Banco Central prepara novo modelo de crédito imobiliário para 2026 usando recursos da poupança. Medida pode reduzir juros e facilitar compra da casa própria.
No Brasil, a casa própria sempre foi um dos maiores sonhos da população. Mas, ao mesmo tempo, conquistar esse objetivo é também um dos maiores desafios. As taxas de juros elevadas, a burocracia e o custo total do financiamento tornam a compra de um imóvel uma realidade distante para milhões de famílias. De acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), apenas em 2024 o mercado imobiliário movimentou mais de R$ 250 bilhões em financiamentos, a maior parte lastreada pela poupança. Mas, mesmo com esses números robustos, a taxa de acesso ainda é restrita.
É nesse cenário que surge a proposta do Banco Central (BC): criar um novo modelo de crédito imobiliário, usando de forma diferente os recursos da poupança, para ampliar o financiamento habitacional com juros mais baixos.
Como funciona hoje o crédito imobiliário
Atualmente, os financiamentos habitacionais no Brasil têm duas principais fontes de recursos:
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Demissões em massa no setor madeireiro brasileiro já passam de 4 mil após tarifaço dos Estados Unidos, afetando exportações e empregos em Santa Catarina
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Receita Federal prevê 250 caminhões por dia na ponte Brasil-Paraguai, parte da Rota Bioceânica, ligando Porto Murtinho ao Mercosul e fortalecendo exportações
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Selic em 15% sufoca indústria brasileira e CNI exige corte urgente dos juros
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Estes fatores explicam por que a economia do Brasil não cresce: juros altos, baixa produtividade e dívida pública de 81% são apenas alguns dos motivos
- Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE): usa o dinheiro que os brasileiros aplicam na caderneta de poupança.
- FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço): voltado principalmente para programas habitacionais populares, como o Minha Casa, Minha Vida.
Por lei, 65% dos depósitos da poupança precisam ser destinados ao crédito imobiliário. O restante fica em compulsórios (reservas obrigatórias) ou é usado livremente pelos bancos.
O novo modelo em discussão pretende mexer nessa lógica, liberando parte dos compulsórios para serem aplicados em financiamentos habitacionais com taxas reduzidas.
O que o Banco Central está propondo
Segundo informações do setor, o Banco Central pretende lançar, em 2026, um período de testes com o novo formato de financiamento. A ideia é simples:
- Usar os recursos que hoje ficam retidos (compulsórios da poupança).
- Canalizar esse dinheiro para crédito imobiliário, aumentando a oferta de financiamentos.
- Reduzir os juros, já que os bancos terão mais liquidez e menos custo de captação.
- Ampliar o acesso de famílias à casa própria, especialmente da classe média, que muitas vezes fica fora dos programas sociais e não consegue arcar com os juros atuais.
A previsão, de acordo com entidades do setor, é que a implantação total ocorra em 2027, caso os testes de 2026 mostrem resultados positivos.
Juros mais baixos: promessa que pode mudar vidas
Um dos pontos mais aguardados é a possibilidade de redução das taxas de juros. Hoje, os financiamentos habitacionais no Brasil giram em torno de 9% a 12% ao ano, dependendo do perfil do cliente e do banco.
Com o novo modelo, há expectativa de que essa taxa caia significativamente, tornando a prestação mensal mais acessível.
Exemplo prático:
- Um imóvel de R$ 300 mil, financiado em 30 anos a 10% ao ano, gera uma prestação inicial de cerca de R$ 2.600.
- Se a taxa cair para 7% ao ano, a prestação cairia para algo em torno de R$ 2.000.
Essa diferença de R$ 600 por mês pode ser decisiva para milhões de famílias que hoje não conseguem assumir o compromisso.
O impacto esperado no mercado imobiliário
O mercado imobiliário vê a proposta com otimismo, mas também com cautela. Construtoras e incorporadoras acreditam que a medida pode aumentar a demanda por imóveis, destravar estoques e aquecer lançamentos.
A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) avalia que o efeito pode ser semelhante ao que ocorreu em 2009, quando mudanças no crédito habitacional impulsionaram uma onda de crescimento no setor.
Por outro lado, especialistas alertam para o risco de desequilíbrios. Usar recursos da poupança de forma diferente pode afetar a remuneração dos bancos e exigir ajustes regulatórios para evitar distorções no sistema financeiro.
Desafios do novo modelo
Apesar do entusiasmo, o projeto enfrenta desafios importantes:
- Definição da parcela dos compulsórios liberados: será 1%, 2% ou mais?
- Garantir sustentabilidade: evitar que a ampliação do crédito leve ao aumento da inadimplência.
- Regulação transparente: o Banco Central terá de criar normas claras para que os bancos não usem os recursos de forma especulativa.
- Compatibilidade com a poupança: como os depósitos da poupança têm liquidez diária, será preciso garantir que os bancos consigam honrar saques mesmo usando parte dos recursos em financiamentos de longo prazo.
O que dizem os especialistas
- Instituições financeiras: defendem cautela, mas veem espaço para maior eficiência no uso da poupança.
- Construtoras: comemoram a possibilidade de ampliar o crédito, o que deve beneficiar diretamente o setor.
- Economistas independentes: apontam que a medida pode ser positiva, desde que acompanhada de mecanismos para evitar bolhas imobiliárias.
O impacto social: acesso à moradia
O déficit habitacional brasileiro ainda é enorme: mais de 5,8 milhões de famílias vivem sem casa própria, segundo dados da Fundação João Pinheiro.
Se o novo modelo realmente reduzir juros e ampliar o crédito, pode se tornar um divisor de águas, permitindo que famílias de baixa e média renda finalmente realizem o sonho da casa própria.
Mais do que um movimento financeiro, a proposta tem potencial de transformar vidas e cidades, estimulando investimentos, geração de empregos e desenvolvimento urbano.
O crédito imobiliário prestes a entrar em uma nova era
O projeto do Banco Central ainda está em fase de estudo e testes, mas já movimenta o mercado e a expectativa de milhões de brasileiros.
Se der certo, a partir de 2027 o país pode ter um modelo de financiamento habitacional mais acessível, com juros menores, prazos melhores e mais famílias conquistando a casa própria.
Trata-se de uma mudança histórica, que pode redefinir o futuro do crédito imobiliário no Brasil e transformar o sonho da moradia em realidade para milhões.