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Hábito ou armadilha? Quase metade dos brasileiros usa cartão toda semana e 69% parcelam compras

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 15/08/2025 às 12:35
Hábito ou armadilha? Quase metade dos brasileiros usa cartão toda semana e 69% parcelam compras
Foto: Hábito ou armadilha? Quase metade dos brasileiros usa cartão toda semana e 69% parcelam compras
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Pesquisa revela que 69% dos brasileiros parcelam compras e 42% usam o cartão toda semana. Entenda os riscos e as mudanças no hábito de consumo.

O cartão de crédito deixou de ser apenas uma ferramenta de pagamento para compras maiores e passou a ocupar um espaço central no orçamento das famílias brasileiras. Segundo pesquisa recente da Fiserv, 69,3% dos consumidores no Brasil parcelam suas compras e 41,7% utilizam o cartão pelo menos uma vez por semana, revelando um nível de dependência cada vez maior dessa modalidade.

O dado não surpreende quando se observa o cenário econômico: inflação acumulada nos últimos anos, custo de vida elevado e dificuldade para manter o poder de compra têm feito do cartão de crédito uma extensão da renda mensal.

Parcelamento como padrão de consumo

O hábito de parcelar compras se consolidou no Brasil a ponto de ser visto como algo “natural” para a maioria dos consumidores. Entre os que usam o cartão, quase 7 em cada 10 optam por dividir o valor de suas compras, mesmo em casos de itens de baixo valor.

Especialistas em finanças pessoais apontam que o parcelamento, quando usado de forma planejada, pode ser uma ferramenta útil para organizar o orçamento.

No entanto, a frequência e o número de parcelas assumidos simultaneamente aumentam o risco de perda de controle sobre as finanças, especialmente quando a fatura do mês já chega comprometida por compras passadas.

Uso semanal do cartão de crédito revela mudança de comportamento

Outro ponto de destaque da pesquisa é que 41,7% dos brasileiros utilizam o cartão semanalmente — e não apenas para compras de alto valor. Hoje, é comum encontrar consumidores usando o crédito para despesas recorrentes como supermercado, farmácia e até contas de serviços básicos, como energia e internet.

Esse comportamento é impulsionado por programas de cashback, acúmulo de pontos e a conveniência dos pagamentos digitais, mas também reflete um cenário de aperto financeiro, no qual o consumidor “empurra” despesas para o próximo mês como forma de manter algum fluxo de caixa imediato.

Os riscos por trás da conveniência

Apesar da praticidade, a dependência crescente do cartão de crédito traz riscos significativos. O principal deles é o crédito rotativo, acionado quando o consumidor não paga o valor total da fatura. Com juros que podem ultrapassar 450% ao ano nos bancos tradicionais, o rotativo transforma dívidas pequenas em valores impagáveis em poucos meses.

A utilização frequente do parcelamento também reduz a margem para gastos imprevistos, já que compromete o limite e parte da renda futura. Assim, qualquer imprevisto financeiro pode levar rapidamente à inadimplência.

O peso da inadimplência e os dados preocupantes

A Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) aponta que o cartão de crédito lidera o ranking das dívidas entre inadimplentes no Brasil: 85% dos consumidores com nome negativado têm pendências ligadas a faturas atrasadas.

O problema não é restrito às camadas de menor renda. A pesquisa revela que famílias de classe média também recorrem ao cartão com frequência, muitas vezes como solução para manter o padrão de consumo diante da perda de poder aquisitivo.

Motivos para a alta dependência do cartão de crédito

Vários fatores explicam a consolidação do cartão como forma principal de pagamento no Brasil:

  • Facilidade de acesso: fintechs e bancos oferecem aprovação rápida e, muitas vezes, sem comprovação rigorosa de renda.
  • Programas de recompensa: pontos, milhas e cashback incentivam o uso constante.
  • Digitalização dos pagamentos: compras por aproximação e integração com carteiras digitais aumentam a praticidade.
  • Pressão no orçamento familiar: com preços altos, o cartão funciona como “válvula de escape” para despesas não planejadas.

Como reduzir riscos no uso frequente

Especialistas recomendam práticas simples para evitar que o cartão se transforme em um problema:

  • Sempre pagar o valor total da fatura até o vencimento.
  • Limitar o número de parcelas e evitar o acúmulo de compromissos futuros.
  • Usar o crédito apenas para compras planejadas e emergências reais.
  • Revisar periodicamente o limite disponível para evitar surpresas no orçamento.

O alerta para o futuro do consumo

O crescimento da dependência do cartão de crédito levanta questões importantes para o futuro do consumo no Brasil. De um lado, ele garante acesso imediato a bens e serviços, além de oferecer segurança e benefícios que outros meios não proporcionam. De outro, a facilidade de uso e a alta taxa de juros criam um cenário propício ao endividamento em massa.

Enquanto os números mostram que a maioria dos brasileiros já não vê o cartão apenas como um complemento, mas como parte essencial do orçamento, o risco é que essa dependência continue a crescer, agravando a inadimplência e limitando a capacidade de consumo no médio prazo.

A pergunta que fica é: será que o país caminha para um modelo de consumo cada vez mais baseado em crédito fácil e caro, ou haverá espaço para uma mudança de hábitos e maior planejamento financeiro?

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Valdemar Medeiros

Formado em Jornalismo e Marketing, é autor de mais de 20 mil artigos que já alcançaram milhões de leitores no Brasil e no exterior. Já escreveu para marcas e veículos como 99, Natura, O Boticário, CPG – Click Petróleo e Gás, Agência Raccon e outros. Especialista em Indústria Automotiva, Tecnologia, Carreiras (empregabilidade e cursos), Economia e outros temas. Contato e sugestões de pauta: valdemarmedeiros4@gmail.com. Não aceitamos currículos!

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