Com 5G, IA e softwares exportados para Europa e EUA, complexo em Goiana se tornou referência global e transformou a economia do Nordeste.
O que antes era uma paisagem dominada por canaviais em Pernambuco, hoje abriga um dos complexos automotivos mais avançados do planeta. A fábrica mais moderna da Stellantis no mundo, localizada em Goiana (PE), não apenas atinge a impressionante marca de mil veículos produzidos por dia, mas também se consolidou como um polo de inovação que inverte o fluxo tradicional de tecnologia. Softwares desenvolvidos no Recife, a poucos quilômetros da linha de montagem, são hoje o “cérebro” de carros vendidos nos exigentes mercados da Europa e dos Estados Unidos.
Este ecossistema industrial, que completou uma década de operação, é um exemplo prático da Indústria 4.0, combinando uma rede 5G privada, inteligência artificial para controle de qualidade e um modelo de produção flexível que fabrica cinco modelos diferentes de três marcas distintas na mesma linha. Mais do que montar carros, o polo pernambucano se tornou um motor de transformação socioeconômica e um ativo estratégico para o futuro da eletrificação da Stellantis no Brasil, garantido por um novo ciclo de investimentos de R$ 13 bilhões.
O motor da Indústria 4.0: como a tecnologia redefiniu a produção
A designação de fábrica mais moderna da Stellantis não é um exagero. Desde sua concepção, o Polo Automotivo de Goiana foi projetado sob o conceito de Manufatura 4.0, onde a integração entre sistemas digitais, robótica e capital humano atinge máxima eficiência. Segundo a Folha de Pernambuco, um dos diferenciais mais notáveis é a implementação pioneira de uma rede 5G privada, em parceria com a TIM e a Accenture. Essa infraestrutura de alta velocidade e baixa latência é a espinha dorsal que permite o funcionamento de tecnologias avançadas em tempo real, servindo como um verdadeiro laboratório para o futuro da produção industrial.
-
Zeekr 001: elétrico ganha versão com bateria gigante e carregamento ultra rápido que demora apenas 10 minutos
-
Com motor turbo de 190 cv, tração 4×4 e porta-malas de 522 L, SUV topo da Honda surpreende ao custar menos que VW Tera High novo; conheça o Honda CR-V
-
Novo Honda WR-V 2026 chega ao Brasil em 17 de outubro com motor 1.5 flex, câmbio CVT e porta-malas gigante de 458 litros
-
Motor de 41 cv, torque de 37 nm e embreagem deslizante: Shineray SBM 400s 2026 estreia no Brasil com visual agressivo e LED completo
Na prática, essa tecnologia se traduz em um controle de qualidade antes inimaginável. Câmeras de alta resolução, conectadas via 5G, transmitem imagens para sistemas de inteligência artificial que validam a montagem de componentes com precisão milimétrica. Um exemplo citado pela Folha de Pernambuco é a verificação de emblemas: com mais de cem variações de modelos, o sistema de visão computacional identifica e confirma instantaneamente se o emblema correto foi aplicado, eliminando virtualmente a margem para erro humano. Além disso, a virtualização de processos permite que mais de 2.000 horas de simulações digitais sejam realizadas antes de qualquer mudança física na linha, otimizando custos e tempo.
Do Nordeste para o mundo: a exportação de inteligência brasileira
Talvez a faceta mais surpreendente do sucesso do complexo pernambucano seja sua capacidade de exportar tecnologia de alto valor agregado. Conforme detalhado pelo portal Movimento Econômico, essa exportação não se trata de máquinas, mas de propriedade intelectual. No Recife, opera o Stellantis Software Center, um centro de excelência que desenvolve 80% de todo o software de propulsão para os motores a combustão da empresa em nível global. Isso significa que o código que gerencia o motor e a transmissão de veículos vendidos nos Estados Unidos e na Europa é criado por engenheiros brasileiros.
Este fato representa uma inversão histórica no fluxo de conhecimento, onde a subsidiária brasileira não apenas adapta, mas cria tecnologia fundamental para a matriz. Veículos icônicos como o Jeep Grand Cherokee e modelos da Alfa Romeo rodam com mais de cinco milhões de linhas de código desenvolvidas em Pernambuco, conforme aponta o Movimento Econômico. O centro agora expande suas competências para o desenvolvimento de softwares para veículos eletrificados, posicionando a região como um pilar ainda mais crucial para o futuro tecnológico da Stellantis.
O impacto econômico: de canaviais a um polo industrial bilionário
A chegada da Stellantis redefiniu a estrutura econômica de Pernambuco. Segundo dados da Abra Jeep, a participação do município de Goiana no Produto Interno Bruto (PIB) estadual saltou de 1% para 4,8% após a instalação da fábrica. O complexo gera mais de 14.700 empregos diretos e é responsável por uma cadeia que sustenta mais de 60.000 postos de trabalho, com mais de 90% da mão de obra sendo da região Nordeste. A indústria, que antes tinha uma participação mínima, hoje responde por 48% do PIB local.
Essa transformação foi possível graças ao conceito de “Polo Automotivo”, que integrou desde o início um parque de fornecedores (Supplier Park) ao redor da fábrica principal. A estratégia, essencial para mitigar os altos custos logísticos da região, atraiu 38 empresas fornecedoras para Pernambuco, com a meta de chegar a 100 até 2030. Esse ecossistema localizado não apenas garante a eficiência da operação just-in-time, como também amplifica o desenvolvimento econômico, criando uma cadeia produtiva robusta e autossuficiente no coração do Nordeste.
O futuro é Bio-Hybrid: R$ 13 bilhões para a próxima década
Olhando para o futuro, a Stellantis aposta ainda mais alto no sucesso de Goiana. A empresa anunciou um novo ciclo de investimentos de R$ 13 bilhões para o período de 2025 a 2030, destinado à modernização, desenvolvimento de novas tecnologias e lançamento de seis novos modelos. A informação, repercutida pela Abra Jeep, destaca que este é um dos maiores investimentos recentes na indústria automotiva nacional e posiciona a planta como protagonista na estratégia de descarbonização da companhia.
O pilar dessa nova fase será a tecnologia Bio-Hybrid. A partir de 2026, Goiana iniciará a produção de veículos que combinam sistemas de eletrificação, como o híbrido-leve (MHEV), com motores flex otimizados para o etanol. Essa abordagem é uma rota de eletrificação pragmática e adaptada à realidade brasileira, aproveitando o potencial do biocombustível para reduzir emissões de carbono de forma escalável. Com a preparação para adotar novas plataformas globais, como a STLA Medium, a fábrica mais moderna da Stellantis está pronta para liderar a próxima revolução da indústria automotiva no Brasil.
A trajetória do Polo Automotivo de Goiana demonstra que a combinação de investimento estratégico, inovação tecnológica e capital humano qualificado pode criar um centro de excelência industrial em qualquer lugar do mundo. Mais do que uma linha de montagem eficiente, a planta se consolidou como um ecossistema que gera riqueza, conhecimento e redefine o papel do Brasil na cadeia automotiva global.
Você concorda com essa mudança? Acha que isso impacta o mercado? Deixe sua opinião nos comentários, queremos ouvir quem vive isso na prática.