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Sem dinheiro para botijão, famílias no Paquistão transportam gás de cozinha em balões plásticos pelas ruas em um improviso perigoso que virou rotina

Escrito por Felipe Alves da Silva
Publicado em 27/06/2025 às 10:24
Homem transportando gás de cozinha em balão plástico gigante em uma rua de Karachi, no Paquistão
Morador de Karachi transporta gás de cozinha em balão plástico improvisado pelas ruas da cidade
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Sem acesso regular a gás encanado, moradores de Karachi encontraram uma maneira arriscada e criativa de transportar gás de cozinha: inflando enormes balões plásticos em pontos da cidade

Em diversas regiões do Paquistão, especialmente nas áreas mais pobres de Karachi, a escassez de infraestrutura básica obriga a população a buscar soluções alternativas para necessidades cotidianas — incluindo o preparo de alimentos. Uma dessas soluções, ao mesmo tempo genial e assustadora, viralizou na internet: moradores estão usando balões plásticos improvisados para transportar gás de cozinha até suas residências.

O método consiste em capturar o gás diretamente das tubulações de rua, enchendo grandes sacos plásticos que são depois carregados manualmente ou por bicicletas até as casas. A prática chamou a atenção por sua simplicidade e eficiência diante da crise, mas também levantou sérias preocupações de segurança.

Uma gambiarra que virou rotina em bairros inteiros

A cena parece saída de um experimento inusitado: grandes balões transparentes flutuando pelas ruas, levados por moradores que os empurram com cuidado até suas residências. O conteúdo? Gás metano, o mesmo usado em botijões convencionais, coletado de forma clandestina em pontos da rede pública de distribuição.

Esses “balões” são, na verdade, sacos plásticos industriais de grande capacidade. Segundo os moradores, cada carga pode abastecer um fogão doméstico por várias horas, o que os torna uma alternativa temporária viável para quem não consegue adquirir cilindros regulares.

A prática é tão comum que alguns pontos de coleta se tornaram centros informais de “abastecimento”, com filas de moradores aguardando sua vez para encher os sacos. Apesar dos riscos evidentes, a alternativa persiste por ser a única disponível para muitas famílias.

Gás encanado irregular, botijão caro e pobreza estrutural

O motivo dessa solução extrema está na falta de acesso regular ao gás encanado. Embora o Paquistão possua uma rede nacional de distribuição, a infraestrutura é frágil e não alcança grande parte das comunidades urbanas marginalizadas. Para piorar, os botijões convencionais de gás se tornaram caros demais para famílias de baixa renda.

Com a inflação em alta e o desemprego atingindo recordes, o uso criativo dos balões representa uma forma de resistência silenciosa à negligência do Estado. A criatividade do povo paquistanês, no entanto, expõe uma dura realidade: a normalização do improviso em situações que deveriam ser garantidas por políticas públicas básicas.

Autoridades locais têm ciência da prática, mas evitam intervir diretamente, possivelmente por medo de revolta popular ou por pura omissão diante da precariedade social instalada.

Riscos de explosão, intoxicação e acidentes diários

Especialistas alertam que essa técnica é extremamente perigosa. O gás metano é inflamável e pode explodir facilmente em contato com faíscas ou calor. Além disso, o transporte sem qualquer tipo de válvula ou regulação aumenta o risco de vazamentos, podendo causar intoxicação ou acidentes fatais nas residências.

Casos de pequenos incêndios já foram registrados, e embora não haja dados oficiais, o medo ronda os bairros onde a prática se espalhou. A ausência de alternativas seguras, porém, obriga os moradores a continuarem usando o sistema mesmo conscientes dos perigos.

YouTube Video

O canal Tekniq, que registrou em vídeo a prática, mostra que os próprios moradores admitem o risco, mas não veem outra saída.

Soluções simples, problemas complexos

Esse caso do Paquistão expõe um problema global: a forma como países em desenvolvimento muitas vezes obrigam sua população a improvisar soluções para sobrevivência diante da ausência de serviços essenciais. A cena de balões flutuando com gás de cozinha pode parecer curiosa ou até cômica, mas carrega uma tragédia silenciosa por trás.

Em vez de criminalizar ou ridicularizar esses moradores, a situação exige reflexão e ação internacional. O acesso à energia doméstica é um direito básico que, quando negado, pode levar a alternativas perigosas como essa — com riscos reais à vida e à segurança pública.

O que pode parecer uma solução engenhosa revela, na verdade, uma face oculta da pobreza urbana em países como o Paquistão. O transporte de gás por balões plásticos é ao mesmo tempo um símbolo de resiliência e de abandono.

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Felipe Alves da Silva

Profissional com formação militar pelo Exército Brasileiro e experiência em gestão administrativa e logística no setor industrial. Escreve sobre defesa, segurança, geopolítica, indústria automotiva, ciência e tecnologia. Sugestões de pauta: fa06279@gmail.com

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