Estudo prevê reativação de trechos ferroviários estratégicos em Pernambuco, incluindo ligação entre Recife e Caruaru, com foco em mobilidade, economia regional e resgate da tradição histórica sobre trilhos.
A Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) oficializou, em julho de 2025, a realização de dois estudos para reativar e ampliar a malha ferroviária em trechos estratégicos de Pernambuco.
Entre as principais ações, destaca-se a análise para reintrodução do transporte de passageiros entre Recife e Caruaru, cidades conectadas por uma distância de aproximadamente 120 quilômetros.
O objetivo é oferecer uma alternativa eficiente ao transporte rodoviário na BR-232, uma das principais rotas do estado, e fortalecer a mobilidade regional com base em soluções sustentáveis e históricas.
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Transporte sobre trilhos volta à pauta entre Recife e Caruaru
A iniciativa marca uma tentativa de resgatar a tradição do transporte sobre trilhos, que esteve em operação ativa entre as duas cidades até o ano 2000.
Segundo informações da Sudene, o acordo firmado com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) prevê um levantamento detalhado das condições da antiga linha ferroviária, além de avaliar a viabilidade técnica, econômica e ambiental para implantação ou revitalização do trajeto.
Esse estudo representa um passo decisivo para diversificar a matriz de transporte no Nordeste, especialmente diante do crescimento populacional e do aumento no fluxo de veículos na região.
O superintendente da Sudene, Danilo Cabral, destaca que a proposta retoma uma vocação natural da região Nordeste, além de atender demandas atuais de mobilidade urbana e regional.
Ele afirma que, historicamente, o transporte ferroviário entre Recife e Caruaru foi pensado ainda no final do século XIX, tendo desempenhado papel central no desenvolvimento econômico, turístico e social do Agreste e da capital pernambucana.
Para Cabral, a reativação da linha deve impulsionar o setor têxtil, de confecções e o turismo, além de aliviar o trânsito intenso registrado na BR-232, especialmente nos períodos de festas tradicionais, como o São João.
Estudo para transporte de cargas vai ampliar integração logística
Além do trecho voltado ao transporte de passageiros, a Sudene anunciou um segundo estudo com foco na movimentação de cargas.
A proposta envolve a instalação ou modernização de uma ferrovia com cerca de 250 quilômetros, ligando Petrolina a Salgueiro, no Sertão do estado.
Esse novo corredor logístico pretende ampliar o escoamento da produção agrícola, especialmente da fruticultura irrigada no Vale do São Francisco, integrando-a à ferrovia Transnordestina e facilitando o acesso aos portos de Suape (Pernambuco) e Pecém (Ceará).
De acordo com a Sudene, a requalificação desse trecho é vista como estratégica para aumentar a competitividade econômica da região, conectando produtores locais aos principais mercados nacionais e internacionais.
Conforme o cronograma divulgado, a parceria entre Sudene e UFPE para os estudos de viabilidade deve ser formalizada nas próximas semanas.
A expectativa é de que os levantamentos técnicos estejam concluídos e apresentados até o primeiro trimestre de 2026.
Os estudos vão detalhar, entre outros aspectos, se é possível reaproveitar a estrutura ferroviária remanescente ou se será necessária a construção de uma nova linha férrea, considerando os impactos ambientais e sociais envolvidos em cada alternativa.
História do transporte ferroviário no Agreste
O histórico do transporte ferroviário entre Recife e Caruaru remonta ao ano de 1895, quando foi inaugurada a primeira linha de passageiros ligando as duas cidades.
Para vencer os desafios geográficos da Serra das Russas, situada entre os municípios de Pombos, Gravatá e Chã Grande, foram construídos túneis e viadutos que ainda hoje impressionam pela engenharia da época.
Naquele ano, também foram abertas as principais estações, incluindo a estação de Caruaru, que viria a se tornar um símbolo do desenvolvimento da região.
Durante todo o século XX, a ferrovia desempenhou papel fundamental tanto para o transporte de passageiros quanto para o escoamento de mercadorias, como algodão, couro e queijo.
Entre as décadas de 1970 e 1990, o chamado “Trem do Forró” ganhou destaque como atração turística: durante os festejos juninos, turistas embarcavam na composição para participar das festas de São João, curtindo o forró ao longo de todo o trajeto.
Esse uso turístico reforçou a importância cultural e econômica da ferrovia, fortalecendo o turismo regional.
A circulação regular dos trens foi interrompida no ano 2000, diante da priorização do modal rodoviário e da expansão do transporte por ônibus e automóveis.
No entanto, a memória ferroviária permanece viva no imaginário popular e nas iniciativas de preservação do patrimônio.
Em 2010, a estação de Caruaru foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), garantindo sua proteção como bem histórico e cultural.
Desde 2020, a Prefeitura de Caruaru realiza obras para transformar o local em museu a céu aberto, ampliando o potencial turístico e cultural da região.
Transporte ferroviário como alternativa sustentável
Especialistas em mobilidade urbana ressaltam que a reativação da ferrovia pode contribuir significativamente para a redução de emissões de poluentes, além de proporcionar viagens mais rápidas e seguras entre Recife e Caruaru.
O modal ferroviário também tem potencial para gerar emprego, atrair investimentos e fomentar novos polos industriais e logísticos ao longo do trajeto.
O transporte sobre trilhos, segundo técnicos da Sudene e UFPE, pode servir como alternativa sustentável ao transporte rodoviário, desafogando a BR-232 e melhorando a qualidade de vida dos habitantes da região.
Os estudos também incluem uma análise comparativa entre os custos operacionais do transporte ferroviário e rodoviário, além de estimativas sobre o volume de passageiros e mercadorias que podem ser transportados caso a linha seja reativada.
A busca por soluções inovadoras em mobilidade faz parte de uma tendência nacional e internacional, na tentativa de tornar as cidades mais eficientes, conectadas e menos dependentes de combustíveis fósseis.
Perspectivas para a mobilidade no Nordeste
A conclusão dos estudos de viabilidade representa um passo inicial, mas decisivo, para a retomada do transporte ferroviário no Nordeste brasileiro.
A partir dos resultados, Sudene e UFPE deverão apresentar alternativas para implantação do projeto, apontando fontes de financiamento e parcerias necessárias para viabilizar as obras.
A expectativa é de que a reativação do trem entre Recife e Caruaru sirva de modelo para outros corredores ferroviários do país, fortalecendo a infraestrutura logística e ampliando as opções de mobilidade para a população.
A reintrodução do transporte sobre trilhos entre Recife e Caruaru pode revolucionar a mobilidade regional, mas ainda restam desafios logísticos, ambientais e de financiamento a serem superados.
Será que a volta do trem conseguirá transformar a realidade do transporte entre essas cidades e, quem sabe, inspirar outras regiões do Brasil?