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China desafia a gravidade: a obra chinesa que torna possível navegar acima das montanhas

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 14/06/2025 às 16:37
Obra monumental chinesa une energia limpa e tecnologia extrema para permitir que navios “escalem” montanhas por um elevador colossal no rio Wu.
Obra monumental chinesa une energia limpa e tecnologia extrema para permitir que navios “escalem” montanhas por um elevador colossal no rio Wu.
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No coração montanhoso da China, uma megaconstrução redefine os limites da engenharia e da navegação fluvial ao unir geração de energia limpa, inovação tecnológica e um impressionante elevador de navios que atravessa um dos terrenos mais desafiadores do país.

Uma hidrelétrica monumental transforma o curso de um rio montanhoso e revoluciona o transporte de cargas e energia no sudoeste da China

Nas regiões montanhosas do sudoeste da China, uma obra de engenharia impressiona o mundo ao tornar possível algo que antes parecia impensável: navegar com embarcações acima das montanhas.

A Hidrelétrica de Goupitan, construída no rio Wu, é uma das barragens mais sofisticadas da China e um marco da engenharia moderna.

Com capacidade instalada de 3.000 megawatts, o equivalente ao consumo de energia de milhões de residências, a usina não apenas cumpre um papel vital na geração de eletricidade, mas também transforma radicalmente o modo como embarcações atravessam esse trecho acidentado do território chinês.

Um rio entre montanhas

O rio Wu, afluente do rio Yangtzé, corta uma das áreas mais montanhosas e remotas da China, atravessando desfiladeiros profundos e vales íngremes.

O desafio geográfico da região sempre foi um obstáculo para o transporte fluvial, com corredeiras e desníveis que impediam o tráfego constante de barcos de grande porte.

A construção da barragem de Goupitan, iniciada em 2005 e concluída em 2011, foi concebida não apenas como uma usina hidrelétrica tradicional, mas como um componente estratégico do plano nacional de integração energética e logística.

Um elevador de navios fora do comum

Entre os elementos mais curiosos do complexo hidrelétrico está o elevador de navios.

Trata-se de uma estrutura gigantesca com tecnologia de ponta que permite que embarcações sejam literalmente içadas por mais de 100 metros de altura, superando o desnível causado pelo represamento do rio.

Esse sistema, conhecido como “elevador de navios vertical”, é uma alternativa aos tradicionais sistemas de eclusas.

Ao contrário das comportas múltiplas que exigem tempo e consumo de água para transpor barcos entre diferentes níveis, o elevador de Goupitan realiza a operação de forma rápida e precisa.

Com capacidade para movimentar embarcações de até 500 toneladas, o elevador garante um fluxo contínuo de transporte fluvial, mesmo em áreas montanhosas.

A tecnologia empregada no local se assemelha à utilizada em elevadores industriais de grande porte, mas aplicada em escala inédita para o setor hidroviário.

Energia para o leste

A Hidrelétrica de Goupitan é um dos pilares do projeto “West to East Power Transmission Project” (Projeto de Transmissão de Energia do Oeste para o Leste).

Esse programa governamental tem como objetivo principal levar energia das regiões menos povoadas e com abundância de recursos naturais, como o sudoeste da China, para os grandes centros industriais e urbanos do leste, como Xangai, Cantão e Shenzhen.

A energia gerada pela usina viaja por milhares de quilômetros por linhas de transmissão de ultra-alta tensão, um feito tecnológico que tem transformado a matriz energética do país.

Além de ampliar a oferta de energia limpa, o projeto reduz a dependência do carvão e de outras fontes altamente poluentes.

Impacto regional e integração

A presença da barragem alterou profundamente a dinâmica da região onde foi instalada.

Cidades como Zunyi, no Guizhou, passaram a contar com acesso mais fácil a transporte fluvial, o que impulsionou o comércio local, facilitou a circulação de mercadorias e atraiu investimentos em infraestrutura.

Antes da construção da barragem, muitas dessas comunidades eram isoladas ou dependiam exclusivamente de estradas sinuosas e demoradas.

Com a elevação do nível do rio em determinados trechos, a navegação tornou-se contínua por centenas de quilômetros, ligando áreas antes desconectadas.

Ao mesmo tempo, medidas de compensação e realocação de populações ribeirinhas foram adotadas para mitigar os impactos sociais do projeto.

Segundo autoridades chinesas, milhares de pessoas foram realocadas com subsídios, habitação nova e requalificação profissional.

Obra monumental chinesa une energia limpa e tecnologia extrema para permitir que navios “escalem” montanhas por um elevador colossal no rio Wu.
Obra monumental chinesa une energia limpa e tecnologia extrema para permitir que navios “escalem” montanhas por um elevador colossal no rio Wu.

Engenharia em terreno instável

Construir uma obra dessa magnitude em terreno geologicamente complexo foi um dos maiores desafios enfrentados pelos engenheiros.

A região do curso superior do rio Wu é marcada por solos instáveis, alta umidade, frequentes chuvas torrenciais e risco de deslizamentos.

Para garantir a estabilidade da barragem e a segurança da navegação, uma série de estudos geotécnicos foi realizada ao longo de anos.

Estruturas de reforço nas encostas, sistemas de drenagem avançados e monitoramento sísmico em tempo real foram integrados ao projeto.

Além disso, a própria construção da barragem precisou ser adaptada à topografia, utilizando concreto compactado a rolo (RCC) e técnicas de construção modular que reduzem o tempo de execução sem comprometer a resistência estrutural.

Tecnologia chinesa em destaque

A hidrelétrica de Goupitan também é símbolo do avanço tecnológico da China na construção de obras de grande porte.

Toda a concepção, projeto e execução da barragem foram liderados por empresas e institutos de pesquisa chineses, sem dependência direta de tecnologia estrangeira.

O sistema de elevação de navios, por exemplo, foi desenvolvido localmente, com sensores, motores e estruturas metálicas construídas por companhias do setor naval e aeroespacial do país.

Para os especialistas em engenharia, o projeto é uma demonstração da capacidade da China em integrar soluções energéticas, logísticas e ambientais de forma eficaz.

Curiosidades que impressionam

  • O reservatório de Goupitan cobre uma área de mais de 50 km² e armazena bilhões de metros cúbicos de água.
  • O elevador de navios tem altura equivalente a um prédio de 30 andares e é um dos maiores do mundo.
  • A construção envolveu mais de 20 mil trabalhadores diretos ao longo de seis anos.
  • Sensores em tempo real monitoram os níveis de água, vibrações estruturais e movimentações de terra 24 horas por dia.
  • Durante a execução do projeto, mais de 10 mil pessoas foram reassentadas, com programas de apoio coordenados pelo governo chinês.
  • Desde que entrou em operação, o sistema de navegação permitiu uma economia significativa no transporte de cargas agrícolas e industriais entre províncias do interior e os grandes centros costeiros.

Com uma mistura de ousadia técnica, planejamento estratégico e respeito às condições ambientais e geológicas locais, para especialistas, a Hidrelétrica de Goupitan se tornou um símbolo do que é possível alcançar com engenharia de alto nível.

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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