A NCBA quer suspender as compras de carne bovina do Brasil, alegando que a tarifa total de 76,4% não freará as importações. A USTR realiza neste 3 de setembro de 2025, audiência da investigação Section 301 sobre práticas comerciais do Brasil.
Desde agosto de 2025, os Estados Unidos aplicam tarifa adicional de 50% sobre produtos do Brasil. No caso da carne bovina fora de cota, essa sobretaxa se soma aos 26,4% já cobrados sobre volumes acima do contingente tarifário. Resultado, uma alíquota efetiva de 76,4% para a maior parte dos embarques.
Segundo a Reuters, o novo patamar tarifário entrou em vigor em 6 de agosto de 2025, com projeções de rearranjo do comércio global de carne: os EUA tenderiam a comprar mais de parceiros como México e Austrália, enquanto o Brasil buscaria redirecionar cargas.
Esse choque veio em um momento de oferta interna apertada nos EUA e rebanho em baixa, o que torna a mistura para carne moída especialmente dependente de matéria-prima importada. Para analistas do mercado, a tarifa deve manter a carne brasileira economicamente inviável no curto prazo.
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NCBA quer suspensão total das importações; “tarifa é só primeiro passo”
A National Cattlemen’s Beef Association (NCBA) sustenta que a tarifa de 50% foi um “bom primeiro passo”, mas não é suficiente para responsabilizar o Brasil por supostas falhas de sanidade e segurança alimentar. A entidade tem defendido que o governo parta para medidas mais duras, como suspender temporariamente as compras até auditorias completas. Em intervenções públicas recentes, porta-vozes da associação reforçaram essa linha, retomando pedidos similares feitos nos últimos anos.
A NCBA também aponta barreiras ao acesso da carne americana ao mercado brasileiro e pede padrões de registro e rotulagem mais objetivos no comércio bilateral, tema que foi levado formalmente à USTR no processo atual.
Para os pecuaristas americanos, apenas a tarifa não mudará o incentivo econômico. Com moeda brasileira mais fraca e custo de produção menor, o Brasil poderia, em tese, absorver parte do imposto e seguir competitivo. Daí o apelo por restrições adicionais enquanto as alegações são verificadas.
O que a USTR avalia na audiência de hoje e qual o alcance da Section 301
A USTR abriu em 15 de julho de 2025 uma investigação Section 301 sobre atos e políticas do Brasil em seis frentes: comércio digital e meios de pagamento, tarifas preferenciais, anticorrupção, propriedade intelectual, acesso ao mercado de etanol e desmatamento ilegal. O procedimento inclui audiência pública em 3 de setembro, recebimento de comentários escritos e possibilidade de ações caso encontre práticas “injustificáveis ou discriminatórias”.
A pauta agrícola entrou na discussão por pressão de diversos setores. O cronograma oficial da audiência desta quarta-feira (3/9) confirma a oitiva de representantes da indústria e grupos de interesse de ambos os países. Decisões finais podem envolver novas medidas ou negociações com o governo brasileiro.
É importante notar que as tarifas de 50% vigentes sobre produtos brasileiros foram adotadas por ato separado do Poder Executivo americano, e eventuais medidas da Section 301 seriam adicionais se a USTR assim decidisse.
Por que importadores defendem a carne do Brasil, o déficit de lean trim e o preço do hambúrguer
Do outro lado do balcão, importadores e indústrias de processamento argumentam que os EUA têm “deficiência estrutural” de aparas magras (lean trim), insumo essencial para carne moída e hambúrguer. A Meat Import Council of America e outras entidades apontam que o Brasil supre lacunas e que restringir sua carne pode elevar preços ao consumidor.
A Reuters já havia destacado em julho que a tarifa de 50% sobre bens do Brasil tenderia a encarecer o hambúrguer nos EUA, dada a dependência de carne magra importada em um ciclo de produção doméstica apertada. Publicações setoriais também relatam a queda dos embarques do Brasil desde abril e o risco de novas pressões inflacionárias.
Para economistas ruralistas americanos, substituir integralmente o volume do Brasil com Austrália, Nova Zelândia ou Argentina é possível apenas parcialmente e a custo maior, o que não resolveria o curto prazo do mercado de ground beef.
Desvio de comércio para o Brasil, México assume 2º lugar e absorve parte do fluxo
Com os EUA menos acessíveis, exportadores brasileiros redirecionaram cargas e, em agosto, o México ultrapassou os EUA como segundo maior destino da carne bovina do Brasil, segundo a Abiec e dados acompanhados pela Reuters. O movimento confirma o desvio de comércio esperado após a tarifa de 50%.
Analistas veem tendência de maior diversificação de destinos no curto prazo, inclusive com o Brasil buscando novas habilitações de plantas para o mercado mexicano e tratativas comerciais na região.
Para os EUA, o vácuo tende a ser preenchido por parceiros alternativos, mas com preços mais altos, reforçando a disputa entre produtores domésticos e importadores em torno do custo ao consumidor.
Abiec diz que exportar ficou “inviável” e o risco de perda de até US$ 1 bilhão
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) afirma que, com a tarifa, novos embarques aos EUA ficam inviáveis e que as perdas podem chegar a US$ 1 bilhão em 2025. Em julho, o presidente da entidade, Roberto Perosa, já advertia que os frigoríficos avaliavam replanejar ou suspender remessas ao mercado americano.
Os números reforçam a dimensão do choque, no primeiro semestre, as vendas brasileiras aos EUA somaram cerca de 181 mil toneladas e US$ 1 bilhão, com crescimento expressivo na comparação anual, sobretudo em insumos para hambúrguer. Com a tarifa cheia, parte desse volume não se sustenta economicamente.
Para 2025, a indústria brasileira deve recalibrar destinos, acelerando envios para México e Ásia, enquanto monitora os desdobramentos da Section 301 e eventuais exceções.
E você, acha que o veto à carne do Brasil é mesmo preocupação sanitária ou medo da competitividade brasileira que pode guiar o mercado nos EUA? Deixe sua opinião nos comentários.