Nos últimos anos, a Coreia do Norte manteve suas fronteiras fechadas e impôs medidas sanitárias rigorosas devido à pandemia da Covid-19. No entanto, o cineasta americano Justin Martell conseguiu contornar as restrições e se tornou o primeiro cidadão dos Estados Unidos a visitar o país desde o início da crise sanitária global.
Uma Coreia do Norte ainda presa à pandemia
Enquanto o mundo já retomou a normalidade, a Coreia do Norte continua adotando protocolos de segurança extremos.
De acordo com Martell, que já havia visitado o país diversas vezes antes da proibição imposta pelos EUA em 2017, o uso de máscaras ainda é obrigatório, e há verificação constante da temperatura corporal.
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Muitos pontos turísticos seguem fechados devido ao temor da transmissão do vírus.
O cineasta relata que a paranoia com a Covid-19 continua profundamente enraizada na Coreia do Norte, com teorias conspiratórias sendo disseminadas. “Há um boato de que a Covid-19 entrou no país através de balões enviados da Coreia do Sul”, afirmou Martell.
A reabertura gradual ao turismo
Martell fez parte de uma delegação de operadores de turismo que visitou a Coreia do Norte para planejar a retomada limitada das viagens internacionais ao país.
Após cinco dias explorando as possibilidades de turismo, o grupo retornou à China pela ponte sobre o rio Tumen.
Agora, a próxima etapa é levar pequenos grupos de turistas ocidentais para Rason, uma região remota do país que faz fronteira com a China e a Rússia.
Segundo Rowan Beard, da Young Pioneer Tours, e Gerg Vaczi, da Koryo Tours, turistas da Alemanha, França, Reino Unido, Canadá, Austrália, Macau e Jamaica já reservaram seus lugares para essa experiência inédita após anos de isolamento extremo.
Apesar do otimismo em relação à reabertura, algumas experiências icônicas ainda estão fora do roteiro. Mercados populares seguem fechados, e turistas não podem negociar com moeda local.
No entanto, operadoras de turismo estão em constante negociação com as autoridades norte-coreanas para flexibilizar gradativamente essas restrições.
Passaporte milionário: a estratégia para contornar a proibição dos EUA
Embora a pandemia tenha interrompido as viagens internacionais para a Coreia do Norte, os americanos já estavam proibidos de entrar no país desde 2017.
O governo dos EUA impôs um veto devido à morte do estudante Otto Warmbier, que foi preso na Coreia do Norte e retornou aos Estados Unidos em estado vegetativo.
Determinado a continuar visitando o país, Martell encontrou uma solução engenhosa: obteve a cidadania de São Cristóvão e Névis, um pequeno país caribenho que oferece cidadania por investimento.
Ao fazer uma doação de alto valor para o fundo nacional da ilha, ele conseguiu um segundo passaporte, o que lhe permitiu entrar legalmente na Coreia do Norte sem violar as leis americanas.
“O processo levou cerca de um ano e incluiu uma rigorosa verificação de antecedentes e uma análise financeira detalhada”, explica Martell.
Desde a guerra na Ucrânia, os valores desses programas de cidadania aumentaram significativamente, com alguns passaportes chegando a custar US$ 250 mil.
Turismo vigiado e restrições geopolíticas
Apesar da possibilidade de retorno de turistas ocidentais, a capital Pyongyang segue fechada para esse público.
Atualmente, apenas russos têm permissão para visitar a cidade, um reflexo da crescente aproximação entre Coreia do Norte e Rússia.
A situação política também impacta o tipo de interação que os visitantes podem ter com os norte-coreanos.
Seguranças e guias são cautelosos ao discutir questões internacionais, especialmente a guerra na Ucrânia. “Falamos sobre geopolítica, mas quando o assunto era a Ucrânia, eles mais ouviam do que falavam”, relata Martell.
Experiências e mudanças no turismo norte-coreano
Mesmo com muitas limitações, os operadores de turismo notaram algumas mudanças positivas. Restrições fotográficas, antes extremamente rigorosas, estão mais brandas. “Só fui repreendido uma vez por filmar um guia”, conta Vaczi.
Apesar do controle do governo sobre as atividades dos visitantes, Martell não percebeu hostilidade contra americanos. “Não houve comentários antiamericanos”, afirma.
Em um momento curioso, uma brincadeira entre os guias norte-coreanos mostrou um clima mais descontraído: “Enquanto caminhávamos no Parque Hae’an, algumas crianças correram ao nos ver. Um guia brincou que talvez soubessem que somos imperialistas americanos! Eu respondi: ‘Não, só um!’ e todos riram.”
Outra mudança perceptível foi a menor presença de cartazes anti-EUA em locais públicos. “Tive que pedir específicamente por cartões postais antiamericanos em uma livraria, porque não estavam mais à mostra.”
Conexão através da cultura
Para Martell, o mais marcante da visita foram os momentos de interação humana. “As crianças não ligavam para política”, reflete. “Elas queriam saber sobre música, esportes e como era a vida nos EUA. Mais do que qualquer coisa, queriam conexão.”
Com a reabertura gradual da Coreia do Norte para o turismo ocidental, ainda há muitas incertezas. No entanto, a visita de Martell marca um novo capítulo nas viagens ao país, onde o desejo de entender e se conectar com uma das nações mais fechadas do mundo continua vivo.