Venda de jazida para a China reacendeu discussões sobre a soberania mineral do Brasil. A reserva abriga riquezas estratégicas como terras raras, fundamentais para a tecnologia limpa. Especialistas criticam o baixo valor da transação e a falta de políticas para aproveitar os recursos. Qual será o impacto desse acordo no futuro do Brasil?
A venda de uma das maiores minas do Brasil por pouco mais de R$ 2 bilhões acendeu um sinal de alerta para além das fronteiras do país.
Localizada em Presidente Figueiredo, a cerca de 107 quilômetros de Manaus, a mina de Pitinga não é apenas uma área de exploração mineral, mas um verdadeiro tesouro escondido no coração da Amazônia.
No entanto, o que levou o governo chinês a desembolsar milhões por essa mina não é tão óbvio quanto parece, e os interesses estratégicos por trás dessa transação levantam dúvidas sobre o futuro dos recursos naturais brasileiros.
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O que está por trás da venda da mina de Pitinga
A mina de Pitinga, explorada há mais de 40 anos, era administrada pela Mineração Taboca, uma empresa com controle peruano, até sua recente aquisição pela China.
O negócio, que envolveu a compra de 100% da mina por US$ 340 milhões, foi alvo de críticas e teorias sobre os verdadeiros interesses por trás da transação.
Segundo Samuel Hanan, ex-diretor da Paranapanema e ex-vice-governador do Amazonas, o interesse dos chineses vai além do estanho, um dos minerais presentes na mina.
“O verdadeiro tesouro da Pitinga são as terras raras, como ítrio e xenótimo, que possuem aplicações cruciais na indústria tecnológica, especialmente na produção de baterias para carros elétricos e híbridos”, afirmou em entrevista ao programa Manhã de Notícias da TV Tiradentes na segunda-feira (02).
A importância estratégica da mina transcende o urânio, que não pode ser explorado diretamente, pois é um bem da União.
Isso porque, além de ser uma das maiores reservas brasileiras desse minério radioativo, Pitinga abriga cassiterita (estanho), nióbio, tântalo e uma quantidade significativa de terras raras, essenciais para a indústria de alta tecnologia.
O papel das terras raras na indústria global
Terras raras, como ítrio e xenótimo, são minerais cruciais para a fabricação de dispositivos tecnológicos, incluindo baterias recarregáveis, smartphones, turbinas eólicas e painéis solares.
A demanda por esses materiais cresce em ritmo acelerado, acompanhando a transição para uma economia de baixo carbono.
A China, que já domina cerca de 70% da produção global de terras raras, demonstra forte interesse em consolidar sua posição de liderança nesse mercado.
Ao adquirir a mina de Pitinga, o país assegura o acesso a um dos maiores depósitos mundiais desses minerais estratégicos.
Hanan destacou que “o Brasil possui a segunda maior reserva de terras raras do mundo, mas a falta de tecnologia e investimentos internos resultou na entrega desse recurso valioso a empresas estrangeiras.”
Por que o Brasil está perdendo com a venda?
O valor da transação, de aproximadamente R$ 2 bilhões, foi considerado baixo por especialistas.
Hanan observou que, se fosse ajustado pelo potencial estratégico e econômico da mina, o preço seria pelo menos três vezes maior.
Ele também criticou a baixa tributação sobre a mineração no Brasil, que permite a exploração intensiva de recursos naturais sem retorno proporcional para o país.
Para o ex-vice-governador, o governo federal e estadual têm a responsabilidade de assegurar que a exploração desses recursos traga benefícios para a população.
Ele ressaltou: “Mineração não é renovável. Estamos falando de bens finitos e estratégicos. Não basta vender barato, é preciso garantir transparência e arrecadação justa.”
A posição do governo do Amazonas
O governo do Amazonas declarou apoio a investimentos estrangeiros que respeitem leis ambientais e promovam desenvolvimento econômico.
No entanto, especialistas alertam para a necessidade de maior debate sobre os impactos socioeconômicos e ambientais da venda.
Hanan enfatizou que, apesar de a China ser bem-vinda como investidora, é fundamental questionar o verdadeiro objetivo da transação.
“Eles não estão comprando apenas urânio, ou estanho, mas garantindo acesso às terras raras, que são o futuro da indústria tecnológica”, disse.
A crescente disputa por recursos naturais entre potências mundiais coloca o Brasil em uma posição estratégica no cenário global.
Enquanto a China avança para garantir o controle de minerais cruciais para o futuro, o Brasil corre o risco de perder protagonismo devido à falta de políticas públicas que valorizem seus recursos.
E agora?
A venda da mina de Pitinga expõe uma lacuna nas políticas de proteção e aproveitamento dos recursos estratégicos do Brasil.
O país enfrenta o desafio de equilibrar a atração de investimentos estrangeiros com a preservação de seus interesses nacionais.
Com as riquezas minerais indo embora a um preço aparentemente baixo, resta a dúvida: como o Brasil pode garantir que transações como essa tragam benefícios reais para sua economia e população?