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O Brasil vai abandonar o petróleo? Esse foi o tema central de debate entre especialistas nesta segunda (07).

Escrito por Junior Aguiar
Publicado em 08/06/2021 às 13:24
Atualizado em 07/07/2021 às 16:22

Abandonar o petróleo seria uma das ações inevitáveis no processo de transição energética no Brasil? Entenda os pontos de vistas de especialistas

Especialistas no setor de energia debateram sobre a transição energética e o futuro do mercado de petróleo, gás e seus derivados no Brasil. O choque de ideias essencialmente sobre se o brasil vai abandonar o petróleo, aconteceu em um encontro virtual na noite dessa segunda-feira (07), promovido pela SPE Brazil Section.

Com a intenção de disseminar conhecimento técnico para as diferentes demografias dos seus membros e público, estiveram de um lado o presidente executivo da Associação Brasileira de Biopolímeros Compostagem e Compostagem (ABICOM), Sérgio Araújo, e o Country Manager da NORWEP, Adhemar Freire; e do outro lado a pesquisadora da FGV Energia, Fernanda Delgado, e o especialista em Óleo e Gás, Marcelo Gauto.

O debate, que foi transmitido ao vivo pelo YouTube, foi mediado pelo diretor da IC&P, Mauro Destri. Trouxemos todos os detalhes nesta reportagem completa. No entanto, se preferir, você confere o evento na íntegra clicando aqui.

Quais os dois maiores desafios para a criação e educação de políticas de descarbonizarão no Brasil?

Se o Brasil vai abandonar o petróleo, em busca da redução e, futuramente, da eliminação da emissão de gás carbônico, é importante ações e políticas públicas dos setores envolvidos.

A descarbonizarão, no entanto, é um processo que tem superar desafios na criação de energias renováveis e educação da sociedade como um todo.

Fernanda Delgado defendeu que é necessário reduzir a dependência do petróleo no Brasil, aproveitando os recursos naturais de produção de energia. Ela citou a Amazônia como uma grande potência na emissão de créditos de carbono. Mas ponderou que a transição enérgica não acontece de uma hora pra outra e que é necessário que os valores sejam coerentes com o poder de compra dos brasileiros.

Sérgio Araújo seguiu com o mesmo raciocínio, sem contrapor. Mas acrescentou que o maior desafio são os custos das novas fontes de combustíveis. Ou seja, a capacidade de a sociedade brasileira bancar os custos e o equilíbrio para evitar custos elevados.

Na ultima semana a Agência Nacional do Petróleo (ANP) informou que o preço máximo de referência para o óleo diesel no próximo leilão será de R$8 o litro (cerca de três vezes o valor do diesel fóssil que sai da refinaria).

Araújo ainda levantou um questionamento: O que fazer com as reservas e os contratos que o país que existem?

“Somos um excedente na produção de petróleo e gás. Acabamos de bater mais um recorde com quase 13 milhões de metros cúbicos de petróleo (produzidos). Vamos continuar estimulando os investimentos?”, colocou Sérgio Araújo.

Fernanda Delgado e Sérgio Araújo pensam igual sobre avaliar o poder aquisitivo dos brasileiros na transição energética
Fernanda Delgado e Sérgio Araújo pensam igual sobre avaliar o poder aquisitivo dos brasileiros na transição energética

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O Brasil deve abandonar as recentes descobertas de petróleo em prol da neutralidade mundial?

Com esse tema no meio do questionamento se o brasil deve abandonar essa descoberta de petróleo, Marcelo Gauto e Adhemar Freire conflitaram suas ideias a cerca dos investimentos do Repetro.

“O Brasil deve abandonar qualquer tipo de subsidio qualquer tipo de subsidio aos fósseis. Um deles é o Repetro que agente revalidou até 2040. A gente segue ‘tampando o sol com a peneira’. O problema é a estrutura fiscal do Brasil. A gente tem que repensar.”, colocou Gauto que ainda fez questão de salientar o quanto é contra na interferência de preço em derivados de petróleo. “Esse tipo de subsídio deve ser execrado, abandonar qualquer ideia de subsídio de combustível fóssil”.

No Brasil, a média de consumo de barris de petróleo é de 2.2 milhões por dia.

Em contraponto, Adhemar Freire defendeu a continuação dos investimentos em revitalização dos ‘pontos maduros’ do petróleo (campos que já produziram mais do que se esperava produzir).

“Eu acho que a Repetro tem que existir. Porque é uma forma de fazer com que os projetos tenham uma atratividade com custo mais reduzido e viável. Sou entusiasta das energias renováveis, mas penso que essa transição que vai continuar caminhando ao lado das energias fosseis rumo a descarbonização, comentou Freire.

Adhemar Freire também é defensor da execução de planos de investimentos, como leilões de bloco de óleo e gás, enquanto esses recursos ainda tem valor e demandas.

Marcelo Gauto e Adhemar Freire conflitaram suas ideias sobre os subsídios o Repetro em relação ao abandono do petróleo
Marcelo Gauto e Adhemar Freire conflitaram suas ideias sobre os subsídios o Repetro

Contraponto também à Agência Internacional de Energia

Isso também contrapõe a Agência Internacional de Energia que tem como premissa alcançar a meta de emissão zero de gases poluentes em 2050.

Freire acredita que manter os investimentos pode favorecer a sociedade na forma de emprego e renda, pois a demanda poderá ser atrativa até o próximos os 30 anos.

Para isso, os investidores têm que estar atentos aos movimentos do mercado. Mas os investimentos em descarbonização (transição energética) tem que seguir pesado.

O que é a Repetro?

O pré-sal, com enormes cadeias de carbono, é uma das descobertas de petróleo mais importantes. É definido como rochas sedimentares formadas há mais de 100 milhões de anos no fundo do Oceano Atlântico.

A Repetro é o regime aduaneiro voltado para exportação e de importação de bens relacionados às pesquisas e de lavra das jazidas de petróleo e gás natural no Brasil. A regulamentação é baseada no Decreto nº 6759.

O Brasil deve se preocupar com a neutralidade de emissão de carbono mais do que outras economias?

Neste momento, as duplas de debatedores foram invertidas. E o conflito de ideais continuou técnico e rico de informação.

Considerando que a transição energética é uma meta mundial, e pode passar pelo abandono do petróleo, Sérgio Araújo disse que todos têm que ter a preocupação com a neutralidade de emissão.

“Se a gente olhar a istoria do Brasil, a gente vai ver que na década de 70, (o Brasil) foi pioneiro com muito sucesso nessa questão de emissões. Tivemos o biodiesel lançado em 2007 e a nossa matriz enérgica é 44% de renováveis, enquanto a média de outros países de 14%. Então não vejo ter preocupação com os demais países”, disse Araújo.

Marcelo Gauto discordou. Disse que Brasil deve sim se preocupar mais do que outras economias, mas encarando os desafios como oportunidade econômica, e não fomo um fardo. Ele chamou de “dever moral” do país estar na frente no processo de despoluição devido aos recursos naturais.

“A gente tem um dever moral de buscar neutralidade de emissões ate mais que outros países, embora sejam muito mais poluidores. E a gente pode fazer isso gerando riqueza e renda. Tem muitos países que na tem a mesma condições natural, mas vão investir fortemente”, argumentou Gauto.

Sérgio Araújo e Marcelo Gauto discordaram sobre se o Brasil deve se preocupar mais ou menos com outros países sobre o abandono do petroleo
Sérgio Araújo e Marcelo Gauto discordaram sobre se o Brasil deve se preocupar mais ou menos com outros países

Neutralidade até 2050 é viável para países como o Brasil?

A proposta de neutralidade carbônica é uma meta mundial para até 2050. Cada país tem seus desafios próprios para alcançar esse objetivo, devido ao histórico da economia, condições climáticas, geografia e recursos financeiros.

No centro dessa questão, finalizando a SPE Versus Series, Adhemar Freire e Fernanda Delgado fizeram suas avaliações.

Do começo ao fim sobre essa questão, Freire foi cético na sua colocação e trouxe reflexão sobre o abandono do petróleo:

“Será que em trinta anos é possível que todas as frotas de aviões, navios e transportes de carga e mobilidade urbana estejam 100% movidas por energia limpa? Temos uma sociedade desigual e com demandas diferentes, acho distante no Brasil a implantação de veículos elétricos enquanto não houver tecnologia que dê a acesso aos consumidores das diferentes classes sociais”, colocou Freire.

Para Fernanda Delgado, o que tem que ser consolidado é o quanto pode ser viável o fato de o Brasil se tornar um exportador de soluções de energias limpas. E ponderou sobre a meta de 2050 de o planeta estar livre de combustíveis fosseis.

“Não se faz respirador e remédio de sol e vento. Então existe aí um gap temporal, espacial e físico químico que não vai ser compensado de uma forma tão rápida. 2050 é ‘depois de amanha’. Os nossos projetos demoram sete anos para dar o primeiro óleo. Inves de discutindo se nossos investimentos vão minguar ou nao, é pensar como ganhar dinheiro com a nossa expertise em biocombustíveis. O Brasil pode ser um exportador de soluções”, finalizou.

Meta para que 2050 o mundo esteja livre de poluentes é ponderado
Adhemar Freire e Fernanda Delgado ponderam meta para que 2050 o mundo esteja livre de poluentes

Investimentos em energia limpa volta a crescer no mundo em 2021

Os investimentos no setor de energia limpa devem crescer cerca de 10%, alcançando cerca de US$ 1,9 trilhão em 2021, depois de quedas devido à Pandemia.

No entanto, esses investimentos ainda são insuficientes para a transição de energia limpa para cumprir a climática do Acordo de Paris. O objetivo é manter o aquecimento do planeta abaixo de 1,5° C.

As estimativas são de relatório da Agência Internacional de Energia, publicado na última quarta-feira (2) e que foi debatido pelos especialistas na SPE Versus Series.

De acordo com o World Energy Investment 2021, os investimentos no setor elétrico deve aumentar cerca de 5% este ano, para mais de US$ 820 bilhões.

Assista

O Brasil abandonará o Petróleo? / Fonte: SPE

Junior Aguiar

Jornalista, formado pela Universidade Católica de Pernambuco | Produtor de conteúdo web, analista, estrategista e entusiasta em comunicação.

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