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Mais preciso que qualquer outro no planeta, este relógio atômico é capaz de sentir a gravidade mudar

Escrito por Débora Araújo
Publicado em 15/07/2025 às 11:39
Mais preciso que qualquer outro no planeta, este relógio atômico é capaz de sentir a gravidade mudar
Crédito: R. Jacobson/NIST
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Pesquisadores do NIST quebram recorde global com um relógio atômico de íons de alumínio, capaz de medir o tempo com precisão de 19 casas decimais. Entenda como essa tecnologia pode revolucionar a ciência.

A busca pela precisão máxima no tempo acaba de atingir um novo patamar. Cientistas do Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia dos EUA (NIST) desenvolveram o relógio mais preciso do mundo, superando todas as versões anteriores — inclusive seus próprios recordes — com um avanço de 41% em precisão e 2,6 vezes mais estabilidade do que qualquer outro relógio iônico conhecido.

O segredo está em um único íon de alumínio aprisionado, cuidadosamente manipulado por lasers e sistemas de vácuo ultracontrolados. A nova máquina do tempo atômica consegue medir o tempo com precisão até a 19ª casa decimal, um feito tão minucioso que equivale a errar em apenas um segundo a cada 30 bilhões de anos — mais que o dobro da idade estimada do universo.

O que é um relógio atômico e por que ele é tão importante?

Relógios atômicos não têm ponteiros nem engrenagens. Eles medem o tempo contando as oscilações regulares de átomos — como o césio, tradicionalmente usado para definir o segundo. No entanto, os relógios atômicos ópticos, como o novo modelo com tecnologia de íons de alumínio, operam em frequências de luz muito mais altas, o que permite contar mais “tiques” por segundo, aumentando drasticamente a precisão.

Mais preciso que qualquer outro no planeta, este relógio atômico é capaz de sentir a gravidade mudar
Crédito: R. Jacobson/NIST

Esses instrumentos têm aplicações fundamentais em GPS, redes de telecomunicação, satélites meteorológicos, física fundamental, computação quântica e até mesmo medição da gravidade com altíssima precisão, ramo conhecido como geodésia relativística.

Por que o alumínio?

O íon de alumínio (Al⁺) é excepcionalmente estável e tique-taqueia com uma regularidade difícil de perturbar, mesmo em ambientes com variações de temperatura e campo magnético. Isso o torna mais preciso que o césio, mas há um problema: o alumínio é difícil de manipular com lasers.

A solução encontrada foi emparelhar o íon de alumínio com um íon de magnésio (Mg⁺) em uma técnica chamada espectroscopia de lógica quântica. O magnésio atua como um “intérprete” óptico, resfriando o alumínio e permitindo que seus estados sejam lidos indiretamente, sem perturbar sua estabilidade.

Engenharia extrema: da armadilha ao laser

Construir um relógio com tamanha precisão exigiu 20 anos de aprimoramentos contínuos. Entre os desafios, estava o micromovimento excessivo causado por imperfeições na armadilha que mantém os íons em posição. Pequenos desequilíbrios elétricos alteravam a frequência dos tiques. Para corrigi-los, os cientistas redesenharam a armadilha com pastilhas de diamante e eletrodos de ouro mais espessos, estabilizando o campo elétrico ao redor dos íons.

Crédito: NIST

Outro obstáculo era o vácuo. Câmaras tradicionais de aço liberam pequenas quantidades de hidrogênio, que colidem com os íons e prejudicam a medição. O time trocou o material por titânio, o que reduziu a presença de gás residual em 150 vezes, permitindo que o relógio funcione por dias sem intervenção — antes, era necessário recarregar a armadilha a cada meia hora.

O laser mais estável do mundo entra em cena

Mesmo com o íon mais estável e a armadilha mais precisa, faltava ainda um laser de referência com ruído quântico mínimo. Para isso, o NIST recorreu a Jun Ye, do laboratório JILA (ligado ao NIST e à Universidade do Colorado), criador do anterior recordista mundial: o relógio de estrôncio óptico.

Por meio de fibras ópticas subterrâneas, a equipe conectou o laser ultraestável de Ye, a 3,6 km de distância, ao laboratório do relógio de alumínio. Um pente de frequência — uma espécie de régua óptica — permitiu transferir a estabilidade do laser de Ye para o novo relógio. Resultado: o tempo de medição para alcançar 19 casas decimais caiu de três semanas para apenas um dia e meio.

O que isso muda na prática?

Além de bater um recorde científico, o novo relógio atômico de íon de alumínio pode ter impactos profundos:

  • Redefinição do segundo: o sistema internacional já discute atualizar a definição de segundo baseada em relógios ópticos mais precisos do que os de césio;
  • Exploração da física fundamental: esse nível de precisão pode detectar variações nas constantes fundamentais da natureza, como a constante de estrutura fina, abrindo caminho para testar teorias além do Modelo Padrão da física;
  • Geodésia relativística: o relógio pode sentir pequenas variações no campo gravitacional da Terra, permitindo mapear altitudes com precisão milimétrica — algo útil em monitoramento de mudanças climáticas, tectonismo e até exploração espacial;
  • Tecnologia quântica: a lógica quântica utilizada pode ser adaptada para computadores quânticos e sensores de altíssima precisão.

O tempo como ferramenta de descoberta

“Estamos prontos para explorar novas arquiteturas de relógio — como entrelaçamento de múltiplos íons — que podem elevar ainda mais nossa capacidade de medição”, disse Willa Arthur-Dworschack, estudante de pós-graduação e coautora do estudo, publicado na Physical Review Letters.

Para além dos segundos e décimos, este relógio é uma janela para o invisível. Ao refinar a forma como medimos o tempo, os cientistas podem revelar sutilezas do universo que até agora escapavam à observação humana.

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Débora Araújo

Débora Araújo é redatora no Click Petróleo e Gás, com mais de dois anos de experiência em produção de conteúdo e mais de mil matérias publicadas sobre tecnologia, mercado de trabalho, geopolítica, indústria, construção, curiosidades e outros temas. Seu foco é produzir conteúdos acessíveis, bem apurados e de interesse coletivo. Para sugestões de pauta, correções ou contato direto: deborasthefanecruz@gmail.com

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