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População de jumentos no Brasil cai 94% e pode desaparecer até 2030 — China é principal responsável

Publicado em 26/06/2025 às 08:56
Jumentos, Brasil, China, Extinção, Abates
Ativistas e advogados, no centro de Brasília, em ato contra o abate de jumentos no centro de Brasília – Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Demanda por colágeno da China acelera abates no Brasil; especialistas alertam que jumentos podem desaparecer do país antes de 2030

A população de jumentos no Brasil sofreu uma queda drástica nas últimas décadas. De acordo com estimativas da Frente Nacional de Defesa dos Jumentos, mais de um milhão de animais foram abatidos entre 1996 e 2025. O número total de jumentos caiu de 1,37 milhão para pouco mais de 78 mil. Isso representa uma redução de 94%.

Esse declínio está diretamente ligado à demanda da China por colágeno encontrado logo abaixo da pele dos jumentos. O produto, chamado ejiao, é usado na medicina tradicional chinesa.

A substância não tem eficácia comprovada, mas é comercializada com promessas de tratar diversos problemas de saúde, de anemia a impotência sexual.

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Pressão crescente sobre os jumentos

No Brasil, três frigoríficos possuem licença do Serviço de Inspeção Federal (SIF) para abater jumentos. Todos ficam na Bahia.

No entanto, pesquisadores e defensores da causa animal afirmam que o processo não é rastreado. Não há controle sobre doenças nem garantia de que os animais não estão sendo maltratados.

O professor Pierre Barnabé Escodro, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), é um dos nomes à frente da mobilização pela conservação da espécie. Ele afirma, segundo noticiou a BBC Brasil, que, mantido o ritmo atual de abates, os jumentos “não chegariam a 2030” no Brasil.

Segundo Escodro, “produzir jumento para abate não é rentável, é extrativismo mesmo“. Os animais são abatidos em velocidade maior do que conseguem se reproduzir. Isso tem colocado a espécie em risco de extinção.

Evento nacional discute alternativas

A partir desta quinta-feira (26), cientistas e especialistas se reúnem em Maceió (AL) para o evento Jumentos do Brasil.

A conferência chega à sua terceira edição com cerca de 150 participantes, incluindo pesquisadores de outros países. O encontro busca discutir soluções para frear a extinção dos jumentos no Brasil.

Escodro afirma que o risco à espécie não é exclusividade brasileira. “O jumento está em risco de extinção em vários países. No Egito ele praticamente não existe mais“, diz. Por isso, a luta pela conservação dos animais se tornou global.

A polêmica sobre o projeto de lei

Em 2022, foi apresentado no Congresso Nacional o projeto de lei 1.973, que proíbe o abate de jumentos em todo o território brasileiro.

A proposta, no entanto, segue parada. Na Bahia, um projeto semelhante tramitou na Assembleia Legislativa. Em abril deste ano, o deputado Paulo Câmara (PSDB), relator do texto, emitiu parecer contrário.

Segundo o parlamentar, a atividade de abate é regulamentada, tem importância econômica e não há “necessidade de proibir essa prática, mas sim fortalecer a fiscalização“. Ele também declarou que a população de jumentos estaria “estável e equilibrada“, o que foi contestado por cientistas e ativistas.

Após a publicação do parecer, grupos de conservação divulgaram uma nota de repúdio. A reportagem procurou a assessoria do deputado, que reiterou, por nota, que o parecer foi “embasado em critérios técnicos, legais e econômicos“, negando negligência com o bem-estar animal.

Indícios de maus-tratos e saúde precária

Um estudo publicado em maio na revista científica Animals, assinado por Escodro e outros cinco pesquisadores, apontou sinais de falhas no cuidado com os animais.

A análise foi feita em 104 jumentos abandonados e destinados ao abate. Os resultados indicaram inflamação sistêmica, um indicativo de sofrimento e descuido grave com os bichos.

Casos como esse reforçaram decisões judiciais que, desde 2019, chegaram a suspender temporariamente a permissão de abate, a pedido de entidades de defesa dos direitos dos animais.

Alta no preço e mercado internacional

A alta demanda tem provocado escassez e elevação no preço dos jumentos. Escodro relata que, no interior de Alagoas, animais antes vendidos por R$ 100 ou R$ 150 agora são negociados por R$ 400 a R$ 500. A pele continua sendo o item mais valorizado, chegando a US$ 4 mil a unidade.

Segundo a organização internacional The Donkey Sanctuary, cerca de 5,9 milhões de jumentos são abatidos por ano no mundo para suprir o mercado de ejiao. O setor movimenta aproximadamente US$ 6,38 bilhões.

Um novo estudo da Universidade Maasai Mara, no Quênia, divulgado nesta quarta-feira (25), mostrou o impacto negativo da retirada dos jumentos nas comunidades rurais do país.

As mulheres, principais usuárias desses animais para o transporte e outras tarefas do dia a dia, foram as mais afetadas. A retirada dos jumentos reduziu até a renda familiar.

Santuários e reintegração social dos jumentos

O professor Escodro e outros pesquisadores defendem a criação de estratégias para reintegrar os jumentos na sociedade.

Eles citam usos terapêuticos e retorno à agricultura familiar como opções. Na Europa, segundo ele, há iniciativas nesse sentido.

O grupo também discute a possibilidade de criação de santuários. Áreas como Jericoacoara, no Ceará, concentram cerca de 700 animais em relativa segurança.

Em Santa Quitéria, no interior do Estado, uma fazenda do Detran abriga entre 1,2 mil e 1,3 mil jumentos.

Essas regiões poderiam servir de base para proteger os animais e fortalecer o combate à extinção da espécie.

Mobilização em andamento

Grupos de defesa da causa lançaram o site Fim do Abate como parte da campanha pela aprovação do projeto de lei de 2022.

A expectativa é que o tema ganhe força com o evento desta semana em Alagoas e que o Brasil siga o exemplo da União Africana, que no ano passado aprovou uma moratória de 15 anos para o abate de jumentos com fins comerciais.

Com informações de BBC.

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Paulo
Paulo
27/06/2025 14:45

Reparem na foto acima, que ilustra a matéria.
Curiosamente, somente as mulheres é que estão defendendo os jumentos…
Qual será o motivo?

Romário Pereira de Carvalho

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