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Para reduzir a inflação, governo anuncia PEC para redução dos impostos sobre os combustíveis, que custará entre R$ 25 bi a 50 bilhões aos cofres públicos

Escrito por Roberta Souza
Publicado em 09/06/2022 às 10:15
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Foto: Reprodução de IADE-Michoko / Fonte: Pixabay

Governo Bolsonaro considera a utilização de recursos da Eletrobras para possibilitar a diminuição dos impostos sobre os combustíveis

Na última segunda-feira (dia 6), o presidente Jair Bolsonaro divulgou uma proposta de emenda à Constituição (PEC), a fim de tentar baixar os impostos sobre os combustíveis. A medida corresponde a um esforço do governo para aliviar a inflação, tendo em vista a proximidade das eleições e a situação desfavorável do presidente em relação à opinião pública, e, caso aprovada, será válida até o fim do ano.

De acordo com Paulo Guedes – ministro da Economia -, a proposta custará entre R$ 25 bilhões e R$ 50 bilhões aos cofres públicos. Entretanto, este valor não obedecerá às normas do Orçamento, uma vez que ficará fora do teto e da meta fiscal.

Guedes afirmou, ainda, que os recursos da privatização da Eletrobras poderiam ser utilizados visando à efetivação da proposta. Na noite desta segunda-feira, integrantes do governo cogitavam o valor de R$ 40 bilhões para a redução dos impostos.

Entre as iniciativas, que foram apresentadas durante evento no Palácio do Planalto, encontra-se a anulação dos impostos federais (PIS/Cofins e Cide) incidentes sobre a gasolina e o etanol. No entanto, Bolsonaro alertou que isso só será realmente praticado se houver uma diminuição dos tributos estaduais, o que representa um sinal de pressão contra os governadores.

Analistas fazem duras críticas à proposta governamental

Segundo analistas entrevistados pelo GLOBO, a iniciativa não possui sustentação alguma de finanças públicas ou normas orçamentárias, estando relacionada à campanha do presidente rumo à reeleição. Para eles, a medida apenas passa um problema para a frente, haja vista que a redução dos impostos é válida somente até o fim deste ano.

No entanto, apesar do exposto, alguns analistas de mercado enxergam uma possibilidade de atenuação da inflação através da iniciativa. Conforme a professora de macroeconomia da Coppead/UFRJ, Margarida Gutierrez, a proposta é evidentemente fruto do ano eleitoral, porém pode sim baixar o preço do combustível. Gutierrez opina, ainda, que o fato de ela não constituir uma política de preços definitiva é positivo, já que o projeto não sobreviveria a longo prazo.

Wagner Varejão, especialista da Valor Investimentos, concorda também que a medida é potencialmente benéfica a curto prazo, mas não se sustenta depois. O especialista afirma que o governo está se aproveitando de um primeiro trimestre forte para tentar criar uma isenção fiscal, contudo a redução dos preços aumentaria o seu endividamento. Para ele, a sugestão é claramente eleitoreira e, a longo prazo, há a possibilidade de que o país se torne mais arriscado para investidores estrangeiros.

Advogado tributarista declara que a PEC vai de encontro aos princípios da Lei de Responsabilidade Fiscal

O advogado tributarista Fernando Zilveti – professor do Instituto Brasileiro de Direito Tributário (IBDT) – avalia a proposta para diminuição do valor dos combustíveis como contrária aos ideais expostos na Lei de Responsabilidade Fiscal. Para ele, o valor de renúncia fiscal anunciado pelo governo, de R$ 25 bilhões a R$ 50 bilhões, é extremamente impreciso, dada a diferença de 100% entre as quantias.

Ademais, Zilveti considera que o fato de o governo contar com a receita da privatização da Eletrobras é também problemático do ponto de vista das finanças públicas, além de constituir uma quebra do teto absurda. Ele acrescenta que, devido à escassez do diesel em todo o mundo, não há nenhuma garantia de que o produto vá reduzir o seu preço. Sendo assim, o governo pode zerar os impostos, mas o valor do combustível permanecer elevado, uma vez que o problema vai além dos tributos cobrados.

Professora de Economia do Insper classifica a medida como paliativa

Juliana Inhasz, professora de economia do Insper, classificou a proposta governamental como paliativa, adicionando que a medida corresponde, afinal, a um subsídio, cuja conta será cobrada no futuro. Para ela, o governo tem consciência de que deve trabalhar muito para conter a pressão dos caminhoneiros e da população, todavia não é capaz de encontrar uma saída estrutural para a situação conturbada.

Sob esse viés, Sérgio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, observou também que o Poder Público está somente acumulando riscos fiscais para o próximo ano.

O economista Paulo Duarte, por sua vez, analisa que a iniciativa distancia o governo da responsabilidade fiscal, de modo a fragilizar ainda mais o ministro Paulo Guedes. Ele destaca, ainda, que o governo não explicou de onde virão os recursos, mas apenas mencionou uma outorga da Eletrobras, que poderia ser utilizada a fim de reduzir o déficit primário.

Alguns analistas indicam que há possibilidade de sucesso do projeto

O sócio da Fatorial Investimentos, Jansen Costa, disse que, embora não acredite que o projeto seja aprovado pelo Senado, a medida pode, sim, aliviar a inflação. De acordo com o executivo, caso limitem o ICMS dos combustíveis a 17%, o preço nas bombas será sensivelmente reduzido e, por conseguinte, haverá um impacto na precificação dos produtos.

Costa alegou também que a Petrobras necessita realizar o aumento no diesel e, para que isso não atinja os caminhoneiros, é provável que o governo anule os impostos federais antes mesmo que a PEC seja aprovada.

Além do mais, o analista de investimentos da Mirae Asset, Pedro Galdi, também considera que a proposta seja benéfica. Para ele, os governos de todo o mundo devem instituir medidas para frear o preço dos combustíveis e amenizar a inflação global, visto que a guerra na Ucrânia ainda não apresenta um fim anunciado.

Asset explica que o petróleo pode chegar a US$ 150 e, diante deste cenário, o governo é obrigado a encontrar uma saída. Nesse sentido, ele afirma que usar os dividendos da Petrobras é uma boa alternativa, enquanto mudar a política de preços da empresa, por outro lado, seria inconcebível para o analista.

Roberta Souza

Engenheira de Petróleo, pós-graduada em Comissionamento de Unidades Industriais, especialista em Corrosão Industrial. Entre em contato para sugestão de pauta, divulgação de vagas de emprego ou proposta de publicidade em nosso portal. Não recebemos currículos

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