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O mapeamento da indústria de óleo e gás na transição para fontes de energia renovável

Escrito por Anna Carolina Cortez
Publicado em 18/08/2023 às 14:38
Atualizado em 20/08/2023 às 09:18
O mapeamento da indústria de óleo e gás na transição para fontes de energia renovável
divulgação

Por: Leandro Coutinho, especialista em Óleo e Gás na Imagem Geosistemas

A demanda por energia está em curva de crescimento no mundo todo. No pós-pandemia, a ascendente de recuperação econômica encontrou paralelo no consumo de energia, a partir do momento em que a indústria e o comércio voltavam aos status operacionais ideais.

No entanto, a crise na Ucrânia, dentre outros fatores, fez com que todas as projeções de crescimento de demanda fossem revisadas. A interrupção abrupta na oferta de energia está forçando muitos países a reavaliar planos internos relacionados à segurança energética e que tipos de investimentos serão prioritários no futuro.

Para empresas que atuam no mercado de óleo e gás, o crescimento do preço de combustíveis fósseis injetou pressão sobre os custos operacionais ao longo de toda a cadeia de suprimentos, encorajando a adição de novas políticas de eficiência operacional focadas na garantia de fornecimento de insumos e proteção de consumidores. Saúde financeira e resiliência ganharam status em termos de planejamento estratégico.

Investimento em energias alternativas

Por outro lado, esse mesmo crescimento de preços desencadeou oportunidades de investimento em novas fontes de energia. Impulsionadas pela redução de capacidade de geração de energia através da queima de carvão mineral, óleo combustível e óleo diesel para uso industrial, muitos governos e empresas estão aproveitando o momento para desencadear iniciativas na linha da transição energética.

Além disso, incentivos de financiamento para projetos de desenvolvimento de tecnologia que envolvam baixa emissões de carbono reforçam essas oportunidades de investimento, fazendo com que a transição energética se torne cada vez mais viável em termos operacionais.

No Brasil, a demanda por energia também é crescente, como aponta o relatório “Perspectivas para o Mercado Brasileiro de Combustíveis no Curto Prazo”, publicado pela Empresa de Pesquisa Energética – EPE e junho de 2023.

Entretanto, enquanto a matriz energética no mundo é significativamente dependente da queima de combustíveis fósseis, o país desenvolveu uma matriz energética diferenciada, com destaque para a geração energia hidrelétrica e ênfase na demanda de combustíveis líquidos no transporte rodoviário.

Dessa forma, a crise na oferta de petróleo também trouxe impacto relevante para o país, mas de forma diferente, realçando vulnerabilidades particulares da matriz energética nacional, principalmente em momentos, como:

·         Aumento de preços internacionais

o   Combustíveis fósseis: o aumento no preço do petróleo e derivados reflete no país, gerando aumento do preço de praticamente todos os produtos transportados por modal rodoviário.

o   Combustíveis renováveis: a variação dos preços internacionais do açúcar e da soja tornam mais atraente para o produtor exportar esses produtos, ao invés de destinar o insumo para a produção de etanol e biodiesel, respectivamente. Gerando escassez de oferta no mercado.

·         Baixo volume dos reservatórios nas usinas hidrelétricas

o   Necessidade de acionamento das usinas termelétricas abastecidas, em boa parte, por óleo diesel ou óleo combustível.

O movimento atual, portanto, torna favorável o aumento de investimentos em larga escala na direção à diversificação das fontes de geração de energia, dentro do grupo de baixa emissão de carbono.

Dessa forma, o termo “transição energética” se coloca de forma objetiva no sentido da substituição das principais fontes de energia convencionais por novas tecnologias, que sejam mais eficientes em termos de redução de gases poluentes e economicamente atrativas.

Uma pesquisa da Deloitte divulgada em março de 2023 feita com 501 empresas nacionais em nível executivo (equivalência a 21% do PIB de 2022) ressalta que esse movimento já foi percebido e já está em andamento.

Iniciativas de transição no Upstream

Grandes empresas de óleo e gás também participam como investidores. No Upstream, a Petrobras se adiantou e criou uma diretoria de transição energética com três objetivos claros:

1.       Preparar a companhia para a transição energética com a criação de área focada no tema;

2.        Reunir as atividades de engenharia, tecnologia e inovação, fortalecendo a área de desenvolvimento de projetos com os esforços de pesquisa e desenvolvimento;

3.       Concentrar atividades corporativas em uma área voltada à gestão da companhia, fortalecendo sinergias entre os processos

Outras empresas já atuam para a implementação de parques eólicos offshore. Segundo levantamento da agência epbr, o Brasil fechou o primeiro trimestre de 2023 com 74 projetos de geração eólica offshore com pedidos de licenciamento registrados no IBAMA. Desse total, 45 projetos (60,8%) estão no RJ, ES, CE e RN, que abrigam ou já abrigaram uma indústria petrolífera offshore.

No continente, iniciativas envolvendo energia solar e eólica diminuem a dependência de fontes de energia não renováveis em processos operacionais e como incremento do portifólio de produtos.

Um bom exemplo é o “Complexo Solar Futura I”, com investimentos da ordem de R$ 3,2 bilhões e entrada em operação em maio de 2023. Derivado da incorporação da empresa Focus Energia pela Eneva, o complexo conta com 1,4 milhão de placas fotovoltaicas distribuídas em mais de 1.600 hectares.

Iniciativas de transição no Midstream

No Midstream, expansão de gasodutos em direção a indústrias e termelétricas ajudam a escoar a grande oferta de gás natural do momento em uma proposta alternativa à queima de óleo combustível e óleo diesel. Como resultado, além da manutenção da capacidade energética, é possível chegar a uma redução de pelo menos de 80% das emissões de resíduos poluentes.

Dentro dessa proposta está o acordo celebrado entre o Grupo Urca Energia e a Nova Transportadora do Sudeste (NTS) para a injeção em 2024 de 120 mil m³ de biometano produzido aterro sanitário de Seropédica, no Rio de Janeiro. O gás é 100% renovável e reduz em 99,9% as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE).

A NTS incluiu ainda no seu plano estratégico estudos de viabilidade para entrar no negócio de estocagem de gás natural (GNL). Nesse caso, investimentos da ordem de R$ 12 bilhões seriam convertidos em 8 anos no atendimento de termelétricas a gás espalhadas pelo interior do território nacional.

Iniciativas de transição no Downstream

No Downstream, grandes empresas vêm há alguns anos celebrando Join ventures e fazendo aquisições de empresas menores, ampliando o portifólio de produtos com a em geração de energia eólica e solar. Além disso, o Brasil é um dos líderes mundiais na produção e no consumo de biocombustíveis.

A legislação brasileira e programas como o RenovaBio vêm subsidiando a evolução do consumo a cada ano. Em virtude dessa diversificação de portifólio, muitas empresas já se autodenominam empresas de energia, uma vez que não esperam ficar presas ao fornecimento de energia não renovável.

Ipiranga, Raizen e Vibra Energia investem em energia renovável

São muitos os exemplos de iniciativas neste subsetor, com destaques para a Ipiranga, Raizen e Vibra Energia.

Na Ipiranga, o projeto Ipiranga Usinas já conta com usinas fotovoltaicas capazes de abastecer cerca de 900 postos e franquias, com ganhos estimados em mais de 60 GWh/ano de energia limpa.

A Raizen é uma grande produtora de biocombustíveis na forma de etanol produzido a partir do cultivo da cana-de-açúcar. Boa parte do resíduo na forma bagaço da cana é reaproveitado para a produção do etanol de segunda geração (E2G). O bagaço também é reaproveitado para a criação de “pellets”, um tipo de combustível sólido que podem ser transportados por longas distâncias com baixo risco de combustão e utilizados na geração de energia térmica para indústrias e comércio de pequeno e médio porte.

Por fim, os produtos disponibilizados pela empresa também incluem geração de biogás e bioeletricidade a partir dos mesmos resíduos da produção de etanol.

Já a Vibra Energia possui usinas de energia solar responsáveis por gerar economia de até 25% em seus postos franquiados. Soma-se a essa iniciativa, a Join Venture da empresa com a Copersucar que permite a comercialização de etanol em larga escala de forma colaborativa e integrada.

Além disso, a aquisição de 50% das ações da ZEG Biogás no ano passado acrescenta mais um produto em seu portifólio. No momento da aquisição, a empresa já anunciou aportes de até R$ 412 milhões nos próximos anos.

 

Os desafios da transição energética para as empresas de óleo e gás

Como foi dito no início do artigo, a demanda por energia vai continuar crescendo apesar das adversidades e a transição energética está representando uma alternativa viável para atender as projeções de consumo crescente de forma sustentável, com previsibilidade de mercado. Seja no viés ambiental ou econômico.

Mesmo assim, essa não é uma tarefa simples. A implementação dessas vias de geração de energia alternativas requer desenvolvimento tecnológico, planejamento estratégico assertivo e monitoramento operacional constante.

As empresas de óleo e gás detém experiência na geração de energia em caráter similar. Porém, novas variáveis se impõem como:

·         Investimentos específicos em infraestrutura pública e privada para geração e escoamento da produção;

·         Seleção de locais adequados para implementação de novas plantas de geração de energia;

·         Logística específica que envolva estoque e movimentação em toda a cadeia de suprimentos;

·         Dentre outros.

Como mostra a pesquisa da Deloitte já citada anteriormente, investimentos em tecnologia de inteligência são imprescindíveis para superar essas adversidades em vários aspectos:

·         Sistemas de armazenamento, processamento e gestão de grandes volumes de dados;

·         Sistemas de inteligência que ajudem a direcionar os investimentos de maneira assertiva;

·         Sistemas de monitoramento de ativos;

·         Sistemas voltados para engajamento de stakeholders.

Anna Carolina Cortez

Anna Carolina Cortez, jornalista e assessora de imprensa

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