Estados Unidos deslocam navios, aviões e submarino para o Caribe, enquanto Maduro mobiliza milicianos e tensão militar cresce na América do Sul
Nesta semana, os Estados Unidos enviaram ao mar do Sul do Caribe navios de guerra, aviões, pelo menos um submarino e cerca de 4.000 militares. O movimento ocorreu perto da costa da Venezuela e foi divulgado pelas agências Reuters e Associated Press.
O governo americano afirmou que a mobilização tem como objetivo combater cartéis de drogas que operam na região.
Eles estariam levando drogas da América do Sul para os EUA. O mais importante, segundo analistas, é que a medida também serve como recado político ao governo de Nicolás Maduro.
-
Enquanto o mundo fala em tarifas, guerras e BRICS, outra corrida mobiliza potências: armas capazes de ‘reduzir alvos a pó’
-
Por que a China copiou um helicóptero militar que os EUA abandonaram?
-
EUA pressionam Mercosul por acordo para garantir acesso a lítio, nióbio e terras raras — enquanto China já controla cadeias globais e quer prioridade em contratos e fornecimento do Brasil
-
Tensão aumenta: EUA cercam a Venezuela e China entra na briga diplomática
“Mísseis não combatem cartéis”
O cientista político Carlos Gustavo Poggio, professor do Berea College, nos EUA, considera improvável que o arsenal esteja voltado apenas ao combate ao narcotráfico.
“Mísseis não são para combater cartéis de drogas”, disse em entrevista ao g1. Ele destacou que não faz sentido usar um míssil Tomahawk contra organizações criminosas.
“Não faz sentido jogar um Tomahawk [míssil teleguiado lançado dos navios de guerra que pode viajar centenas de quilômetros] em um cartel“, afirmou.
Segundo Poggio, cartéis utilizam rotas terrestres, pequenas embarcações ou lanchas rápidas, e não navios de guerra ou aviões militares.
Portanto, para ele, o deslocamento de forças é eficaz para atacar ou invadir um país, e não para desmantelar cartéis.
Recompensa contra Maduro
O governo Trump tem aumentado a pressão contra o presidente venezuelano. Ao justificar o envio dos navios, a porta-voz Karoline Leavitt chamou Maduro de “fugitivo”, “narcoterrorista” e “não legítimo”. Ela afirmou que os EUA usariam “toda a força” contra o regime.
No início de agosto, Washington anunciou recompensa de US$ 50 milhões, equivalente a R$ 275 milhões, por informações que levem à prisão ou condenação de Maduro.
O Departamento de Justiça americano acusa o presidente venezuelano de conspirar com narcoterrorismo, traficar drogas, importar cocaína e usar armas em crimes ligados ao tráfico.
Além disso, afirma que Maduro lidera o chamado Cartel de los Soles, classificado como organização terrorista internacional.
Resposta da Venezuela
Em reação, Nicolás Maduro anunciou a mobilização de 4,5 milhões de milicianos. Ele afirmou que o objetivo é combater o que chamou de “ameaças” dos Estados Unidos.
A decisão de Washington preocupa pela possibilidade de uma escalada militar. Poggio lembrou que, caso ocorra uma invasão, será a primeira vez que os EUA atacariam diretamente um país da América do Sul.
O poderio americano
O deslocamento incluiu três destróieres equipados com o sistema Aegis, três navios de desembarque anfíbio, aviões espiões P-8 Poseidon e ao menos um submarino.
Segundo Poggio, esse efetivo tem alta capacidade ofensiva e pode transportar divisões terrestres inteiras. Ele reforçou que a mobilização mostra disposição militar de Washington além do discurso político.
Militarização como política
Trump tem se mostrado adepto do uso das Forças Armadas em situações de crise. Poggio recordou que o ex-presidente já defendeu a presença da Guarda Nacional em cidades como Los Angeles e Washington para conter protestos e crimes.
Essa visão explica, segundo ele, a decisão de equiparar cartéis de drogas a grupos terroristas. “Organizações criminosas não são organizações terroristas.
Não faz sentido confundir uma com outra”, afirmou. Contudo, essa classificação garante mais prerrogativas legais ao governo americano.
Cartel de los Soles
O Cartel de los Soles é apontado por Washington como liderado por altos oficiais do Exército da Venezuela.
Relatos da imprensa latino-americana indicam que o grupo facilita rotas de drogas para cartéis como o mexicano de Sinaloa e o venezuelano Tren de Aragua.
O governo Trump intensificou a pressão ao designar o cartel como organização terrorista. Alguns países da América do Sul seguiram o exemplo. O Equador, governado por Daniel Noboa, foi o primeiro.
Logo depois, o Paraguai, sob o presidente Santiago Peña, adotou medida semelhante. Nesta sexta-feira (22), a Guiana também anunciou a mesma decisão.
Para Poggio, esses governos buscam alinhar-se a Trump. Ele apontou que Equador e Paraguai são liderados por opositores do chavismo, enquanto a Guiana enfrenta disputa territorial com Caracas pela região de Essequibo.
O arsenal da Venezuela
Apesar do tom de enfrentamento, a Venezuela enfrenta sérios limites em sua capacidade militar. O Instituto Internacional para Estudos Estratégicos (IISS) divulgou relatório apontando “capacidades restritas” e “problemas de prontidão” nas Forças Armadas venezuelanas.
As sanções internacionais, o isolamento regional e a crise econômica prolongada dificultaram a compra de armas modernas e novas tecnologias. Com isso, a estratégia militar do país tem se apoiado em reparos e modernizações de equipamentos antigos.
Segundo o IISS, tanto a Força Aérea como a Marinha sofrem com problemas de prontidão. Embora possuam alguns sistemas considerados relativamente modernos, a real capacidade de uso permanece incerta.
Convergência de pressões
A tensão entre Caracas e Washington combina acusações criminais, movimentação militar e disputas regionais.
Para especialistas, a classificação de Maduro como líder de um cartel terrorista amplia a base legal para ações mais duras dos EUA.
Ao mesmo tempo, países vizinhos aproveitam a ofensiva americana para reforçar seus próprios interesses, seja por antagonismo político, seja por disputas de fronteira.
O mais importante, no entanto, é que a crise amplia o risco de um confronto inédito na América do Sul, em meio a uma Venezuela enfraquecida militarmente e um governo Trump que aposta em mostrar força.
Com informações de G1.