Nissan anuncia fechamento de centros de design no Brasil e nos Estados Unidos, transfere atividades para cinco polos estratégicos e revela plano global que prevê redução de fábricas, corte de capacidade produtiva e integração tecnológica nos processos criativos.
A Nissan anunciou nesta terça-feira (16) que fechará gradualmente seus estúdios de design em São Paulo e na Califórnia, dentro de um realinhamento global da área.
As atribuições desses times serão absorvidas por outras bases da companhia, com a promessa de decisões mais rápidas, colaboração criativa “mais profunda” e respostas mais ágeis às mudanças do mercado.
A reestruturação deve ser concluída até o fim do ano fiscal de 2025, que se encerra em março de 2026.
-
A lista dos melhores carros usados por R$ 50 mil inclui Civic 2013 e Bravo 2016, mas alerta para fugir dos câmbios Powershift e Dualogic
-
BYD alerta para crise nas montadoras elétricas na China após fim dos descontos; economista vê risco de falência em massa e necessidade de consolidação no setor
-
Ranking de emplacamentos de agosto de 2025 revela preferência crescente por carros 1.0 e avanço das motos
-
Correia banhada a óleo do Chevrolet Onix e Tracker não é fácil de ser trocada, alerta Vice-presidente da GM
Reorganização global da Nissan Design
O desenho organizacional passará a se apoiar em cinco hubs. Nos Estados Unidos, o papel de polo principal ficará com o Studio Six, em Los Angeles, que concentrará o trabalho na região.
Londres seguirá como base para África, Oriente Médio, Índia, Europa e Oceania, em coordenação com a parceira Renault.
Já na Ásia, a companhia manterá equipes em Xangai, Tóquio e Atsugi, no Japão.
Com isso, a montadora substitui um modelo disperso por outro mais compacto, com centros que coordenam projetos de múltiplas regiões.
Segundo a empresa, a medida busca “melhor alinhar recursos” e colocar a tecnologia no centro do processo de design, integrando ferramentas digitais ao fluxo criativo.
O foco, de acordo com o comunicado, é acelerar ciclos de aprovação, reduzir retrabalho entre estúdios e aproximar times de engenharia e produto desde as fases iniciais.
O fechamento do estúdio brasileiro
No país, o fechamento atinge o Nissan Design Latin America (NDLA), conhecido como The Box, inaugurado em maio de 2019, em São Paulo.
Criado como laboratório para explorar linguagens e soluções voltadas à América Latina, o espaço funcionava como porta de entrada regional para tendências, pesquisas com usuários e prototipagem de conceitos.
De forma gradual, as atividades do NDLA serão transferidas a outros estúdios da rede global.
A empresa não detalhou prazos intermediários nem quantos postos de trabalho serão afetados no Brasil.
A decisão, porém, não altera a diretriz de manter bases de desenvolvimento e testes conectadas aos hubs, o que pode preservar parte da interlocução técnica com fornecedores e centros de P&D locais.
Encerramento nos Estados Unidos
Nos Estados Unidos, a companhia confirmou o fechamento do Nissan Design America (NDA), em San Diego, que atuava desde o fim da década de 1970 e ajudou a consolidar a identidade visual de diversos modelos globais.
A partir da reorganização, a responsabilidade de liderar projetos na região passará ao hub de Los Angeles.
Enquanto isso, operações em Londres e no Japão serão reduzidas, com redistribuição de tarefas entre as cinco bases estratégicas.
Estratégia Re:Nissan
A medida integra o plano de transformação Re:Nissan, apresentado neste ano para restaurar a rentabilidade no médio prazo.
Além de reduzir sobreposições no design, o programa prevê corte de capacidade produtiva global, de 3,5 milhões para 2,5 milhões de veículos, e a diminuição do número de fábricas de 17 para 10 até o ano fiscal de 2027.
A leitura interna é que uma estrutura mais enxuta, com hubs fortes e acesso direto a lideranças, encurta o caminho entre o esboço e a linha de produção.
Ainda que o anúncio esteja centrado na disciplina de design, a reconfiguração conversa com outras frentes da montadora, como ajustes de portfólio, simplificação de plataformas e priorização de investimentos em projetos com maior retorno.
A criação de cinco polos também ajuda a padronizar ferramentas e processos entre continentes, reduzindo custos de integração e facilitando a reutilização de componentes estilísticos e soluções de engenharia.
Impacto regional no Brasil
O encerramento do NDLA toca um elo simbólico para o desenvolvimento regional.
Entre os veículos citados pela própria Nissan com participação brasileira está o Kicks, utilitário compacto apresentado a partir de meados da década de 2010 e que se tornou peça central na estratégia da marca na América Latina.
O estúdio paulistano funcionava como antena para captar preferências de consumidores da região e traduzir esse material em superfícies, texturas, cores e layouts internos.
Sem o laboratório em São Paulo, interlocutores do setor avaliam que a relação com fornecedores de materiais, studios independentes e universidades tende a se reorganizar via os hubs globais.
Por outro lado, a rede local de design automotivo já opera há anos com colaboração remota, o que pode atenuar a transição.
A Nissan informou que o conteúdo de design será realocado e continuado fora do país, preservando a cadeia de projetos em andamento.
A nova aposta tecnológica
Na comunicação oficial, a companhia define a mudança como uma aposta na integração tecnológica do design, com promessas de “decisão mais rápida” e “colaboração criativa mais profunda”.
A centralização em cinco hubs deve consolidar bibliotecas de dados, modelos 3D e ferramentas de visualização em tempo real, encurtando etapas entre o conceito e a validação de engenharia.
Em paralelo, os hubs assumem papel de comando regional, coordenando pesquisas de campo, testes com clientes e o refinamento de propostas de acordo com cada mercado.
O Studio Six, em Los Angeles, ganha relevância nesse arranjo como eixo norte-americano de criação.
Londres, por sua vez, seguirá conectada às direções de produto para Europa e demais regiões do bloco AMIEO, em alinhamento com a aliança com a Renault.
Na Ásia, Tóquio e Atsugi permanecerão como centros neurálgicos de linguagem de marca, enquanto Xangai sustenta a leitura de tendências no maior mercado automotivo do mundo.