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Pesquisadores trabalham para aprimorar um processo que captura CO₂ enquanto trata águas residuais do biodiesel e produz coprodutos valiosos, como combustíveis e produtos químicos verdes

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 24/03/2025 às 19:18
biodiesel
Foto: Reprodução
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Pesquisadores criaram uma solução inovadora que combina biodiesel com o tratamento de águas residuais. A técnica permite capturar carbono da atmosfera e, ao mesmo tempo, gerar compostos químicos valiosos, oferecendo benefícios ambientais e industriais.

O biodiesel é conhecido como uma alternativa mais limpa ao diesel de petróleo. No entanto, seu processo de produção ainda gera resíduos que preocupam ambientalistas e cientistas.

Um novo estudo da Universidade de Michigan traz uma solução promissora: tratar as águas residuais geradas na produção do biodiesel enquanto se captura CO₂ e se produzem compostos valiosos. A pesquisa busca unir sustentabilidade, inovação e economia em um só processo.

Como o biodiesel gera resíduos e CO₂

O biodiesel é feito a partir de óleos vegetais, gorduras animais ou até mesmo gordura de restaurantes. Esse material passa por um processo chamado transesterificação.

Nessa etapa, um álcool, geralmente o metanol, e um catalisador quebram as moléculas de gordura. O resultado é o biodiesel e um subproduto: o glicerol.

O biodiesel segue para o uso como combustível. Já o glicerol, altamente presente nas águas residuais, pode causar danos ambientais.

Se descartado inadequadamente, ele consome o oxigênio da água e pode sufocar peixes e outros organismos aquáticos.

Essas águas residuais precisam ser tratadas. E os pesquisadores querem ir além do simples tratamento: transformar esse resíduo em algo valioso.

Glicerol: de vilão a aliado no processo

A ideia central do estudo é usar o próprio glicerol para gerar energia e produtos químicos úteis. Isso é feito por meio de uma técnica chamada reação eletroquímica de redox de glicerol (GOR, na sigla em inglês).

Essa reação permite usar o glicerol como fonte de elétrons, reduzindo bastante o consumo de energia — entre 23% e 53% menos, dependendo do catalisador usado.

Diferente de processos anteriores que exigiam água ultra pura e metais preciosos, essa nova abordagem usa catalisadores mais baratos.

Um deles, o níquel, se destacou. Ele não só é acessível e fácil de fabricar, como também consegue produzir compostos valiosos, como o formato, um produto usado na indústria alimentícia e que pode valer até 146 dólares por litro.

Um processo com múltiplos benefícios

Além de transformar o glicerol em produtos químicos, o processo também captura CO₂ — outro subproduto da queima do biodiesel.

Esse CO₂ pode vir diretamente dos gases de exaustão do processo de produção. Com a técnica de redução eletroquímica de CO₂ (eCO₂R), é possível converter esse gás em novas substâncias úteis.

Quando combinadas, as duas reações — GOR e eCO₂R — formam um sistema integrado que:

  • Trata águas residuais
  • Reaproveita CO₂
  • Produz compostos de valor comercial

De acordo com os autores do estudo, isso representa um avanço importante na direção da sustentabilidade industrial.

Desafios com o uso do níquel

Apesar do potencial do catalisador de níquel, a pesquisa revelou um problema: sua estabilidade ao longo do tempo.

Nos testes de laboratório, os cientistas usaram uma versão sintética de água residual com glicerol, metanol, sabão e água.

Esse líquido foi inserido em uma célula de fluxo, com eletrodos de níquel e platina. Durante 24 horas, foi aplicada uma corrente elétrica constante.

No fim do período, a corrente caiu 99,7%. Isso ocorreu porque partículas formadas durante a reação bloquearam o eletrodo de níquel, impedindo o funcionamento adequado.

Ou seja, o níquel funciona bem no início, mas perde a eficiência rapidamente.

Caminhos para o futuro

A boa notícia é que os pesquisadores já estão trabalhando em soluções. Uma delas é implementar cronogramas regulares de limpeza e manutenção dos eletrodos. Assim, será possível manter a eficiência do sistema por mais tempo.

Joshua Jack, um dos autores do estudo, afirma que o método desenvolvido oferece uma nova forma de analisar a estabilidade dos catalisadores.

Os dados obtidos poderão ajudar no desenvolvimento de processos mais robustos, tanto para o tratamento de resíduos quanto para aplicações em outras áreas ambientais.

Kyungho Kim, pesquisador principal, destaca que a combinação das tecnologias permite um gerenciamento mais sustentável dos resíduos e do CO₂. Segundo ele, esse é um passo importante na direção da “química verde”.

Potencial de expansão

A produção de biodiesel está em crescimento. Isso cria uma oportunidade real de aproveitar os fluxos de resíduos que antes eram tratados apenas como problema.

Com processos mais eficientes e estáveis, é possível não só tratar esses resíduos como gerar valor com eles. Produtos como o formato, usados em diversas indústrias, mostram que o lixo de uma etapa pode se transformar em lucro na outra.

Este estudo representa mais do que uma inovação técnica. Ele propõe um novo modelo para o setor de energia limpa, onde resíduos são vistos como recursos.

Ao mesmo tempo, reduz impactos ambientais e aproveita ao máximo os materiais usados na produção.

Ainda há desafios, como melhorar a durabilidade dos catalisadores. Mas o caminho está traçado. E ele aponta para um futuro onde energia limpa e sustentabilidade caminham lado a lado.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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