Fábrica desativada em Jacareí desperta interesse de nova montadora brasileira, que planeja híbridos com motor flex, longa autonomia e aposta em expansão industrial para duas regiões do país.
A fábrica da CAOA Chery em Jacareí (SP), inaugurada em 2014 como promessa de transformar a cidade em polo automotivo, está desativada desde 2022.
O terreno, doado pela prefeitura, pode ser retomado pelo município após notificação oficial para que a montadora apresente um plano de reativação.
Em meio a esse impasse, a brasileira Lecar surge como interessada em assumir o espaço e instalar ali parte de sua produção de veículos híbridos flex, segundo reportagem publicada por Paula Gama no portal UOL.
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Disputa por terreno industrial estratégico
A prefeitura de Jacareí enviou dois ofícios à CAOA Chery solicitando informações sobre a retomada das atividades. O prazo dado é de 45 dias.
Caso não haja proposta concreta, o município pretende iniciar um processo de desapropriação, pagando indenização calculada em R$ 17,7 milhões — diferença entre os R$ 46 milhões investidos pela cidade em infraestrutura e incentivos fiscais e o valor de avaliação atual do complexo, fixado em R$ 63,8 milhões.
O imóvel foi cedido à fabricante chinesa em 2011, com a promessa de gerar mais de 3 mil empregos diretos.
A operação começou em agosto de 2014, após um investimento estimado em US$ 400 milhões, mas não atingiu o volume de contratações previsto. Em 2020, havia apenas 444 funcionários.
Dois anos depois, a produção foi encerrada, 485 trabalhadores foram demitidos e o último veículo fabricado foi o SUV Tiggo 3X.
Lecar vê oportunidade de expansão
De acordo com apuração do UOL, a Lecar formalizou à prefeitura de Jacareí o interesse em ocupar o espaço.
O fundador, Flávio Figueiredo Assis, afirma que a planta de Jacareí não substituiria o projeto da empresa no Espírito Santo, mas serviria para ampliar a capacidade de produção e gerar empregos em duas regiões.
Essa não é a primeira vez que a Lecar tenta assumir instalações industriais de grande porte. Em 2024, disputou a fábrica da Ford em Camaçari (BA) com a BYD, mas não foi escolhida.
Na ocasião, Flávio chegou a anunciar planos de investir até R$ 8 bilhões e criar 15 mil vagas, metas que não avançaram.
Projeto original em Sooretama (ES) e cronograma adiado
A Lecar mantém como prioridade a construção de sua primeira fábrica em Sooretama, cidade natal de Flávio, com previsão de início de produção em agosto de 2026.
A primeira promessa, no entanto, era Caxias do Sul (RS), com início em 2024 e investimento previsto de R$ 1,1 bilhão para lançar um elétrico nacional.
O investimento total agora é estimado em R$ 870 milhões, dos quais R$ 90 milhões já teriam sido aplicados em projetos, consultorias e equipamentos.
A empresa aguarda a licença para iniciar as obras e pretende terceirizar parte dos processos, como a estamparia, utilizando estruturas já existentes no país.
Em janeiro de 2024, o fundador projetava produzir 300 carros por mês em dezembro do mesmo ano — meta que não foi cumprida.
“Venda na planta” e fila de interessados
Sem fábrica em operação, a Lecar estrutura sua comercialização no formato de “imóvel na planta”. O interessado paga R$ 9.000 para entrar na fila e quita o restante 30 dias antes do início da produção de seu veículo.
Há também uma modalidade de compra programada com parcelas mensais e entrega do carro na metade do plano de pagamento. Em caso de desistência, o cliente paga multa e recebe de volta parte do valor investido.
Flávio, chamado por apoiadores de “Elon Musk brasileiro”, afirma que há mais de 5 mil pessoas na fila de espera.
Segundo ele, “80% estão ali pela causa”, ou seja, pela ideia de ver um carro nacional nas ruas, e não apenas pelo produto.
Estrutura comercial antes da produção
Mesmo sem veículos nas ruas, a Lecar abriu a primeira concessionária em São Caetano do Sul (SP) e prepara uma segunda em Brasília.
A estratégia prevê lojas compactas de até 150 m², sem oficina própria, com pós-venda centralizado em service centers regionais.
“A gente quer capilaridade. Teremos mais lojas do que oficinas. Isso reduz custo e aumenta presença”, afirmou Flávio.
O modelo tem atraído lojistas independentes que nunca foram concessionários de montadoras tradicionais.
Segundo a empresa, mais de 300 empreendedores manifestaram interesse em abrir novas unidades.
Quem é a Lecar e o que ela planeja produzir
A montadora pretende lançar três modelos híbridos flex com tração elétrica: o cupê Lecar 459, a picape Campo e o SUV TÁTICO.
Todos usam o motor 1.0 turbo flex da Horse como gerador para as baterias, com promessa de autonomia de até 1.000 km. O 459 e o Campo custarão R$ 159.300, e o TÁTICO, R$ 189 mil.
Apoio de fornecedores e parcerias no setor
A Lecar diz ter recebido apoio de empresas como GM, Renault e Toyota, além de parcerias com WEG (gerador elétrico), Horse (motor 1.0 turbo flex), Grupo Randon (suspensão, freios e amortecedores), Maxion Wheels, Pirelli, Fanavid, Camaco, JBS Couros, Apolo (Marcopolo) e Keko.
Entre expectativas e riscos
O interesse na planta de Jacareí, revelado inicialmente pelo UOL, insere-se em um cenário de grandes planos e execução pendente.
A possibilidade de aproveitar uma estrutura pronta poderia reduzir prazos, mas depende do resultado das negociações com a prefeitura e da situação jurídica do terreno.
Ao mesmo tempo, a empresa precisa concluir sua primeira fábrica no Espírito Santo, garantir financiamento e iniciar a produção para transformar reservas em entregas.
A questão que se coloca é: a Lecar conseguirá transformar esse interesse em contrato e acelerar o início da produção de seus híbridos no Brasil?