O primeiro túnel submerso do Brasil promete mais mobilidade para a região, mas traz impactos ambientais graves. Com o desmatamento de manguezais e áreas protegidas da Mata Atlântica, o projeto ameaça a vida marinha e compromete a qualidade do ar e da água, preocupando especialistas e moradores locais.
O projeto do primeiro túnel submerso do Brasil, previsto para ligar as cidades de Santos e Guarujá, desperta muita curiosidade e esperança para melhorar a mobilidade local.
Mas por trás dessa grande obra de infraestrutura, que promete ser uma solução para o trânsito na região, há um preço ambiental e social que preocupa especialistas e moradores.
Os impactos vão desde o desmatamento de áreas protegidas da Mata Atlântica até o risco de contaminação de águas costeiras, ameaçando a vida marinha e até o turismo.
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Impacto ambiental e desmatamento
Conforme detalhado no Relatório de Impacto Ambiental (Rima) elaborado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) a pedido do Governo do Estado, a construção do túnel prevê o desmatamento de 105 mil metros quadrados de Mata Atlântica, incluindo manguezais e vegetação de restinga em diferentes estágios de preservação.
Esse número equivale a aproximadamente dez campos de futebol e inclui 44 mil metros quadrados de mangue, que serão aterrados, incluindo áreas dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) da Serra de Santo Amaro.
Nesse local, será necessário desmatar 3.640 metros quadrados de mangue, o que preocupa ambientalistas pela importância desses ecossistemas para a biodiversidade e a proteção costeira.
O Diário do Litoral destaca que, além da remoção de vegetação nativa, a obra pode afetar a alimentação das tartarugas-verdes (Chelonia mydas), principalmente os animais jovens, que dependem da disponibilidade de algas.
O risco aumenta à medida que o projeto avança e pode prejudicar a sustentabilidade de várias espécies marinhas da região.
Risco para a vida marinha
Além do impacto sobre a vegetação, a obra trará sérias implicações para a fauna marinha.
De acordo com a FIPE, a construção aumentará a turbidez da água no Estuário devido à dragagem do assoalho marinho, que suspenderá sedimentos contaminados, incluindo metais pesados despejados por indústrias de Cubatão ao longo de décadas.
Esse movimento coloca em risco a balneabilidade das praias de Santos e a saúde dos animais que habitam a região.
O aumento da turbidez, segundo o Diário do Litoral, também eleva o risco de colisões de botos, golfinhos e baleias com embarcações, uma vez que a visibilidade reduzida dificulta a navegação segura desses animais.
Para os turistas e moradores locais, o projeto apresenta uma ameaça indireta ao ecoturismo, pois o contato com a vida marinha e a preservação ambiental são atrativos da região.
Túnel e os problemas de poluição e poeira
Outro ponto de preocupação destacado no Rima são os níveis de poluição do ar e da água que podem aumentar com a construção.
O documento explica que a obra gerará uma quantidade significativa de poeira suspensa em função das escavações, demolições e transporte de materiais.
Além disso, o uso de asfalto e misturas químicas para pavimentação das vias de acesso aumentará a emissão de dióxido de nitrogênio (NO2) e dióxido de enxofre (SO2), poluentes que afetam diretamente a qualidade do ar em Santos e no Guarujá.
O Diário do Litoral aponta que o barulho e as vibrações das máquinas poderão ser sentidos nas proximidades do local de construção, impactando a tranquilidade e qualidade de vida dos moradores dos bairros próximos.
A FIPE alerta ainda que esses ruídos podem causar recalque nos imóveis lindeiros, gerando prejuízos estruturais e preocupações para a população local.
Contaminação do lençol freático
A FIPE alerta para o risco de contaminação do lençol freático da região, um problema que pode ter efeitos de longo prazo para o meio ambiente e a saúde pública.
De acordo com o relatório, os sedimentos removidos durante o processo de dragagem e instalação dos módulos de concreto do túnel contêm materiais pesados que podem penetrar no solo e comprometer a qualidade da água subterrânea.
A possibilidade de contaminação do lençol freático é um aspecto que a Cetesb, órgão responsável pelo licenciamento ambiental, terá de monitorar com rigor ao longo da obra.
Segundo o Diário do Litoral, esse risco é motivo de atenção não apenas para os órgãos de proteção ambiental, mas também para a população que utiliza a água subterrânea para consumo doméstico.
Interrupção das atividades portuárias
Durante as etapas de construção, o tráfego no Canal do Estuário será parcialmente interditado.
O projeto do túnel prevê a instalação de módulos celulares e reaterro para garantir a segurança da estrutura.
No entanto, essa interrupção temporária pode afetar a logística portuária, exigindo que cargas sejam redirecionadas para outros portos do Sudeste e Sul do Brasil.
Segundo o Diário do Litoral, essa redistribuição pode gerar custos extras para empresas e interferir na rotina de trabalho do porto de Santos, um dos mais movimentados do país.
Futuro da obra e análises em andamento
O Relatório de Impacto Ambiental elaborado pela FIPE reúne nove especialistas, entre engenheiros, biólogos, sociólogos e geólogos.
O documento segue em análise pela Cetesb, que realiza consultas públicas e recebe contribuições para avaliar as condições ambientais da obra.
Em nota, a Secretaria de Estado de Parcerias em Investimentos afirmou que “os estudos de impacto ambiental relacionados ao Túnel Santos-Guarujá estão sendo analisados pela Cetesb no âmbito da consulta pública, com base nas contribuições recebidas nas audiências e nas atualizações recentes do projeto”.
Diante das controvérsias e preocupações ambientais, o túnel Santos-Guarujá levanta a questão: até que ponto vale sacrificar recursos naturais e comprometer a vida marinha e a saúde da população para garantir melhorias na infraestrutura?
Quais outras alternativas poderiam atender às necessidades de mobilidade da região sem comprometer o ecossistema?