A menor oferta de matérias-primas e alta demanda global puxarão os preços do petróleo, urânio, cobre e alumínio para cima
A economia verde já é uma realidade, e países em todo o mundo vêm tentando reduzir os riscos ambientais e a escassez ecológica, visando o desenvolvimento sustentável sem degradar o meio ambiente. Porém, por mais paradoxal que isso possa parecer, essa “econimia verde” deve fazer disparar o preço de várias commodities, como o petróleo, urânio, cobre e alumínio, afirma Ruy Alves, gestor da Kinea Asset.
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A economia verde está intimamente relacionada com a economia ecológica, mas tem um enfoque mais aplicado politicamente. Essa foi a tônica do Coffee & Stocks feita ontem (28/05) com Ruy Alves, gestor macro global da Kinea (veja o papo completo no vídeo abaixo).
O assunto é longe de ser trivial, inclusive a Kinea publicou uma carta de 9 páginas, nesta semana, explicando como matérias-primas como petróleo, urânio, alumínio e cobre podem ver seus preços subirem.
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O motivo não é o mesmo para todas as matérias-primas, mas, se fosse resumir em uma frase, poderíamos dizer que: a oferta não deve crescer (seja porque ninguém quer investir em novos projetos, seja por questões ambientais) e a demanda continuará firme ou até crescente, mesmo naquelas commodities nada amigáveis em termos ambientais.
Veja, abaixo, os efeitos de uma economia verde nos preços do petróleo, cobre, alumínio e urânio entre outros, de acordo com Ruy Alves, gestor da Kinea Asset
Indo para 2005, durante a gestão de George W. Bush, os Estados Unidos iniciaram sua versão do campo dos sonhos: um novo projeto de energia renovável, com a utilização de etanol extraído do milho para ser misturado na gasolina, gerando, assim, uma fonte de energia renovável e neutra na emissão de carbono na atmosfera.
O efeito da decisão foi o subsequente aumento do preço do milho de ¢200/bushel, em 2005, para ¢800/bushel, em 2011. Tal efeito afetou não somente o preço do milho: o grão compete por área com diversas outras culturas, principalmente com a soja. O processo levou a um aumento generalizado de preços agrícolas, afetando, também, o preço da carne bovina subsequentemente, uma vez que o boi não só compete por espaço de pasto com o milho, mas também se alimenta dele.
Podemos dizer que, atualmente, o mundo está realizando um processo semelhante aos Estados Unidos em 2005, mas, agora em múltiplas frentes e em escala global. “Nosso desejo de reduzir emissões de carbono, poluição e mover para uma economia ESG ( a sigla representa a mudança nos impactos sociais de empresas) é nobre em seus intuitos, mas também deve cobrar seu custo, que se refletirá em diversas commodities ao longo dos próximos anos.”
Esses efeitos vão desde a maior demanda por aplicações “verdes”, como é o caso do cobre em eletrificação, passando também pela redução de oferta de outras commodities por questões ambientais, como é o caso do alumínio, e chegando a problemas potenciais na oferta de outras commodities, por estarmos desencorajando investimentos, como é o caso do petróleo.
Cobre – forte demanda verde com limitada capacidade de oferta
A transição para uma matriz energética renovável não se resume unicamente à geração de energia, mas também compreende sua transmissão e armazenamento. Ocorre que, para a transmissão de energia, nenhum metal é mais eficiente que o cobre.
Se vamos transformar nossa matriz energética de combustíveis fósseis para renováveis, toda a malha de transmissão terá que ser repensada. As fazendas de energia eólica e solar previstas necessitam de malha de distribuição e os carros elétricos demandam enorme quantidade do metal em comparação com veículos tradicionais.
Alumínio – questões ambientais restringindo a oferta
De acordo com Ruy Alves, o alumínio reflete um problema distinto do cobre: sua produção demanda enorme quantidade de energia elétrica. O Alumínio é produzido através da bauxita como matéria-prima, um dos metais mais abundantes na crosta terrestre. Entretanto, pela quantidade de energia demandada, o metal pode ser considerado como “eletricidade condensada”. Sua produção, no ocidente, é realizada em regiões com abundância de oferta de energia barata: por exemplo, nos casos do Brasil e da Noruega, dois dos principais produtores, essa produção se encontra próxima à usinas hidrelétricas.
O problema para o metal é que o principal produtor, a China, responsável por mais da metade da produção global, é um país que possui sua matriz energética baseada em carvão, fonte de maior emissão de carbono na atmosfera.
Petróleo – o risco de desprezarmos a energia que sustenta nossa sociedade
O petróleo tem sido o principal vilão das emissões de carbono dentro do contexto de aquecimento global ao longo das últimas décadas. Não há um dia em que líderes globais não figurem na imprensa, apresentando uma visão negativa sobre a commodity. Fundos de investimento hoje ativados desencorajam investimentos no setor e a própria agência internacional do petróleo chegou a sugerir que investimentos no setor teriam que cessar para cumprir as metas definidas de emissão de carbono.
Entretanto, o petróleo é muito importante para a humanidade. Mais de 70% da energia que move os Estados Unidos, a maior economia do mundo, advém de fontes fósseis.
Na prática, a decisão de migrarmos do petróleo deve fazer com que gastemos mais do PIB global com geração de energia, e menos com os benefícios dessa geração. Um EROEI de 10x, por exemplo, faria com que o percentual do PIB global, atribuído à geração de energia, passasse de 3% para 10%. Em outras palavras, teremos, provavelmente, que pagar mais caro pela energia que consumimos. Um efeito semelhante ao que aconteceu com o preço do milho, citado acima.
Urânio – a única fonte escalável de eletricidade de base livre de carbono
Energias renováveis, como a eólica e a solar, sofrem de um sério problema: intermitência. Não podemos esperar que o vento ou dias de sol sejam constantes. Como a tecnologia de baterias não nos permite armazenamento de energia elétrica para uso futuro, temos necessidade de fontes limpas de energia que possam ser usadas como eletricidade de base (baseload). Existem duas fontes limpas possíveis para esse papel: hidroelétrica e nuclear.
Ocorre que a energia hidroelétrica também apresenta sérios problemas ambientais. Um deles é como praticamente todas as áreas mais óbvias do planeta já foram exploradas para geração desse tipo de energia, novas áreas, quando existentes, implicam a criação de enormes reservatórios que têm profundas implicações ambientais. Nesse contexto, a energia nuclear se apresenta como a única alternativa escalável para a geração de energia de base e livre de carbono.
Kinea ressalta o comprometido com a formação de uma sociedade responsável do ponto de vista ambiental e defende as iniciativas por um mundo mais limpo, com menos carbono e com melhores práticas de governança corporativa.
Entretanto, o ponto que Kinea levanta no seu artigo é que existem sim custos que a sociedade e investidores devem estar atentos durante esse período de transição. A economia verde demandará recursos em áreas que hoje não somos capazes ainda de prover a oferta. Isso acarretará movimentos em preços de commodities que podem se tornar relevantes e como investidores devemos estar atentos.
por- Kinea