Em um negócio de R$ 11,3 bilhões, a Petrobras vendeu sua última fatia na BR Distribuidora, que se tornou a Vibra Energia e mudou sua estratégia, gerando lucros recordes e polêmicas sobre os preços.
Em um movimento que marcou o setor de energia e o mercado de capitais brasileiro, a Petrobras concluiu em julho de 2021 a privatização da BR Distribuidora, a maior rede de postos do país. A operação, que movimentou mais de R$ 11,3 bilhões, representou o fim do controle estatal sobre um ativo de imensa importância estratégica e o ápice da estratégia de desinvestimento da petroleira.
Livre das amarras estatais, a antiga BR Distribuidora renasceu como Vibra Energia, adotando um novo manual de gestão focado em eficiência e resultados. A mudança, no entanto, gerou narrativas opostas: enquanto o mercado financeiro comemorou lucros recordes, sindicatos e consumidores questionaram o impacto da privatização nos preços dos combustíveis.
A operação de R$ 11,3 bilhões: o passo final da privatização em 2021
A privatização foi selada por meio de uma grande oferta de ações na bolsa de valores. A precificação dos papéis ocorreu em 30 de junho de 2021, e a operação foi formalmente encerrada em 6 de julho de 2021.
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No total, a Petrobras vendeu sua participação remanescente de 37,5%, arrecadando R$ 11,358 bilhões. O preço foi fixado em R$ 26,00 por ação. A demanda dos investidores superou largamente a oferta, chegando a quase o dobro do valor, o que sinalizou uma forte aceitação do mercado. A maior parte das ações foi adquirida por fundos de investimento e investidores estrangeiros. Com a venda, a BR Distribuidora se tornou uma corporation, uma empresa de capital pulverizado e sem um acionista controlador.
A estratégia da Petrobras, por que a estatal vendeu a BR Distribuidora?
A venda da BR Distribuidora foi uma peça central na reorientação estratégica da Petrobras. A estatal decidiu focar seus recursos e esforços em seu negócio principal e de maior rentabilidade: a exploração e produção (E&P) de petróleo e gás em águas profundas e ultraprofundas, especialmente no pré-sal.
A operação fez parte de um amplo programa de desinvestimentos que visava reduzir o elevado endividamento da companhia. Ao vender ativos de distribuição e refino, considerados menos estratégicos, a Petrobras conseguiu levantar capital para financiar os investimentos massivos exigidos pelo pré-sal e, ao mesmo tempo, fortalecer seu balanço financeiro.
O nascimento da Vibra Energia, nova gestão e foco no lucro
Com a saída completa da Petrobras, a empresa recém-privatizada precisava de uma nova identidade. Em agosto de 2021, a BR Distribuidora foi rebatizada como Vibra Energia. A mudança simbolizou a ambição de se tornar uma empresa de energia mais ampla, olhando para além dos combustíveis fósseis.
A nova gestão, com mentalidade de setor privado, implementou um choque de eficiência. Os custos totais da companhia caíram cerca de 40% nos dois anos seguintes à privatização inicial, em 2019, impulsionados pela otimização logística e pelo enxugamento do quadro de funcionários. Livre da obrigação de comprar exclusivamente da Petrobras, a Vibra passou a importar combustível quando os preços internacionais eram mais favoráveis, uma estratégia que se tornou fundamental para aumentar suas margens de lucro.
Lucro recorde para acionistas e preços mais altos na bomba?
Os resultados da privatização geraram um profundo debate. Do ponto de vista financeiro, a operação foi um sucesso para a Vibra Energia e seus novos acionistas. A companhia bateu recordes de lucratividade, reportando um lucro líquido de R$ 4,766 bilhões em 2023, o maior desde sua abertura de capital.
Por outro lado, sindicatos como a Federação Única dos Petroleiros (FUP) e associações de consumidores apontaram para um impacto negativo para a sociedade. Dados levantados pela Associação dos Engenheiros da Petrobrás da Bahia (AEPET-BA) mostraram que, após a privatização, a margem de lucro da distribuição aumentou de forma desproporcional ao custo do combustível na refinaria. Críticos argumentam que a nova gestão privada contribuiu para a elevação dos preços na bomba.
O futuro da marca BR Distribuidora, a disputa entre Vibra e o desejo de retorno da Petrobras
Enquanto investe na transição energética, a Vibra enfrenta uma ameaça ao seu ativo mais valioso: a marca Petrobras. O contrato que permite à Vibra usar o logotipo “BR” em sua rede de mais de 8.000 postos é válido até junho de 2029.
A nova gestão da Petrobras, no entanto, já manifestou publicamente a intenção de retornar ao mercado de distribuição. Em janeiro de 2024, a estatal comunicou oficialmente à Vibra que não tem interesse em renovar o contrato de licenciamento da marca nos termos atuais. Esse movimento sinaliza uma futura “guerra de marcas” no setor e coloca a Vibra em uma corrida contra o tempo para fortalecer sua própria identidade antes de perder o direito de usar o icônico logotipo da BR Distribuidora.