1. Início
  2. / Curiosidades
  3. / O que aconteceu com a Bombril? Do fundador Roberto Sampaio Ferreira, o escândalo Cragnotti e à quase falência
Tempo de leitura 5 min de leitura Comentários 0 comentários

O que aconteceu com a Bombril? Do fundador Roberto Sampaio Ferreira, o escândalo Cragnotti e à quase falência

Escrito por Bruno Teles
Publicado em 02/05/2025 às 23:31
Roberto Sampaio Ferreira criou a Bombril, que quase quebrou! Veja a história completa do escândalo Cragnotti, a disputa familiar, a quase falência e a luta pela recuperação da icônica marca brasileira.
Roberto Sampaio Ferreira criou a Bombril, que quase quebrou! Veja a história completa do escândalo Cragnotti, a disputa familiar, a quase falência e a luta pela recuperação da icônica marca brasileira.
Seja o primeiro a reagir!
Reagir ao artigo

Disputa societária, fraudes e dívidas bilionárias: como a gigante brasileira Bombril, fundada por Roberto Sampaio Ferreira, enfrentou a falência após a gestão de Sergio Cragnotti e luta para se reerguer.

A Bombril, fundada por Roberto Sampaio Ferreira, é uma marca tão forte no Brasil que virou sinônimo de esponja de aço. Seu slogan “1001 utilidades” e suas propagandas marcaram época. A empresa dominou o mercado por décadas. No entanto, a Bombril quase foi à falência no início dos anos 2000.

Uma grave crise, fruto de uma disputa societária complexa, quase destruiu a companhia. A história envolve brigas familiares, acusações de fraude e até prisão.

O começo: Roberto Sampaio Ferreira e a criação de um ícone brasileiro

A história da Bombril começou em janeiro de 1948. Roberto Sampaio Ferreira recebeu uma máquina de extrair esponjas de aço como pagamento de dívida. O produto era importado e pouco acessível. Roberto percebeu a demanda crescente, pois panelas de alumínio, mais difíceis de limpar, substituíam as de ferro. Ele começou a vender as esponjas que davam “bom brilho” às panelas – daí o nome Bombril. A versatilidade do produto (limpar vidros, louças, azulejos) rendeu o apelido “1001 utilidades”. A Abrasivos Bombril Ltda nasceu e vendeu 48 mil unidades no primeiro ano.

Pai e filho sorrindo ao fundo de arte promocional da Shopee para o Dia dos Pais, com produtos e caixas flutuantes em cenário laranja vibrante.
Celebre o Dia dos Pais com ofertas incríveis na Shopee!
Ícone de link VEJA AS OFERTAS!

Nas décadas seguintes, a empresa expandiu. Patrocinou programas na TV Tupi nos anos 50. Incorporou outras empresas e marcas, como Sapólio Radium, Mimosa e Queiroz, ganhando mercado. Em 1976, mudou a fábrica para São Bernardo do Campo (SP). Em 1978, lançou novos produtos como Limpol e Pinho Kalypto. Nesse mesmo ano, iniciou a famosa campanha publicitária com o ator Carlos Moreno, criada por Washington Olivetto.

Divergências familiares e a venda para Sergio Cragnotti

Roberto Sampaio Ferreira criou a Bombril, que quase quebrou! Veja a história completa do escândalo Cragnotti, a disputa familiar, a quase falência e a luta pela recuperação da icônica marca brasileira.

Em 1981, o fundador Roberto Sampaio Ferreira faleceu. A empresa continuou crescendo, lançando a marca Mon Bijou (1983) e abrindo capital na bolsa (1984). Internamente, porém, havia conflitos. Os três filhos herdeiros tinham visões diferentes para o futuro. Marcos, o mais novo, não participava da gestão. Ronaldo, o do meio, queria continuar o negócio do pai.

Fernando, o mais velho, queria vender sua parte. Em 1988, Fernando vendeu suas ações para o empresário italiano Sergio Cragnotti. Ele também convenceu Marcos a vender. Ronaldo permaneceu por mais tempo, mas como minoritário, sentia-se sem poder. Em 1995, Ronaldo também vendeu sua participação a Cragnotti.

A gestão Cragnotti: o polêmico caso da compra e venda da Cirio

Sergio Cragnotti veio ao Brasil nos anos 70 como executivo. Nos anos 90, criou a Cragnotti & Partners, focada em recuperar empresas. Comprou também o time de futebol italiano Lazio. Após assumir o controle da Bombril em 1995, sua gestão foi marcada por polêmicas financeiras. Em julho de 1997, Cragnotti fez a Bombril comprar o controle da Cirio, uma de suas empresas na Itália. O argumento era a internacionalização. A Bombril pagou US$ 380 milhões à vista, usando recursos de um aumento de capital na bolsa brasileira (com apoio de fundos como Previ e BNDESPar).

Apenas um ano e meio depois, em dezembro de 1998, Cragnotti realizou outra operação. A emrpesa fundada por Roberto Sampaio Ferreira, Bombril, vendeu a mesma Cirio Holding por US$ 380 milhões. Porém, o pagamento seria recebido em quatro parcelas. Como a Cirio enfrentava problemas financeiros, a Bombril nunca recebeu o dinheiro. Na prática, Cragnotti usou recursos da Bombril, incluindo de acionistas minoritários brasileiros, para financiar suas empresas no exterior.

Disputa judicial, multa da CVM e a queda do empresário italiano

O caso Cirio levou a uma denúncia na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A CVM concluiu que a Bombril “emprestou” mais de R$ 1,3 bilhão a empresas de Cragnotti entre 1995 e 2001. Em 2002, Cragnotti foi multado pela CVM em R$ 62,5 milhões, a maior multa aplicada pelo órgão até então. Ele também foi proibido de administrar companhias abertas por cinco anos. Paralelamente, Cragnotti não havia pago totalmente a compra das ações de Ronaldo Sampaio Ferreira. Dos US$ 121 milhões acordados, pagou apenas US$ 5 milhões. Em 2002, Ronaldo entrou na justiça brasileira contra Cragnotti.

Em 2003, Ronaldo, com ajuda do advogado Augusto Coelho, conseguiu afastar os italianos e colocar a Bombril sob administração judicial. No mesmo ano, a Cirio sofreu intervenção na Itália por um calote de US$ 1,4 bilhão de Cragnotti. O empresário foi afastado de suas empresas na Itália, acusado de fraudes e preso em 2004 por tentar interferir nas investigações.

O retorno do herdeiro: Ronaldo Sampaio Ferreira luta pela sobrevivência da Bombril

Um acordo foi costurado para que a Cirio (sob intervenção) devolvesse o controle da Bombril a Ronaldo, quitando a dívida de Cragnotti. Contudo, uma disputa entre Ronaldo e seu advogado, Augusto Coelho, sobre honorários (Coelho queria 20% do valor) impediu a assinatura. Coelho passou a pedir o leilão da empresa. Enquanto o imbróglio durava, a Bombril, sob administração judicial, acumulou mais de R$ 2 bilhões em prejuízos e dívidas.

Auditorias apontaram irregularidades na gestão dos interventores. A situação só foi resolvida no final de 2006, com a volta definitiva de Ronaldo Sampaio Ferreira, filho de Roberto Sampaio Ferreira, ao comando. Ele encontrou a Bombril em estado crítico: produção defasada, dificuldade de crédito e problemas de abastecimento no varejo. A concorrente Assolan aproveitou a crise para ganhar mercado.

Reestruturação radical e sinais de recuperação financeira

YouTube Video

De volta ao comando, Ronaldo Sampaio Ferreira promoveu uma reestruturação profunda. Substituiu parentes por executivos de mercado. Renegociou a dívida, cortou gastos e custos fixos. Tentou entrar em novos segmentos, como cosméticos. Mesmo assim, a situação era delicada. Em 2013, produtos Bombril sumiram das prateleiras por falta de verba. Em 2015, a dívida chegou a R$ 900 milhões, após quatro anos de prejuízo. Ronaldo contratou a consultoria RCA Partners para salvar a empresa. A estratégia funcionou. Em 2016, a Bombril reverteu o prejuízo, lucrando R$ 59 milhões. Isso exigiu cortes drásticos em marketing, demissões, redução de produtos e venda de marcas. A empresa conseguiu respirar.

Nos últimos anos, a Bombril parece estar se recuperando. Em 2022, a receita bruta superou R$ 2 bilhões (crescimento de 26,2%). O lucro operacional (EBITDA) atingiu R$ 189,7 milhões, quase quatro vezes maior que em 2021. O endividamento caiu significativamente. A empresa também conseguiu uma linha de crédito de R$ 300 milhões, melhorando o perfil da dívida.

A dívida tributária bilionária e o legado de Cragnotti

Apesar da melhora, um problema da era Cragnotti ainda assombra a Bombril. Existe uma contingência tributária (dívida fiscal) de R$ 5 bilhões. Segundo a empresa, essa dívida está em discussão judicial e sua exigibilidade está suspensa.

Quanto a Sergio Cragnotti, ele responde a processos em liberdade na Itália. Relatórios da CVM de 2017 ainda o listavam como um dos maiores devedores do órgão regulador brasileiro, com a multa atualizada superando R$ 200 milhões. A Bombril segue sua trajetória, marcada por um passado turbulento e a luta contínua pela recuperação total.

Inscreva-se
Notificar de
guest
0 Comentários
Mais recente
Mais antigos Mais votado
Feedbacks
Visualizar todos comentários
Tags
Bruno Teles

Falo sobre tecnologia, inovação, petróleo e gás. Atualizo diariamente sobre oportunidades no mercado brasileiro. Com mais de 7.000 artigos publicados nos sites CPG, Naval Porto Estaleiro, Mineração Brasil e Obras Construção Civil. Sugestão de pauta? Manda no brunotelesredator@gmail.com

Compartilhar em aplicativos
1
0
Adoraríamos sua opnião sobre esse assunto, comente!x