Hoje, São Paulo continua sendo a locomotiva econômica do Brasil. Mas sua história mostra que geografia, transporte, política e instituições foram peças essenciais para essa transformação.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor.

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