Sobretaxa de 50% imposta pelo governo Trump impacta setores-chave da economia e força empresas a buscarem alternativas na Europa e Ásia, enquanto Itamaraty busca uma solução diplomática.
Uma sobretaxa de 50% imposta pelos Estados Unidos travou parte significativa das exportações brasileiras, gerando um impasse que o governo Lula tenta reverter em uma negociação crucial nesta quinta-feira (16). De acordo com o portal do G1, apesar de uma recente aproximação entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, os efeitos da medida, que já dura mais de dois meses, continuam a pressionar a economia. A esperança do setor produtivo e do Itamaraty está depositada na reunião entre o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio.
O impacto da barreira tarifária já é uma realidade para a indústria nacional. No Ceará, fábricas foram forçadas a cortar despesas enquanto buscam novos clientes na Europa e na Ásia para escoar a produção. Em Minas Gerais, produtores perderam contratos importantes com os norte-americanos e agora enviam amostras para Noruega e Dubai. O cenário revela a urgência de uma solução e expõe a complexidade de redirecionar fluxos comerciais consolidados, com produtos como lagostas, tradicionalmente vendidas aos EUA, agora estocadas à espera de compradores na China.
O peso das tarifas na balança comercial
Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, superados apenas pela China, mas a relação comercial já se mostrava desfavorável para o lado brasileiro mesmo antes das novas taxas.
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Dados de setembro de 2025 indicam que o Brasil acumulou um déficit de aproximadamente US$ 1,8 bilhão, marcando o nono mês consecutivo de saldo negativo.
A situação se agravou com a queda de 20% nas exportações brasileiras para os EUA, que caíram de US$ 3,23 bilhões em setembro de 2024 para US$ 2,58 bilhões no mesmo mês deste ano, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
Os produtos afetados pela taxação representam cerca de 55% de tudo o que o Brasil vende para os EUA, um montante equivalente a US$ 22 bilhões.
A lista inclui itens de alto valor para a economia, como café, carne, ferro, aço, calçados, máquinas e produtos manufaturados.
Setores estratégicos como siderurgia, madeira e pecuária foram diretamente atingidos, mostrando como a dependência de um único mercado pode se tornar uma grande vulnerabilidade quando as regras mudam de forma abrupta.
Por que é tão difícil encontrar novos mercados?
Redirecionar as exportações brasileiras para outros destinos não é uma tarefa simples, e especialistas apontam que o próprio modelo comercial do Brasil cria obstáculos.
O país segue as políticas do Mercosul, que estabelece uma Tarifa Externa Comum (TEC) considerada alta, com uma média de 12%.
Para comparação, a tarifa média dos EUA antes do aumento era de apenas 3%. Esse perfil mais protecionista, segundo analistas, diminui a competitividade dos produtos brasileiros no exterior, pois as empresas se acostumam a competir apenas no mercado interno.
Segundo Sandra Rios, diretora do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento (Cindes), o alto grau de proteção à produção doméstica dificulta uma maior integração do Brasil ao mercado global.
Além disso, o país possui uma rede limitada de acordos comerciais, o que nos coloca em desvantagem competitiva.
Na prática, a busca por novos parceiros exige um longo processo que envolve estudos de demanda, custos logísticos, adaptação a novas normas tributárias e até diferenças culturais, um desafio ainda maior para pequenas e médias empresas sem estruturas internacionais consolidadas.
A negociação em Washington: BRICS e terras raras na mesa
A reunião desta quinta-feira entre Mauro Vieira e Marco Rubio é vista como a tentativa mais concreta de reverter o cenário.
De acordo com Murillo Oliveira, especialista em comércio exterior, as negociações devem ir além das tarifas e tocar em dois pontos geopolíticos sensíveis: o afastamento do Brasil em relação ao Brics e o acesso a terras raras.
“Trump voltou a citar diretamente o Brics e deixou claro que quer ver o Brasil se distanciando do grupo”, afirma Oliveira, indicando que essa pode ser uma exigência central dos EUA.
O Brasil entra na negociação com uma carta estratégica na manga: o país possui a segunda maior reserva de terras raras do mundo, minerais essenciais para a indústria de semicondutores e de defesa.
Com a China, líder mundial, restringindo suas exportações, os EUA veem o Brasil como um fornecedor vital.
“É provável que os EUA pressionem por algum tipo de favorecimento no acesso aos recursos brasileiros”, explica o especialista.
O resultado da conversa pode depender da capacidade do governo brasileiro de equilibrar seus interesses comerciais e suas alianças geopolíticas.
O que esperar do futuro e o papel da OMC
Embora o Brasil tenha bons argumentos para contestar as sobretaxas na Organização Mundial do Comércio (OMC), especialistas alertam que o processo é lento e o resultado, incerto.
“Mesmo que a decisão favoreça o Brasil, não há garantia de reversão das tarifas”, pontua Stefânia Ladeira, gerente da Saygo Comex.
Para José Roselino, professor da UFSCar, uma disputa na OMC pode levar anos, tornando a negociação diplomática o caminho mais viável no curto prazo.
A expectativa do mercado para o encontro de hoje é de um otimismo moderado. A avaliação geral é que uma reversão completa das tarifas é improvável, mas um acordo parcial pode ser alcançado.
“Acho difícil voltar ao patamar anterior, mas é possível chegar a um meio-termo algo em torno de 25% de tarifa.
É uma estratégia típica de Trump: eleva as tarifas para forçar a contraparte à mesa de negociação“, analisa Murillo Oliveira.
A crise, no entanto, deixa uma lição: o Brasil precisa urgentemente diversificar seus parceiros e promover reformas internas para fortalecer suas exportações brasileiras.
A crise com os EUA expõe uma fragilidade do Brasil ou é apenas um obstáculo passageiro? A solução está em diversificar parceiros ou em ceder às pressões americanas? Compartilhe sua análise nos comentários.