Durante o milagre econômico, governo iniciou projeto para cortar a serra com viadutos e túneis. O viaduto da Serra do Mar Rio-Santos seria ligação direta entre o litoral norte de SP e Cubatão, mas ficou abandonado desde os anos 70.
Se você já ficou preso no trânsito da BR-101, na descida para o litoral norte de São Paulo, talvez nem imagine que uma solução para isso foi projetada há mais de 50 anos — e nunca concluída. Estamos falando do viaduto da Serra do Mar Rio-Santos, parte de um ambicioso projeto iniciado nos anos 1970 que prometia revolucionar a ligação entre Caraguatatuba e Cubatão. A ideia era clara: cruzar a serra com uma sequência de viadutos, túneis e muros de contenção, encurtando drasticamente o tempo de deslocamento e reduzindo os riscos do trajeto sinuoso atual.
O projeto surgiu no auge do “milagre econômico” brasileiro, entre 1968 e 1973, quando o país investia pesado em infraestrutura. A proposta, batizada de “Rio-Cubatão”, era estender a BR-101 de forma direta, cortando a Serra do Mar em vez de contorná-la pelo litoral. Isso tornaria a ligação entre o Sudeste e o Sul do país mais eficiente e rápida, além de impulsionar o turismo e o comércio na região.
Viaduto da Serra do Mar Rio-Santos foi abandonado com metade da obra feita
Na prática, o projeto chegou a sair do papel. As obras começaram em 1974, com participação de grandes construtoras nacionais como Mendes Júnior e Queiróz Galvão. O maior viaduto da Serra do Mar Rio-Santos teria 360 metros de comprimento e 29 metros de altura, atravessando uma das áreas mais críticas da serra entre Caraguatatuba e São Sebastião. No total, o traçado incluía também pequenos viadutos, longos túneis e complexos muros de contenção.
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Mas os planos começaram a desandar com a crise do petróleo de 1973. O aumento dos custos dos materiais, a falta de experiência do DNER (atual DNIT) em projetos desse porte e a pressão por resultados rápidos levaram à paralisação do projeto. Cerca de 50% da obra foi feita, mas em vez de concluir os viadutos, o governo optou por uma rota mais barata: concluir a BR-101 margeando o litoral.
O resultado? Uma das obras de infraestrutura mais promissoras do país virou ruína silenciosa no meio da serra. Parte das estruturas chegou a ser concretada, mas o tempo e o mato tomaram conta. Estima-se que o investimento desperdiçado tenha ultrapassado US$ 150 milhões em valores corrigidos até 2015. Em reais de hoje, esse valor seria ainda mais impactante.
Projeto da Rio-Santos avançou pelo litoral, mas engarrafamentos continuam
A Rio-Santos foi concluída, ainda que em etapas. As obras se estenderam de 1969 até 1975, sem uma grande inauguração oficial. Hoje, ela é considerada essencial para o litoral paulista, mas enfrenta problemas crônicos como trechos estreitos, curvas fechadas e lentidão constante, principalmente nos feriados.
Com o aumento do fluxo turístico, o Governo de São Paulo anunciou em 2024 um projeto de duplicação de 45 km entre Caraguatatuba e Ubatuba, com investimento previsto de R$ 3 bilhões. A obra deve começar no final de 2025 e promete melhorar a segurança e o tempo de viagem. Mas mesmo essa intervenção não resolve o antigo problema que os viadutos pretendiam eliminar: o desafio de transpor a Serra do Mar com rapidez e segurança.
Se tivesse sido concluído, o viaduto da Serra do Mar Rio-Santos mudaria completamente a logística regional, evitando o longo contorno litorâneo que hoje é o único caminho viável. Em termos de engenharia, o projeto foi comparado a grandes obras internacionais, mas acabou entrando para o triste hall das “obras fantasmas” do Brasil.