EUA aumentam tarifas sobre exportações brasileiras, pressionam economia e consumo interno, enquanto China ganha espaço e reforça dependência comercial
A relação comercial entre Brasil e Estados Unidos entrou em turbulência a partir de abril de 2025. No dia 2, os EUA impuseram tarifas de 10 % sobre produtos brasileiros. Pouco mais de dois meses depois, em 9 de julho, o percentual subiu para 50 %, medida que passou a valer em 6 de agosto de 2025.
A mudança não foi pequena. A taxação alta atingiu setores estratégicos da economia brasileira, como café, carne, têxteis, calçados, frutas e eletrônicos.
Estimativas do J.P. Morgan e de centros de pesquisa indicam que cada aumento de 10 pontos percentuais em tarifas pode reduzir o PIB do Brasil entre 0,2 % e 0,3 %. Com a tarifa no patamar de 50 %, a previsão de retração chega a 1,2 % da atividade econômica.
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Reação brasileira
Para conter os danos, o governo anunciou, em 13 de agosto, o pacote “Soberania-Brasil”. O programa prevê R$ 30 bilhões em linhas de crédito via Fundo Garantidor de Exportações, além de R$ 4,5 bilhões em apoio a pequenas empresas.
Há também desonerações fiscais e compras públicas estratégicas para absorver parte da produção afetada.
O objetivo é dar fôlego aos exportadores, especialmente aos que dependiam fortemente do mercado dos Estados Unidos.
O governo brasileiro aposta que o crédito e os incentivos fiscais possam evitar uma queda brusca na produção e no emprego.
Impactos nos EUA
Se a medida mira proteger a indústria interna americana, ela também provoca efeitos domésticos. Produtos como café, que já ocupam espaço importante na rotina dos consumidores, ficam mais caros. Isso pressiona a inflação e aumenta o custo de vida.
Além disso, setores como o alimentício e as redes de cafeterias afirmam que não conseguem absorver um aumento de 50 % sem repassar parte desse custo aos clientes. A perspectiva é de reajustes visíveis nos preços.
A oportunidade chinesa
No meio dessa disputa, a China aparece como grande beneficiária. Em 2024, o país já liderava a compra de produtos agrícolas brasileiros, respondendo por 73 % da soja exportada, 49 % da celulose, 46 % da carne bovina, 33 % do algodão, 29 % do açúcar, 19 % da carne suína e 11 % do frango.
Com as tarifas impostas pelos EUA, exportadores brasileiros redirecionaram cargas que antes tinham como destino o mercado americano para o chinês. Isso vale para itens como café e carne, que encontram na China uma demanda crescente.
No caso do café, os EUA compram cerca de 8 milhões de sacas brasileiras por ano. Agora, parte significativa dessa quantidade deve ir para o mercado chinês, onde o consumo cresce cerca de 20 % ao ano.
Na soja, a mudança é ainda mais expressiva. Compradores chineses fecharam contratos com o Brasil para cerca de 8 milhões de toneladas em setembro e 4 milhões em outubro.
Esse volume representa quase metade da demanda esperada e enfraquece a posição dos produtores americanos na tradicional temporada de vendas.
Quem perde, quem ganha
O Brasil sente o impacto direto da queda nas exportações para seu segundo maior parceiro comercial. Os EUA, por sua vez, enfrentam aumento de custos, perda de competitividade e inflação mais pressionada.
Enquanto isso, a China aproveita para ampliar sua participação nas importações de produtos brasileiros, consolidando ainda mais a dependência desse fornecimento.
No fim, a tarifa americana, pensada para proteger sua economia, enfraquece tanto o Brasil quanto os próprios EUA, mas fortalece a posição chinesa no comércio global.
As principais fontes consultadas para a elaboração deste artigo foram:
Do jeito que está escrita, a manchete pode dar a entender que o Brasil está ativamente prejudicando os EUA, o que absolutamente não é o caso. O eventual prejuízo aos EUA se deve exclusivamente aos efeitos provocados pelas iniciativas adotadas pelo governo deles mesmos. Acho que todo mundo foi pego meio que “de surpresa” por essas tarifas surpreendentes, que muito mais punem os parceiros comerciais dos EUA do que corrigem eventuais distorções pré-existentes. É uma infeliz demonstração da incapacidade americana de dialogar serenamente com outros países, ao invés de impor à força suas enviesada visão imperialista nas relações mundiais. Espero que corrijam a tempo esse equívoco.
Que assim seja