Esta gigantesca usina flutuante resfria o gás natural a -162°C para que ele possa ser transportado, uma tecnologia revolucionária liderada por projetos como a plataforma FLNG Prelude, da Shell.
No mundo da energia, uma das inovações mais complexas e ambiciosas é a plataforma FLNG (Floating Liquefied Natural Gas). Concebida como um “navio-fábrica” autossuficiente, essa estrutura gigantesca realiza em alto-mar um processo que antes só era possível em terra: a liquefação do gás natural.
A solução criada por essa tecnologia é levar a fábrica até as reservas de gás em locais remotos, viabilizando projetos que antes não seriam possíveis devido ao custo de um gasoduto. Ao levar a fábrica até o gás, a plataforma FLNG promete revolucionar o transporte de energia. No entanto, projetos pioneiros, como o da Shell, mostram que a jornada é marcada por desafios técnicos e financeiros monumentais.
O que é uma plataforma FLNG e por que ela é estratégica para o gás remoto?
Uma plataforma FLNG é, em essência, uma usina de processamento de gás natural completa, montada sobre o casco de um navio. Ela integra todas as etapas da cadeia de valor do GNL (Gás Natural Liquefeito) em um único local: extração do fundo do mar, tratamento, liquefação, armazenamento e, por fim, a transferência para navios metaneiros.
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Seu principal propósito é monetizar o chamado “gás retido” (stranded gas). Muitas reservas de gás estão localizadas em áreas tão distantes da costa ou em águas tão profundas que construir um gasoduto para transportá-lo seria economicamente inviável. A plataforma FLNG resolve esse problema ao levar a planta de processamento diretamente para a fonte, eliminando a necessidade de uma infraestrutura fixa e cara.
O processo de -162°C: como o gás é resfriado e liquefeito em alto-mar
O coração tecnológico de uma plataforma FLNG é seu sistema de liquefação. O processo é uma proeza da engenharia criogênica, realizado em etapas:
Extração e Tratamento: o gás é extraído dos poços submarinos e levado para a plataforma. Lá, ele passa por uma fase de “limpeza”, onde impurezas como água, CO₂ e enxofre são removidas.
Liquefação: o gás purificado, agora majoritariamente metano, é resfriado a uma temperatura de -162°C. Para se ter uma ideia, essa temperatura é mais de duas vezes mais fria que a temperatura mais baixa já registrada na Terra, fazendo com que o gás se contraia e se transforme em líquido, reduzindo seu volume em 600 vezes.
Armazenamento e Transbordo: o GNL é então armazenado em tanques criogênicos especiais no casco da plataforma, aguardando a chegada de navios metaneiros para ser transportado para mercados consumidores em todo o mundo.
O Prelude da Shell: a maior estrutura flutuante do mundo e seus desafios operacionais
O exemplo mais emblemático e ambicioso desta tecnologia é a plataforma FLNG Prelude, da Shell. Ancorada na costa da Austrália, ela é a maior estrutura flutuante já construída pelo homem, com 488 metros de comprimento e um deslocamento de 600.000 toneladas.
O projeto, no entanto, é um estudo de caso sobre os riscos da inovação em megaescala. Com um custo final que superou os US$ 17 bilhões, muito acima das estimativas iniciais, o Prelude sofreu com atrasos significativos, e sua instável história operacional, marcada por paralisações crônicas, torna o retorno sobre esse investimento um desafio ainda maior para a empresa.
O alto custo e os riscos da viabilidade do FLNG
A viabilidade de uma plataforma FLNG é uma equação complexa. O investimento inicial é gigantesco, e a rentabilidade depende de uma operação estável e dos preços globais do gás. O caso do Prelude mostrou que, mesmo com acesso a um gás de boa qualidade, as derrapagens no orçamento e as falhas operacionais podem comprometer severamente o retorno financeiro.
A complexidade de compactar uma planta industrial em um navio cria um ambiente de alto risco, onde uma única falha em um sistema, como o de energia, pode paralisar toda a produção por meses. O custo de uma interrupção não planejada pode chegar a bilhões de dólares em receitas perdidas.
O futuro das fábricas de gás no mar
Apesar dos desafios do Prelude, a tecnologia da plataforma FLNG continua a evoluir. A indústria aprendeu com os projetos pioneiros e a tendência agora aponta para soluções de menor escala, mais padronizadas e com menor risco.
Empresas como a Petronas, da Malásia, e a Golar LNG foram pioneiras em modelos mais ágeis. A Petronas já demonstrou a capacidade de reimplantar sua plataforma FLNG de um campo para outro, e a Golar se especializou na conversão de navios metaneiros existentes, um processo mais rápido e barato que construir do zero. A era dos titãs solitários, como o Prelude, parece estar dando lugar a uma nova era de frotas de ‘navios-fábrica’ ágeis, que priorizam a flexibilidade e a segurança financeira em vez da escala monumental.