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Quando o preço do ouro evaporou na bolsa: O maior comprador de ouro do mundo mudou de estratégia pela primeira vez e fez despencar o preço do metal precioso mais desejado do planeta

Escrito por Flavia Marinho
Publicado em 30/06/2024 às 16:14
Atualizado em 01/07/2024 às 12:47
ouro - reservas - dólar - Estados Unidos - china - bolsa de valores
Somente no primeiro trimestre do ano, a China atingiu recordes de compras, com um total acumulado de 2.063 toneladas. O Banco Central da China vinha acumulando reservas desde novembro de 2022, a ponto de se tornar o maior comprador de ouro do mundo.

Somente no primeiro trimestre do ano, a China atingiu recordes de compras, com um total acumulado de 2.063 toneladas. O Banco Central da China vinha acumulando reservas desde novembro de 2022, a ponto de se tornar o maior comprador de ouro do mundo.

O preço do ouro despencou na bolsa de valores! Pela primeira vez em 18 meses, o Banco Central da China não adquiriu ouro em maio, o que impactou negativamente no preço do metal precioso, que caiu 2,7%, atingindo aproximadamente US$ 2.311 por onça.

Desde novembro de 2022, a China vinha acumulando reservas, superando outros bancos centrais, como o da Índia, tornando-se o maior comprador de ouro do mundo.

China estocando ouro

Aquisições chinesas atingiram recordes durante o primeiro trimestre do ano, com total acumulado de 2.063 toneladas

“Minha impressão inicial é que a China, um importante impulsionador da alta do ouro no ano passado, não terminou de comprar ouro”, afirmou Ole Hansen, chefe de Estratégia de Commodities no Saxo Bank. Segundo Hansen, a pausa indica uma resistência em pagar preços recordes.

De acordo com o Conselho Mundial do Ouro, as aquisições chinesas atingiram recordes durante o primeiro trimestre do ano. E, no final de maio, o total acumulado era de 72,80 milhões de onças troy (2.063 toneladas).

Para Nicholas Frappell, chefe global de Mercados Institucionais na ABC Refinery, a reação inicial dos preços “parece um pouco técnica”. “Seria surpreendente que o anúncio representasse mais do que uma pausa na tendência geral da demanda atual do setor oficial”, acrescentou.

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Embora no quinto mês do ano não tenha havido mudanças no balanço de ouro da China, a demanda recente foi impulsionada pela necessidade do país de diversificar suas reservas e se proteger contra a desvalorização de sua moeda.

Por que a China aumentou a reserva em ouro e o que isso tem a ver com juros nos EUA?

Há duas razões principais: a crescente preocupação com os juros e a dívida dos EUA, que já atingiu US$ 34 trilhões, além do risco de sanções econômicas devido às incertezas geopolíticas. Essa é a análise de Gilberto Cardoso, CEO da Tarraco Commodities e membro do Fórum Brasil Export.

“A China está apreensiva com o nível da dívida americana. Então, ela adota uma estratégia dupla: aumenta suas reservas de ouro físico e vende títulos do Tesouro dos EUA. Ela busca um ativo físico que oferece proteção contra a inflação e, ao mesmo tempo, reduz sua exposição aos títulos da dívida americana. A dívida e os juros americanos entraram em uma espiral perigosa e a China quer se proteger. É uma questão de diversificação de riscos”, explica.

Além disso, Cardoso destaca que os chineses temem novas sanções econômicas que possam prejudicar seu crescimento. “A China enfrenta o risco de sanções econômicas. O dólar se tornou uma arma americana, um instrumento financeiro, e isso preocupa a China. Todos os países do BRICs estão tentando reduzir sua dependência do dólar”, acrescenta.

Há também uma razão mais simples para a diversificação. “A China é um dos países que mais investe em dólares. É natural que busque diversificar em outras moedas, incluindo sua própria, o Yuan. Investir em ouro é uma escolha natural para um país tão exposto ao dólar. Nunca é prudente colocar todos os ovos na mesma cesta. A diversificação é essencial ao investir”, afirma Paulo Roberto Feldmann, professor de pós-graduação em economia internacional na Faculdade de Administração, Economia e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP).

Segundo Feldmann, o ouro tende a se valorizar durante crises econômicas. “Por outro lado, o valor do ouro pode cair abruptamente. A longo prazo, não é um investimento tão seguro. Portanto, investir em ouro é delicado. É necessário escolher bem o momento e estar seguro de que haverá uma crise que desvalorize as moedas e o petróleo, fazendo com que as pessoas busquem refúgio no ouro. Mas isso é raro. Não recomendaria investir em ouro, pois é preciso estar muito atento ao que pode acontecer a curto prazo”, conclui.

Não é só a China…

Rússia e EUA também mantêm uma grande parte de suas reservas em ouro. Por ser um ativo seguro e politicamente neutro, ele oferece proteção contra a inflação, sanções e até apreensões, conforme apontou Gita Gopinath, diretora adjunta do FMI, durante um evento em Stanford.

“A porcentagem de ouro nas reservas cambiais do bloco chinês tem aumentado desde 2015 – uma tendência que não é exclusiva da China e da Rússia. É importante notar que, durante o mesmo período, a participação do ouro nas reservas cambiais dos países do bloco dos EUA permaneceu globalmente estável”, explica Gopinath.

A tendência entre os bancos centrais, segundo um estudo do FMI, indica que a compra de ouro é motivada por preocupações com o risco de sanções econômicas. “Os gestores de reservas cambiais tendem a aumentar suas participações em ouro para se proteger contra a incerteza econômica e geopolítica, incluindo o risco de sanções.”

… e o futuro?

Para Cardoso, há outra motivação no horizonte chinês para o aumento das reservas de ouro. Ele sugere olhar para o passado para entender o futuro. O Acordo de Bretton Woods, firmado em 1944 entre os países vencedores da Segunda Guerra Mundial, estabeleceu regras para o sistema monetário internacional. Uma dessas regras foi a proibição de lastrear a moeda em ouro, suspensa em 1971 pelo presidente dos EUA, Richard Nixon. O que isso tem a ver com a China agora?

“No futuro, a China planeja ter uma moeda digital lastreada em ouro. Isso é um retorno ao período anterior ao pós-guerra. Ela teme que a base monetária americana perca o controle devido ao endividamento, resultando em uma inflação global sem precedentes. Como deseja manter o controle de sua moeda e desindexá-la do dólar, a China compõe suas reservas com ouro físico. Ela compra ouro no mercado internacional e armazena. É uma reserva de valor que não se perde com o tempo”, observa Cardoso.

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Flavia Marinho

Flavia Marinho é Engenheira pós-graduada, com vasta experiência na indústria de construção naval onshore e offshore. Nos últimos anos, tem se dedicado a escrever artigos para sites de notícias nas áreas da indústria, petróleo e gás, energia, construção naval, geopolítica, empregos e cursos. Entre em contato para sugestão de pauta, divulgação de vagas de emprego ou proposta de publicidade em nosso portal.

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