Preço e câmbio levam usinas reduzirem produção de etanol e fabricarem mais açúcar – que teve remuneração bem maior
Usinas de etanol de cana no centro-sul do Brasil viram sua produção despencar devido às restrições de circulação causada pela crise do coronavírus e recorreram a produção de açúcar. Fique sabendo, a Venda direta do etanol das usinas vai estimular concorrência e frear o aumento no preço da gasolina nos postos de combustíveis
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A safra 2020/21 de moagem de cana atingiu 605,4 milhões de toneladas (o terceiro maior volume dos últimos dez anos), o que representa 2,56% mais que as 590,36 milhões de toneladas da safra 2019/20. O total de usinas em operação até esta semana deve chegar a 170, ante as 180 do mesmo período do ano passado.
Alta na exportação e bons preços da cana aumenta produção de açúcar
Com preços da cana mais atrativos, uma parcela maior do insumo foi destinada a fabricar açúcar, cuja produção atingiu 38,46 milhões de toneladas. Já o volume de etanol foi de 30,37 bilhões de litros, incluindo o anidro (que é misturado à gasolina antes de chegar aos postos), o hidratado (vendido diretamente nos postos) e o combustível proveniente do milho —que chegou a 2,57 bilhões. Na safra passada, a oferta foi de 33,25 bilhões de litros, recorde histórico do setor.
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Apesar da maior parte da cana (53,9%) seguir para a produção de etanol e os outros 46,07% ser utilizado para fabricar açúcar, a diferença caiu em relação à safra passada, e atingiu o menor percentual dos últimos 23 anos.
“A questão do câmbio e a precificação fizeram com que o açúcar tivesse remuneração bem superior à do etanol, mas o etanol também não foi ruim. Enfrentamos um ano difícil, mas a safra foi recorde, nunca tivemos a quantidade de oferta de produtos como nesta safra em relação a ATR [Açúcares Totais Recuperáveis], além de quase duas toneladas de cana a mais por hectare”, afirmou Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar).
A safra alcançou 144,72 quilos de ATR por tonelada de cana, ante os 138,57 quilos da safra 2019/20, o que representa 4,44% a mais e a maior da história.
O preço de referência para a tonelada de cana no Consecana (Conselho de Produtores de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Etanol do Estado de São Paulo), por exemplo, está superior a R$ 110. “Ninguém pode reclamar da precificação. Tanto açúcar quanto etanol, para ter bom preço de cana, preciso de bons preços de açúcar e etanol”, disse.
Forte aumento nas exportações de etanol hidratado
Houve, ainda, forte aumento nas exportações de etanol hidratado, de 137%, para ser usado com fins não carburantes —como álcool 70% ou álcool em gel, no combate à pandemia do novo coronavírus. Para o mercado interno, a venda de etanol com fins não carburantes subiu 30%.
“De forma geral, se houve redução por conta da mobilidade tanto de gasolina como de anidro e hidratado, houve compensações com esses novos segmentos, o que fez com que a safra acabasse em equilíbrio entre oferta e demanda.”
Usinas e fornecedores de cana travam queda de braço pela divisão das receitas dos créditos de carbono do programa federal RenovaBio
Usinas de etanol e fornecedores de cana duelam pela divisão das receitas dos créditos de carbono do programa federal RenovaBio, os Créditos de Descarbonização (CBios). Apesar do programa que está em vigor há um ano, obrigar as distribuidoras a comprarem os CBios dos produtores de biocombustíveis, as regras de divisão dessa receita fica a cargo dos agentes privados, que não entram em consenso.
A Organização de Associações dos Produtores de Cana do Brasil (Orplana) reivindica que seja pago aos agricultores 100% dos CBios gerados a partir do etanol feito da cana, haja visto que, se as usinas deixarem de processar a cana do fornecedor, a produção de etanol elegível do programa também diminui, o que reduz em igual proporção a capacidade das usinas de emitir CBios.