O cenário financeiro da Petrobras, uma das maiores empresas brasileiras, tomou um rumo inesperado no segundo trimestre de 2024.
Em um momento em que a maioria esperava uma continuidade nos lucros estratosféricos que a estatal vinha registrando, a companhia chocou o mercado ao divulgar um prejuízo superior a R$ 2,5 bilhões. Mas, surpreendentemente, essa perda não impediu a empresa de anunciar o pagamento de robustos R$ 13 bilhões em dividendos aos seus acionistas.
O que explica essa disparidade? Para entender como uma empresa que registrou um prejuízo bilionário ainda consegue recompensar generosamente seus investidores, é preciso analisar o contexto por trás desses números.
A Petrobras justificou o resultado negativo principalmente por dois fatores: a variação cambial e um acordo tributário massivo firmado com o governo federal. A transação, que envolveu a quitação de dívidas fiscais na ordem de R$ 45 bilhões, teve um impacto significativo no balanço contábil da empresa, mas, conforme destacado pela direção da estatal, esse efeito não comprometeu o caixa da companhia.
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A nova liderança e o primeiro balanço sob Magda Chambriard
O segundo trimestre de 2024 marcou a estreia de Magda Chambriard como presidente da Petrobras. Ela assumiu o posto em meio a uma tempestade de controvérsias, após a demissão de Jean Paul Prates, que saiu em meio a debates intensos sobre a política de dividendos da empresa.
Essa troca de comando gerou expectativas variadas sobre o futuro da Petrobras, e o primeiro balanço financeiro sob a gestão de Chambriard veio para confirmar que o desafio não seria pequeno.
Apesar do prejuízo, a nova liderança destacou a forte geração de caixa da companhia. Segundo Fernando Melgarejo, diretor financeiro da Petrobras, o fluxo de caixa robusto permitiu que a empresa mantivesse seus compromissos com os acionistas, além de realizar investimentos significativos, que totalizaram US$ 3 bilhões no período.
Impactos e justificativas do prejuízo
O prejuízo de R$ 2,605 bilhões divulgado pela Petrobras no segundo trimestre foi o primeiro resultado negativo da empresa desde 2020. Esse desempenho foi drasticamente diferente do lucro de R$ 28,782 bilhões registrado no mesmo período do ano anterior e dos R$ 23,7 bilhões conquistados nos primeiros três meses de 2024. A variação cambial e a adesão a um acordo tributário bilionário são apontadas como as principais razões para essa mudança de cenário.
Em junho, a Petrobras decidiu aderir a um programa de quitação de pendências fiscais e tributárias com a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) e a Receita Federal. Esse acordo, que envolveu montantes que superam os R$ 45 bilhões, visou resolver questões fiscais antigas e, segundo a empresa, trará benefícios a longo prazo. No entanto, os efeitos imediatos desse processo foram sentidos no balanço trimestral, resultando no impacto negativo registrado.
Ainda assim, “sem esses eventos exclusivos, o lucro líquido do segundo trimestre teria alcançado US$ 5,4 bilhões,” afirmou Fernando Melgarejo em um relatório. Ele também ressaltou que o Ebitda ajustado da empresa, que mede o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, teria sido de US$ 12 bilhões, alinhado com os números do trimestre anterior.
Ebitda, receitas de vendas e produção de petróleo
Mesmo com o cenário adverso, a Petrobras apresentou números robustos em algumas áreas. O Ebitda ajustado da companhia alcançou R$ 49,7 bilhões entre abril e junho de 2024, o que representa uma queda de 12,3% em relação ao segundo trimestre de 2023. Em comparação com os primeiros três meses deste ano, o Ebitda sofreu um recuo de 17%, influenciado principalmente por margens menores em diesel e gasolina, além do aumento nas importações.
Apesar disso, a empresa conseguiu compensar parte dessas perdas com o aumento das receitas provenientes das exportações, impulsionadas pela valorização do petróleo tipo Brent. A receita de vendas da Petrobras somou R$ 122,3 bilhões no segundo trimestre, uma alta de 7,4% na comparação anual e um crescimento de 3,9% em relação ao trimestre anterior. Esses resultados demonstram a capacidade da empresa de se adaptar e explorar oportunidades mesmo em um contexto desafiador.
No que diz respeito à produção, a Petrobras também mostrou resiliência. No mês passado, a estatal anunciou que sua produção de petróleo no Brasil cresceu 2,6% entre abril e junho, em comparação com o mesmo período de 2023. Esse aumento foi impulsionado principalmente pela entrada em operação de novas plataformas ao longo do ano passado, que têm contribuído para o aumento da produção.
O pagamento de dividendos: uma política controversa
Mesmo diante de um prejuízo bilionário, a Petrobras optou por seguir com sua política de remuneração aos acionistas. O Conselho de Administração da empresa aprovou o pagamento de R$ 13,57 bilhões em dividendos e juros sobre capital próprio, uma decisão que tem gerado debates intensos sobre as prioridades da estatal.
“O resultado líquido do trimestre deve ser analisado à luz de eventos que impactaram o resultado contábil, mas sem impacto relevante no caixa da empresa,” explicou Fernando Melgarejo. Essa política de dividendos, que já havia sido alvo de críticas no passado, continua a ser um ponto de discussão, especialmente em um momento de dificuldades financeiras.
Os pagamentos serão realizados em duas parcelas: a primeira em 21 de novembro de 2024 e a segunda em 20 de dezembro de 2024. Para os acionistas que possuem ações ordinárias e preferenciais da Petrobras, o valor por ação será de R$ 1,05320017.
Esses valores serão distribuídos de acordo com as regras definidas pela companhia, e os detentores de ADRs (American Depositary Receipts) também receberão suas partes em datas específicas, conforme anunciado pela empresa.
De todo modo, constata-se que a trajetória recente da Petrobras reflete os desafios e as complexidades enfrentadas por grandes corporações, especialmente em setores estratégicos como o de energia.
O prejuízo registrado no segundo trimestre de 2024, combinado com o pagamento de dividendos bilionários, levanta questões sobre a sustentabilidade das políticas financeiras da estatal e a sua capacidade de enfrentar crises futuras. Com a nova liderança de Magda Chambriard, o mercado estará atento aos próximos passos da empresa, especialmente em um cenário de volatilidade econômica e mudanças regulatórias.
Será que a Petrobras conseguirá equilibrar seus compromissos financeiros com os interesses dos acionistas sem comprometer sua saúde financeira a longo prazo? Esse é um questionamento que, sem dúvida, continuará a gerar discussões entre especialistas e investidores nos próximos meses.