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Músico tocando Beethoven em uma flauta de osso de 50 mil anos feita por neandertais é algo fascinante e único

Publicado em 22/07/2025 às 17:17
Flauta, Neandertais
Image via the The Archaeology News Network
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Descoberta em caverna eslovena levanta debate: artefato com furos pode ser a flauta mais antiga do mundo — ou apenas um osso roído

Em uma caverna eslovena próxima ao rio Idrijca, arqueólogos encontraram em 1995 um objeto curioso. Era um fragmento de osso, com o tamanho aproximado de um dedo, com quatro perfurações circulares e sinais de que havia sido queimado.

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O artefato estava próximo a uma antiga lareira usada por neandertais. Para Ivan Turk, líder da escavação, não havia dúvida: aquilo era uma flauta — possivelmente o mais antigo instrumento musical já descoberto.

Desde então, o objeto ficou conhecido como a flauta de Divje Babe, nome da caverna onde foi encontrado.

E o que parecia uma descoberta histórica logo se tornou um dos maiores debates da arqueologia moderna. Seria, de fato, uma flauta feita por neandertais? Ou apenas um osso roído por animais?

O artefato que mudou tudo

O osso encontrado pode ter entre 43 mil e 50 mil anos. Se for mesmo um instrumento musical, é anterior às flautas de marfim e ossos de abutre criadas pelo Homo sapiens na Alemanha.

Turk e seus colegas da Academia Eslovena de Ciências e Artes argumentam que os quatro furos foram feitos de forma intencional.

Eles estariam dispostos como em um instrumento de sopro, onde os dedos se posicionam. Além disso, as extremidades do osso teriam sido moldadas e quebradas de maneira que sugerem uso humano.

O musicólogo Bob Fink analisou o objeto e destacou a sequência das notas produzidas. Segundo ele, a flauta permite tocar quatro notas da escala diatônica: dó, ré, mi e fá.

Para Fink, isso indicaria que o criador conhecia relações tonais, algo que exige pensamento abstrato e memória auditiva. “Simplesmente não conseguimos conceber que seja de outra forma”, escreveu ele.

Quando o som vem de um sonho

Anos depois da descoberta, o trompetista esloveno Ljuben Dimkaroski resolveu testar a teoria. Ele recebeu uma réplica de argila da suposta flauta.

Segundo contou, a técnica para tocar o instrumento lhe veio em um sonho. Com treino, conseguiu extrair sons surpreendentes.

Em um curta-metragem, Dimkaroski aparece tocando trechos de canções folclóricas eslovenas, a famosa “Ode à Alegria” de Beethoven e até o “Bolero” de Ravel. Também improvisou sons de animais e outros efeitos para demonstrar a versatilidade da peça.

Junto com Turk, ele publicou um artigo defendendo que o instrumento era prova de habilidade simbólica dos neandertais.

A teoria do osso mordido

Mas a versão da flauta não é aceita por todos. O paleobiólogo alemão Cajus Diedrich fez uma análise do artefato em 2015 e chegou a uma conclusão diferente.

Ele comparou o osso de Divje Babe com materiais encontrados em 15 sítios arqueológicos da Europa.

Para Diedrich, os furos não foram feitos por humanos. Segundo ele, se tratam de marcas de mordidas feitas por hienas da Era do Gelo, que tinham mandíbulas potentes e roíam ossos de filhotes de ursos-das-cavernas.

A arqueóloga April Nowell, da Universidade de Victoria, também apoia essa visão. Para ela, a maioria dos estudiosos da área já considera que o artefato não é uma flauta, e sim um osso roído por carnívoros.

Flauta ou não, o debate continua

Mesmo assim, a discussão está longe de terminar. Os defensores da hipótese da flauta dizem que os furos são regulares e muito bem espaçados para terem sido feitos por acaso.

O Museu Nacional da Eslovênia, onde o artefato está exposto, ainda o apresenta como o mais antigo instrumento musical já conhecido.

A placa de exposição traz a seguinte frase: “A flauta de Divje Babe atesta o fato de que os neandertais eram capazes de uma atividade tão abstrata e singularmente humana como criar música.

Mais do que um instrumento

A polêmica em torno da flauta de Divje Babe vai além do objeto em si. No centro do debate está a imagem que se tem dos neandertais.

Durante muitos anos, eles foram vistos como seres brutos, incapazes de criar arte ou desenvolver cultura.

Essa visão mudou nas últimas décadas. Descobertas arqueológicas mostram que neandertais enterravam seus mortos, produziam ferramentas e até podem ter usado pigmentos para fazer arte.

A flauta, se confirmada, seria uma evidência poderosa de que também faziam música.

Isso levantaria uma nova questão: os neandertais tinham comportamento simbólico, como os primeiros Homo sapiens? Se sim, a diferença entre as espécies pode ter sido menor do que se pensava.

Música perdida no tempo?

Mesmo que o osso tenha sido usado como instrumento por acaso, isso não prova que os neandertais produziam música como parte de sua cultura.

Também é possível que usassem instrumentos feitos de materiais que não resistiram ao tempo, como madeira ou cana. Ou que usassem apenas a voz ou o corpo para criar sons.

Mas, até hoje, nenhum outro instrumento musical foi ligado diretamente aos neandertais. “É possível”, disse April Nowell,mas nenhuma evidência de instrumentos ou comportamento musical foi encontrada ainda.

Com informações de ZME Science.

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Romário Pereira de Carvalho

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