A Microsoft já foi vice-líder no Brasil com o Windows Phone, mas hoje sua presença no mercado de smartphones é praticamente inexistente. O que deu errado na estratégia da gigante da tecnologia?
Durante os anos 2010, a Microsoft tentou desafiar o duopólio entre Android e iOS com o sistema Windows Phone, uma aposta ousada que chegou a conquistar parte significativa do mercado brasileiro. Com design inovador, parceria com a Nokia e uma base fiel de usuários, a plataforma parecia promissora. No entanto, em menos de uma década, foi praticamente abandonada.
O fracasso não foi imediato, mas veio de uma série de decisões estratégicas que, somadas à rápida evolução do setor mobile, colocaram a Microsoft em uma posição difícil.
Hoje, quase dez anos após o lançamento de seu último celular com Windows Phone, a pergunta que ainda intriga o público é: por que a Microsoft desistiu dos smartphones?
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Uma jornada que começou antes dos smartphones modernos
Pouca gente lembra, mas a história da Microsoft no mundo dos dispositivos móveis começou ainda na década de 1990, bem antes dos smartphones como conhecemos hoje.
Em 1996, a empresa lançou o Windows CE, voltado para assistentes pessoais digitais (PDAs).
Esses dispositivos funcionavam como agendas eletrônicas, com algumas funções de computador, mas sem acesso à internet como temos hoje.
Anos depois, o sistema evoluiu para o PocketPC 2000, adotado por marcas como HP, Casio e Toshiba.
A partir de 2003, passou a se chamar Windows Mobile, com versões numeradas — uma estratégia semelhante à que o Android e o iOS adotam atualmente.
No entanto, foi apenas em 2010 que a Microsoft apresentou o Windows Phone 7, sua verdadeira entrada na era dos smartphones.
A interface visual inovadora, conhecida como Metro, trazia ícones em blocos coloridos, fontes grandes e navegação por “hubs” de conteúdo, o que a diferenciava dos concorrentes.
Nokia e Windows Phone: uma parceria promissora que durou pouco
A grande virada da Microsoft aconteceu em 2011, quando a Nokia, enfrentando sérios desafios após o declínio do Symbian, decidiu adotar o Windows Phone como sistema operacional principal.
A linha Lumia estreou com os modelos Lumia 710 e 800 e passou a ganhar destaque no mercado, especialmente no Brasil, onde chegou a ultrapassar a Apple em participação de mercado.
A parceria foi tão significativa que, em 2013, a Microsoft comprou a divisão de celulares da Nokia por US$ 7,2 bilhões.
Com isso, passou a controlar diretamente o desenvolvimento dos aparelhos Lumia e das versões futuras do sistema.
Popularidade não garantiu sobrevivência
Apesar de avanços como o Windows Phone 8 (2012) e o 8.1 (2014), a plataforma nunca conseguiu rivalizar com Android e iOS em escala global.
Em 2013, a Microsoft detinha apenas 3,2% do mercado mundial, segundo dados da IDC. No Brasil, o desempenho foi melhor, mas insuficiente para sustentar o projeto.
O principal obstáculo? A falta de aplicativos populares. Muitos desenvolvedores simplesmente não investiam em versões compatíveis com o sistema da Microsoft.
A loja de apps era limitada e, mesmo com esforço, o suporte demorava a chegar — ou nunca chegava.
Além disso, o atraso na entrada no mercado fez com que a empresa ficasse sempre correndo atrás dos concorrentes, tentando recuperar terreno já perdido.
A última cartada: Windows 10 Mobile e Lumia 950
Em uma tentativa de salvar a plataforma, a Microsoft lançou o Windows 10 Mobile em 2015, apostando na integração entre smartphones e PCs.
O conceito era promissor: permitir que o celular se transformasse em um mini computador ao ser conectado a uma tela.
O Lumia 950 e 950 XL, lançados com esse sistema, foram os últimos topos de linha da marca. Já o Lumia 650, de 2016, ficou conhecido como o último smartphone com Windows Phone lançado pela Microsoft.
Pouco tempo depois, a empresa fez uma grande reestruturação interna, com demissões em massa na divisão mobile. O fim era inevitável.
Pós-Windows Phone: o legado e as tentativas frustradas
Mesmo após o fim oficial do projeto, algumas fabricantes ainda lançaram modelos com Windows 10 Mobile, mas sem sucesso de vendas.
O suporte a atualizações e aplicativos foi encerrado gradualmente, e a marca Nokia passou às mãos da HMD Global, que a utiliza até hoje para celulares Android.
A Microsoft, por sua vez, tentou voltar ao mercado com o Surface Duo, um smartphone dobrável com duas telas e sistema Android.
O projeto teve duas gerações, mas vendas muito limitadas. Em pouco tempo, também foi descontinuado.
Com o tempo, até os próprios executivos da empresa passaram a comentar o fracasso. Bill Gates já afirmou publicamente que considera o fracasso no setor mobile um de seus maiores erros como CEO.
O criador do Android, Rich Miner, chegou a declarar que a ideia de desenvolver um sistema móvel surgiu como resposta ao receio de que a Microsoft dominasse o setor de celulares, assim como já fazia nos PCs.
Já Steve Ballmer, sucessor de Gates, chegou a rir publicamente ao ver o lançamento do primeiro iPhone em 2007.
Ele duvidava que um celular tão caro, sem teclado físico, pudesse fazer sucesso. O tempo mostrou o contrário.
O que restou do Windows Phone?
Hoje, o Windows Phone é lembrado com nostalgia por muitos usuários que apreciavam sua fluidez, design intuitivo e integração com o ecossistema da Microsoft.
Embora tecnicamente promissor, o sistema não resistiu à falta de suporte de apps, decisões estratégicas mal calculadas e uma entrada tardia em um mercado dominado.
A Microsoft, por sua vez, se voltou para outras áreas e continua sendo uma das empresas mais valiosas do mundo, mesmo longe dos smartphones.
Com informações do site TecMundo