México e Colômbia já somam bilhões em depósitos e viram escudo para o Nubank, reduzindo a exposição ao Brasil. Mesmo com o 90+ em 6,6% no Brasil, a diversificação geográfica mantém o ROE elevado e suaviza a volatilidade do crédito.
O Nubank entrou no 2º semestre com uma mensagem clara, a expansão fora do Brasil não é vitrine, é proteção de ciclo. O banco digital reportou lucro líquido 42% maior no 2º trimestre, com receita de US$ 3,7 bilhões e quase 123 milhões de clientes, enquanto ajusta o modelo de crédito e aprofunda o relacionamento com a base. O ponto chave para o investidor e para o cliente é como México e Colômbia estão ajudando a diluir o “Risco Brasil” sem perder rentabilidade.
No mesmo período, a companhia registrou queda nos atrasos de 15 a 90 dias e leve alta nos atrasos acima de 90 dias, dinâmica atribuída à sazonalidade.
Com isso, a estratégia de expandir limites de forma seletiva e usar funding local nos mercados internacionais ganha ainda mais relevância, com efeito direto sobre o custo de capital e a qualidade do crédito.
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Por que México e Colômbia viram escudo agora
O ambiente doméstico está mais exigente. A inadimplência de 90+ dias no Brasil ficou em 6,6%, enquanto o early default recuou para 4,4%. Ao mesmo tempo, o teto do rotativo passou a limitar juros a 100% do principal, o que tende a comprimir parte das margens no cartão. Nesse pano de fundo, crescer com depósitos e crédito fora do país reduz a volatilidade consolidada.
A leitura de gestão é objetiva, diversificação geográfica ajuda a suavizar o ciclo quando uma praça piora, sem travar a originação onde há espaço e qualidade. O avanço do funding em moeda local em mercados andinos e no México ajuda a equilibrar a NIM e o nível de provisões, mantendo o ROE em patamar elevado.
A síntese é simples e relevante, quanto mais o Nubank bancariza México e Colômbia, menos dependente fica do humor do crédito no Brasil. Para o investidor, isso se traduz em menor beta de risco; para o cliente, em produtos mais competitivos, pois depósitos locais barateiam a captação.
México: licença bancária mais perto e depósitos em alta
No México, o banco superou 12 milhões de clientes e alcançou US$ 6,7 bilhões em depósitos. Esse avanço vem na esteira da aprovação regulatória para prosseguir no processo de licença bancária junto à CNBV, passo que antecede a autorização final após auditoria. Virar banco abre espaço para portfólio completo, de conta e crédito a serviços de salário.
Além de escala, há qualidade de funding. Depósitos locais em crescimento reduzem dependência de captação no Brasil e sustentam spreads mesmo com competição intensa. O cartão no México já é caso de tração relevante, servindo de porta de entrada para cross-sell com Cuenta Nu.
O ângulo competitivo é favorável, mercado ainda subpenetrado em serviços bancários digitais, incumbentes adaptando ofertas e consumidores respondendo a UX simples e tarifas baixas. Para os clientes mexicano, isso tende a significar contas mais atraentes e crédito com elegibilidade mais clara.
Colômbia: base cresce e “Cuenta Nu” abre portas
Na Colômbia, o Nubank atingiu 3,4 milhões de clientes e US$ 2,1 bilhões em depósitos, com alta de 841% em moeda constante na comparação anual. O avanço não é apenas de volume: a Cuenta Nu atua como funil de entrada para cartão e, gradualmente, pessoal e demais linhas.
Essa trajetória cria almofada de liquidez local e reduz a necessidade de transferir recursos do Brasil, o que mitiga risco de balanço em momentos de estresse. A lógica é a mesma do México, captar barato para emprestar com disciplina, preservando o retorno por cliente.
O efeito prático é mais opções de serviços financeiros digitais com experiência simplificada. Para o investidor, sinal de escala regional que começa a pesar no consolidado e dilui a concentração de risco.
O que acompanhar até dezembro
Primeiro, o desfecho da licença no México. A aprovação para avançar no processo já ocorreu e a etapa de auditoria operacional é o próximo marco. Um sinal de execução será o rollout de ofertas bancárias e a evolução do custo de captação.
Segundo, três métricas operacionais nas geografias internacionais: crescimento de clientes, trajetória de depósitos e cartões ativos. Se seguirem firmes, o Nubank deve manter o ROE próximo de 28% mesmo com ajustes no Brasil.
Terceiro, qualidade do crédito. Vale observar se o 15–90 segue recuando e se o 90+ estabiliza, validando a tese de sazonalidade. Com o teto do rotativo já em vigor, o mix e a precificação tornam-se ainda mais estratégicos. Para o leitor, isso se traduz em ofertas mais seletivas, porém com produtos de melhor custo-benefício.