Produção concentrada no Rio Grande do Norte, exportações crescentes e consumo interno limitado revelam contraste entre sucesso internacional e desafios de infraestrutura no Brasil.
O melão assumiu o posto de fruta mais exportada pelo Brasil no primeiro semestre deste ano. Foram cerca de 118 mil toneladas enviadas principalmente para a Europa.
No ano anterior, a fruta havia encerrado em segundo lugar, com 243 mil toneladas, atrás apenas da manga, que alcançou 260 mil toneladas.
Produção e consumo no Brasil
O Brasil figura como terceiro maior exportador de melão no mundo, considerando todas as variedades.
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Porém, ocupa apenas a oitava posição na lista dos maiores produtores. Isso, segundo especialistas, mostra que o consumo interno ainda é baixo.
Carlo Porro, CEO da Agrícola Famosa, afirma que o mercado brasileiro “não conhece o melão”.
Para ele, a quebra da cadeia de frio é o principal motivo da baixa adesão do público. “Para você consumir melão da maneira adequada no Brasil, é preciso manter toda a cadeia de frio, diferentemente da Europa. Aqui, quando a fruta chega à gôndola, essa cadeia de frio (transporte refrigerado) acaba sendo quebrada e ela perde qualidade. O consumidor, então, não tem a experiência adequada por conta de um problema de infraestrutura da própria distribuição brasileira”, explicou ao site Dinheiro Rural.
Impacto no Nordeste
Apesar dos desafios de consumo interno, o cultivo do melão é essencial para a agricultura do país, principalmente no Nordeste.
O Rio Grande do Norte lidera a produção nacional, respondendo por 70% do total. Mais de 20 mil pessoas trabalham diretamente no setor no estado.
A Agrícola Famosa, uma das maiores produtoras e exportadoras do mundo, tem sede entre Mossoró (RN) e Icapuí (CE).
A empresa colhe cerca de 1 milhão de frutos por dia em uma área cultivada que ultrapassa 11 mil hectares. No total, administra mais de 30 mil hectares em quatro estados nordestinos, produzindo também melancia e uva.
Estados Unidos e tarifas
As tarifas aplicadas pelos Estados Unidos não afetam tanto a empresa, segundo Porro. Ele explica que os embarques para lá são pequenos diante do total exportado. “Se eles quiserem a nossa fruta, vão ter que pagar mais. Mas, se tivermos que abortar o projeto por um ou dois anos até essa situação se resolver, não nos afeta”, disse.
Para 2024, a previsão era de 300 contêineres destinados ao mercado norte-americano, número considerado baixo dentro do universo da empresa. Ainda assim, o grupo investe em frutas premium para atender ao público local.
Preferência do consumidor
No mercado interno, o melão amarelo responde por mais de 90% da produção nacional.
Ele é o preferido dos brasileiros e se consolidou ao longo das décadas. Já na Europa, quem ganha espaço é o Pele de Sapo, enquanto o cantaloupe abastece principalmente os Estados Unidos.
O melão mostra força no comércio exterior e segue como uma das principais frutas brasileiras no cenário internacional.
Enquanto o consumo interno enfrenta limitações de infraestrutura e tradição, as exportações consolidam o produto como peça-chave da fruticultura nacional.
Com o domínio do Rio Grande do Norte, o Brasil se firma cada vez mais como referência no setor, mesmo diante dos desafios impostos por tarifas e hábitos de consumo.