Com mais de US$ 8 trilhões em investimentos e presença em 140 países, o megaprojeto chinês Belt and Road Initiative é o maior plano de infraestrutura da história, redesenhando o comércio global e a geopolítica do século XXI.
Poucos projetos na história moderna se aproximam, em escala e ambição, da Iniciativa Cinturão e Rota — também conhecida como Belt and Road Initiative (BRI). Lançada em 2013 pelo presidente Xi Jinping, a iniciativa transformou-se em um dos maiores programas de infraestrutura global de todos os tempos, mobilizando investimentos estimados em até US$ 8 trilhões e envolvendo mais de 140 países em cinco continentes. Seu objetivo é claro: reconstruir as antigas rotas comerciais da Rota da Seda, mas agora com trens de alta velocidade, gasodutos, megaportos e corredores digitais que colocam a China no centro da economia global.
A maior iniciativa de infraestrutura do planeta: Belt and Road Initiative
Quando a China anunciou a BRI há pouco mais de uma década, o mundo enxergou apenas um plano ambicioso de conexões comerciais. Hoje, o projeto é considerado um divisor de águas na geopolítica global.
Estimativas do Center for Strategic and International Studies (CSIS) e do Green Finance & Development Center (Fudan University) indicam que, entre investimentos diretos e financiamentos de bancos estatais chineses, o valor acumulado já ultrapassa US$ 1,3 trilhão, com projeções de chegar a US$ 8 trilhões ao longo das próximas décadas.
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A BRI conecta Ásia, Europa, África e América Latina, abrangendo mais de 4,4 bilhões de pessoas, o equivalente a 63% da população mundial.
Em termos econômicos, as nações participantes somam mais de 40% do PIB global. Isso torna o projeto não apenas uma obra de infraestrutura, mas uma nova arquitetura de poder econômico e diplomático.
Portos, ferrovias e gasodutos que mudam o mapa mundial
A BRI é composta por duas grandes frentes: o Cinturão Econômico da Rota da Seda, que atravessa a Eurásia por terra, e a Rota Marítima da Seda, que liga os portos asiáticos à África, Europa e América Latina. Juntas, essas rotas criam uma teia logística de proporções inéditas.
Entre as principais obras estão:
- Corredor Econômico China-Paquistão, com estradas e gasodutos ligando o oeste da China ao porto de Gwadar, no Mar da Arábia.
- Linha ferroviária China-Europa, que transporta mercadorias de Chongqing até Duisburg, na Alemanha, em apenas 12 dias — metade do tempo necessário por via marítima.
- Ferrovias de alta velocidade no Sudeste Asiático, como a linha China-Laos, inaugurada em 2021, que encurta o transporte entre Kunming e Vientiane para menos de 10 horas.
- Portos estratégicos em países africanos, como o de Djibouti, e no Mediterrâneo, como Pireu (Grécia), hoje sob controle chinês.
Além disso, a China tem expandido a chamada Rota da Seda Digital, investindo em redes 5G, cabos submarinos de internet e centros de dados em países parceiros — um movimento que reforça o alcance tecnológico de Pequim.
O impacto econômico e geopolítico
De acordo com relatório do World Bank, as obras ligadas à Belt and Road podem aumentar o comércio global em até 6,2% e reduzir os custos logísticos em até 10% para países participantes.
O impacto também é profundo em nações em desenvolvimento, onde os investimentos chineses oferecem infraestrutura crítica que governos locais não tinham capacidade de financiar.
Por outro lado, críticos apontam que o projeto pode criar dependência econômica e endividamento. Segundo o AidData Lab, cerca de 60% dos empréstimos da BRI envolvem países com alto risco de inadimplência, especialmente na África e Ásia Central. Pequim, no entanto, rebate dizendo que o objetivo é promover integração e prosperidade compartilhada e não domínio político.
Mesmo com controvérsias, é inegável que o projeto coloca a China como protagonista do século XXI, redefinindo fluxos de comércio, energia e comunicação.
América Latina entra na rota chinesa?
Nos últimos anos, a influência da BRI chegou também à América Latina. Países como Brasil, Chile, Peru e Argentina assinaram acordos de cooperação com o governo chinês.
O Brasil, por exemplo, estuda a integração de portos e ferrovias que podem facilitar o escoamento de commodities pelo Pacífico, fortalecendo a posição do país nas exportações para a Ásia.
O Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB), braço financeiro da iniciativa, já anunciou linhas de crédito para obras logísticas e energéticas na região. A longo prazo, a expectativa é que o continente sul-americano se torne um dos polos de expansão natural da nova Rota da Seda.
O futuro da Belt and Road
Em 2023, quando a BRI completou dez anos, a China anunciou a segunda fase do projeto, com foco em energia limpa, digitalização e sustentabilidade. A meta é construir corredores verdes, priorizando usinas solares, eólicas e linhas de transmissão de alta capacidade.
Segundo o China Development Bank, o programa deve continuar crescendo até 2049, quando o país completará cem anos sob o regime comunista moderno. Até lá, estima-se que o número de países participantes ultrapasse 160, consolidando a BRI como o maior empreendimento econômico da história humana.
O impacto da Belt and Road vai muito além da infraestrutura. Trata-se de um reposicionamento estratégico da China no centro das rotas globais.
Ao conectar regiões antes isoladas por limitações geográficas e logísticas, o país cria um novo eixo de poder econômico, desafiando a hegemonia tradicional dos EUA e da Europa.
Mais do que uma obra trilionária, a BRI é um símbolo da ascensão chinesa e da transição para uma ordem multipolar, na qual as conexões valem tanto quanto o poder militar.