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Pré-sal, Stabroek e Vaca Muerta: os três projetos que vão transformar a América do Sul na região com maior crescimento de petróleo do mundo

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 31/08/2025 às 17:16
América do Sul lidera crescimento global de petróleo até 2030, com Brasil, Guiana e Argentina puxando expansão em grandes projetos.
América do Sul lidera crescimento global de petróleo até 2030, com Brasil, Guiana e Argentina puxando expansão em grandes projetos.
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A produção de petróleo na América do Sul deve registrar a maior expansão mundial até 2030, puxada pelo Brasil, Guiana e Argentina, em projetos de águas profundas e formações rochosas, mudando o equilíbrio energético global.

A produção de petróleo na América do Sul avança em ritmo acelerado e tende a liderar o crescimento global nos próximos anos.

Projeções indicam aumento de cerca de 30% entre 2024 e 2030, impulsionado sobretudo pelo pré-sal brasileiro, pelo bloco Stabroek, na Guiana, e por Vaca Muerta, na Argentina.

A expansão supera, em termos percentuais, o avanço previsto para o Oriente Médio e os Estados Unidos, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA) e consultorias do setor.

Com essa tração, a região deve subir de uma produção próxima a 7,4 milhões para quase 9,6 milhões de barris por dia, compensando o declínio de campos maduros.

Brasil e o avanço do pré-sal

O Brasil, maior produtor da região, consolidou novos recordes neste ano.

Em junho, segundo a ANP, o país extraiu em média quase 5 milhões de barris de petróleo e gás natural por dia, somando o volume de óleo e gás.

O eixo da expansão está no pré-sal, camada geológica sob espessas rochas de sal que concentra reservas de alta produtividade em águas ultraprofundas.

Esse conjunto de ativos tem atraído investimentos contínuos, com projetos de larga escala e plataformas de última geração.

Além do potencial volumétrico, executivos e analistas destacam ganhos de eficiência com poços de elevada vazão.

Para a Rystad Energy, aproximadamente metade do crescimento sul-americano até 2030 virá do subsolo marítimo, reforçando o papel das bacias brasileiras como motores de oferta global.

A produtividade dos campos tem sustentado custos competitivos, fator decisivo diante de ciclos de preço do barril.

Guiana acelera com o bloco Stabroek

Ao norte do subcontinente, a Guiana vive um boom desde 2015, quando descobertas em águas profundas colocaram o país no mapa das grandes províncias petrolíferas.

No bloco Stabroek, um consórcio liderado pela ExxonMobil opera em uma das áreas de mais alta relevância no mercado atual.

As projeções apontam que a produção deverá duplicar até 2030, alavancando receitas para um país de pouco mais de 800 mil habitantes.

Especialistas avaliam que o desempenho do Stabroek consolidou a América do Sul como a principal região de produção em águas profundas no mundo.

Como sintetizou Flávio Menten, da Rystad, “A América do Sul é a maior região produtora em águas profundas marinhas a nível mundial”.

A perspectiva inclui ainda o avanço do Suriname, cuja contribuição deve se somar às novas fases da Guiana na segunda metade da década.

Vaca Muerta amplia presença na Argentina

Longe do mar, Vaca Muerta representa a aposta argentina no petróleo e gás não convencionais.

Trata-se de uma formação rochosa na Bacia de Neuquén, cujo desenvolvimento depende de fraturamento hidráulico para liberar hidrocarbonetos aprisionados.

A província de Neuquén registrou em julho seu maior nível histórico de produção de óleo, com alta interanual de 28%, marco que ilustra a curva de aprendizado e a adoção de técnicas de perfuração e completação mais eficientes.

O potencial é expressivo, mas o cronograma de crescimento depende da ampliação de dutos, terminais e escoamento.

A professora María Cristina Pacino, da Universidade Nacional de Rosário, observa que a velocidade da expansão “dependerá do investimento em infraestrutura”, condição essencial para levar o volume incremental aos mercados.

Está previsto para o fim de 2026 o início de operação de um oleoduto de mais de 400 quilômetros, ligando Vaca Muerta a um terminal no Atlântico, etapa considerada decisiva para elevar exportações e dar escala ao projeto.

Projeções de crescimento até 2030

Estimativas de McKinsey Energy Solutions sinalizam que, mantidos preços próximos aos atuais, a produção sul-americana pode crescer até 35% até o fim da década.

Isso implicaria avanço médio anual entre 4% e 5%, ante algo perto de 1% por ano no agregado mundial.

Mesmo assim, o Oriente Médio seguirá como maior polo produtor em números absolutos, com cerca de 35 milhões de barris por dia em 2030, frente a algo ao redor de 10 milhões na América do Sul.

A diferença estará no ritmo de expansão.

Na carteira de campos, o Brasil concentra projetos de classe mundial em águas profundas.

Búzios, Mero, Sépia e Atapu figuram entre os maiores do planeta em produtividade e escala.

Na Guiana, as etapas adicionais do Stabroek sustentam a duplicação até 2030.

Na Argentina, as autoridades e a estatal YPF trabalham para elevar Vaca Muerta a 1 milhão de barris/dia no horizonte da década.

Do lado brasileiro, a Petrobras direciona recursos para novas unidades no campo de Búzios, reforçando a capacidade instalada e o perfil exportador do país.

Desafios da expansão petrolífera

Embora o quadro seja favorável, há desafios para manter o ímpeto depois de 2030.

Consultorias como a Wood Mackenzie ressaltam que a região combina alta produtividade com baixa intensidade de carbono por barril em muitos projetos de águas profundas, atributo valorizado por grandes companhias.

Ainda assim, a continuidade do ciclo depende da descoberta de novas jazidas e da renovação da carteira.

Sem novas fronteiras, o declínio natural de campos maduros tende a reduzir a oferta. No caso argentino, o fator crítico é infraestrutura.

Sem dutos, terminais e soluções de transporte compatíveis com o salto de produção, o escoamento se torna gargalo.

Em paralelo, países como Colômbia, Equador e Venezuela devem registrar redução de volumes, o que reforça a importância dos polos em ascensão para compensar recuos.

Transição energética e críticas ambientais

O avanço da produção tem sido alvo de críticas de cientistas e ambientalistas, que cobram aceleração dos investimentos em energias renováveis para conter o aquecimento global.

Às vésperas da COP30, prevista para novembro, o governo brasileiro argumenta que receitas do petróleo podem financiar a transição.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que “é dessa riqueza que a gente vai ter dinheiro para construir a sonhada transição energética”.

Críticos veem contradição nesse desenho e defendem metas mais agressivas para fontes como eólica, solar e hidrogênio verde.

Do ponto de vista da segurança de suprimento, especialistas lembram que, sem a entrada de novos campos à medida que reservas atuais se aproximam do pico, o mundo pode enfrentar aperto de oferta após 2030.

Nesse cenário, a dependência de grandes produtores da Opep cresceria, com impactos sobre preços e volatilidade.

A América do Sul surge, portanto, como alternativa competitiva em custo por barril e com janelas de investimento hoje consideradas mais atrativas do que parte das bacias de xisto nos Estados Unidos, já em fase de maturação.

Enquanto empresas privadas e estatais reforçam apostas, a pergunta que se impõe é se o continente conseguirá conciliar expansão petrolífera, exigências climáticas e estabilidade regulatória para sustentar o crescimento até — e além de — 2030.

Quais decisões tomadas agora vão definir o quanto a América do Sul aproveitará essa janela sem comprometer seus compromissos ambientais?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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