Ciro Possobom afirma que trazer carros da China “seria mais fácil”, mas gerar empregos e investir no Brasil é prioridade
Em meio às discussões sobre tarifas de importação e a ofensiva chinesa no setor automotivo brasileiro, o CEO da Volkswagen do Brasil, Ciro Possobom, fez uma defesa enfática da produção local. Em entrevista ao Brazil Journal, ele afirmou que, embora a montadora tenha 39 fábricas na China, a empresa optou por continuar fabricando carros no Brasil, mesmo com a possibilidade de importar veículos prontos ou semimontados com isenção fiscal.
A fala ocorre após o governo federal anunciar, no final de julho, a concessão temporária de cotas de importação com alíquota zero para veículos elétricos prontos ou SKD (semidesmontados), em resposta a um pleito da montadora BYD. Embora o pedido original de redução tarifária tenha sido parcialmente negado, o gesto acendeu alertas nas grandes fabricantes instaladas no país, que temem um desmonte da cadeia produtiva nacional.
“Produzir aqui é mais do que vender carro”
Possobom, que assinou junto a outros executivos uma carta enviada ao presidente Lula, defende que montar carros no Brasil é parte de uma estratégia econômica, tecnológica e social. Segundo ele, só em 2025, a Volkswagen deve gastar R$ 26,3 bilhões em peças automotivas nacionais, movimentando milhares de empregos diretos e indiretos em diversas regiões do país.
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“Um automóvel é composto, em média, por mais de 3.000 componentes. Quando produzimos aqui, geramos riqueza aqui”, disse o executivo.
O novo Volkswagen Tera, lançado recentemente, exemplifica essa lógica: tem 85% de índice de nacionalização e gerou 2.860 empregos (260 diretos e 2.600 indiretos) na fábrica de Taubaté (SP). Possobom alerta que, ao incentivar apenas a montagem de veículos importados com peças estrangeiras, o Brasil corre o risco de desarticular toda uma cadeia de valor construída ao longo de décadas.
Impactos nos investimentos e na previsibilidade
A Volkswagen está investindo R$ 20 bilhões na América do Sul até 2028, sendo R$ 16 bilhões destinados exclusivamente ao Brasil. Para o CEO, medidas unilaterais que favorecem importadores e alteram o cenário regulatório sem diálogo geram insegurança jurídica e dificultam negociações com a matriz alemã.
“Fica difícil explicar para a matriz que as regras mudaram no meio do jogo”, afirmou.
Na visão dele, concorrência é bem-vinda, desde que exista isonomia. A crítica à BYD e outras montadoras chinesas não é pelo avanço tecnológico ou comercial, mas sim pela assimetria de incentivos.
“Temos 39 fábricas na China mas queremos fazer no Brasil”
Possobom admitiu que seria “mais barato, vantajoso e simples” importar carros chineses e revendê-los no Brasil. No entanto, defende que a missão da Volkswagen é fomentar a economia local, criar empregos qualificados e promover inovação dentro do país.
“Não se trata apenas de guerra comercial. É sobre decidir onde queremos gerar valor de fato.”
A Volkswagen do Brasil responde por 11% da produção global do grupo e é o terceiro maior mercado mundial em volume de vendas da empresa. A decisão de seguir investindo localmente, mesmo diante da pressão internacional, é vista como estratégica para a companhia e, segundo Possobom, também para o futuro do Brasil como polo industrial automotivo.
O incentivo à produção local fortalece a indústria ou encarece os veículos? A entrada de carros chineses com isenção é oportunidade ou ameaça? Deixe sua opinião nos comentários , queremos ouvir quem realmente vive o setor de perto.
Correto a fala do CEO essa coisa da China significa que o Brasil será o depósito de lixo de baixa tecnologia com viés político de ideologia. FORA CHINA, aqui não.
O que vejo, é que quase sempre uma lei de incentivo à produção, comercialização ou qualquer investimento, seja em âmbito federal, estadual ou municipal, tende a levar para casos específicos sem levar em conta um leque maior de possibilidades ou consequências. Ou seja, nesse caso específico para a BYD,seria melhor gerar incentivo à versus imposto,conforme o nível de produção, nacionalização e geração de empregos, por exemplo.
Análise muito interessante. As políticas de incentivo, muitas vezes, pecam por serem muito focadas e pouco abrangentes. Sua proposta de atrelar os incentivos a métricas claras, como nível de produção, nacionalização e geração de empregos, é a forma mais eficaz de garantir que o benefício fiscal se traduza em desenvolvimento econômico real para o país, e não apenas em uma vantagem competitiva para uma única empresa.