O insano M65 Atomic Annie, canhão de 84 toneladas, disparou uma ogiva nuclear de 15 quilotons em 1953 e virou o símbolo da Guerra Fria nos EUA.
No início da Guerra Fria, a União Soviética havia testado sua primeira bomba atômica em 1949, quebrando a exclusividade americana. O mundo entrou em uma espiral de medo nuclear, e os Estados Unidos buscavam maneiras de levar o poder atômico para o campo de batalha convencional. Foi nesse contexto que surgiu o M65 Atomic Annie, um canhão de artilharia de 280 mm projetado para disparar ogivas nucleares táticas.
Não se tratava apenas de mais uma peça de artilharia: era a fusão entre a engenharia de artilharia tradicional e a devastação nuclear, em plena corrida armamentista.
O titã de 84 toneladas que viajava por trilhos e estradas
O M65 impressionava pelo porte. Pesando 84 toneladas, era tão grande que precisava ser transportado em duas seções rebocadas por tratores especialmente adaptados.
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Sua mobilidade era híbrida: podia ser deslocado por estradas em longas colunas militares ou adaptado para operar sobre trilhos de trem, algo que lembrava os gigantescos canhões ferroviários da Segunda Guerra Mundial.
Quando montado, media mais de 25 metros de comprimento. Sua presença era intimidadora, não só pelo tamanho, mas pelo que representava: a possibilidade de que uma arma aparentemente convencional pudesse liberar uma explosão atômica no campo de batalha.
O primeiro disparo nuclear de uma peça de artilharia
Em 25 de maio de 1953, no deserto de Nevada, durante a operação Upshot–Knothole, o M65 entrou para a história.
No teste denominado Grable, disparou um projétil nuclear W9 de 15 quilotons — potência similar à bomba lançada sobre Hiroshima em 1945.
A ogiva percorreu cerca de 10 km em menos de 30 segundos e detonou a 160 metros do solo, produzindo uma nuvem em forma de cogumelo que simbolizava a era nuclear. Foi a primeira e única vez na história em que uma peça de artilharia disparou uma bomba atômica em condições reais de teste.
Alcance e poder destrutivo
O M65 tinha alcance máximo de aproximadamente 32 km, o que permitia atingir alvos em profundidade tática dentro de uma frente de batalha.
Com uma ogiva nuclear, isso significava não apenas neutralizar fortificações ou concentrações de tropas inimigas, mas obliterar cidades médias inteiras.
Para a doutrina militar dos anos 1950, ele representava a resposta ideal: poder nuclear tático, portátil e capaz de acompanhar exércitos em operações terrestres.
Um pesadelo para Moscou
Para a União Soviética, a existência do M65 foi um choque estratégico. Até então, os soviéticos sabiam do poder devastador das bombas lançadas de aviões, mas agora havia a possibilidade de enfrentar colunas de artilharia que carregavam ogivas nucleares em cenários de guerra convencional.
A simples perspectiva de ver canhões nucleares cruzando fronteiras terrestres aumentava o risco de escalada em qualquer conflito.
Moscou respondeu intensificando seus próprios programas nucleares e de mísseis, o que acelerou ainda mais a corrida armamentista.
Limitações e obsolescência rápida
Apesar de impressionante, o M65 tinha várias limitações:
- Tamanho e peso excessivos: exigia infraestrutura complexa para transporte.
- Baixa cadência de tiro: preparar e disparar um projétil nuclear demandava tempo.
- Avanço dos mísseis: a partir do fim dos anos 1950, mísseis balísticos e táticos passaram a oferecer alcance maior, mobilidade superior e versatilidade estratégica.
Assim, em menos de uma década, o canhão atômico começou a perder sentido operacional. No início dos anos 1960, já estava obsoleto diante da evolução de foguetes nucleares móveis e sistemas de lançamento mais eficazes.
Quantos foram produzidos e qual o destino final
Foram construídas cerca de 20 unidades do M65 Atomic Annie. Durante sua vida útil, foram exibidas em paradas militares, desfiles em Washington e demonstrações de poder nos campos de teste, servindo muito mais como símbolo político e psicológico do que como arma prática.
Com a chegada dos mísseis de médio alcance, os canhões foram retirados gradualmente do serviço. Hoje, alguns exemplares podem ser vistos em museus militares nos Estados Unidos, como o de Aberdeen e o de Fort Sill, preservando a memória de uma das armas mais insanas da Guerra Fria.
O legado do M65 Atomic Annie
Embora nunca tenha sido usado em combate, o M65 marcou a transição entre a era da artilharia tradicional e o advento das armas nucleares táticas.
O equipamento mostrou que, em meio ao medo e à tensão da Guerra Fria, a engenharia militar poderia criar máquinas que combinavam conceitos clássicos com o poder de destruição atômica.
O Atomic Annie foi um gigante que aterrorizou pela imagem e pela possibilidade, ainda que seu valor prático fosse limitado. Hoje, ele é lembrado como o canhão que levou o átomo ao campo de batalha, um símbolo do período em que a humanidade flertava diariamente com a aniquilação nuclear.