A empresa dinamarquesa é a maior em navegação no planeta e está na disputa pelo cais interno do EAS
Não é de agora que a Maersk, maior empresa de navegação do mundo, está de olho no Estaleiro Atlântico sul, localizado no Porto de Suape, na cidade do Cabo de Santo Agostinho, litoral sul de Pernambuco. A dinamarquesa vem tendo conversas com o EAS desde o início da recuperação judicial, em fevereiro de 2020. E agora revelou seus planos caso vença o leilão que ocorreria nessa quinta-feira (07), mas que agora está sem nova data marcada.
Por meio de sua subsidiária APM Terminals, a Maersk revelou ao Valor Econômico que quer começar sua eventual operação no Estaleiro Atlântico Sul, no Porto de Suape, com uma capacidade inicial de 400 mil TEUs (medida equivalente a um contêiner de 20 pés).
De acordo com o gerente de Desenvolvimento Corporativo da APM Terminals na América Latina, Leonardo Levy, esse seria “apenas” o ponto de partida. A partir daí, a expectativa é que o mercado reaja aos menores preços e que seja possível expandir a capacidade, fazendo de Suape um ‘hub’ para o Nordeste.
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“Vemos muito potencial em Suape. Além da possibilidade de agregar mais serviços de longa distância, há espaço para converter mais carga de caminhões à cabotagem, que é muito forte no porto, mas ainda sofre com preços altos. Queremos trazer mais competição a esse mercado”.
Leonardo Levy – gerente de Desenvolvimento Corporativo da APM Terminals na América Latina
Planejamento da Maersk é investir R$ 2,6 bilhões em um novo terminal de contêineres
Caso arremate o leilão do cais interno do Estaleiro Atlântico Sul no Porto de Suape, a Maersk pretende investir até R$ 2,6 bilhões em um novo terminal de contêineres no local. Para vencer a disputa, terá que ofertar valores que superem suas principais concorrentes, a outra gigante global de origem filipina Tecon e um consórcio internacional secreto que esteve recentemente em Pernambuco e apresentou uma forte proposta de compra do espaço total por US$ 215.000.000,00.
A oferta inicial da Maersk foi de R$ 895 milhões pelo cais sul. A empresa dinamarquesa, o consórcio secreto e as demais concorrentes, Tecon e Cone Sul, tiveram a quarta-feira (06) como data para entrega de ofertas. Essas duas últimas, que já atuam no Porto de Suape, vem tentando travar o leilão, argumentando que o Estaleiro Atlântico Sul não teria feito o processo competitivo para escolher a APM como “stalking horse”, o que teria prejudicado a concorrência.
A Justiça local que havia rejeitado pedido de suspensão, agora resolveu acatar o pedido da Tecon e, assim, decidiu pela suspensão do leilão, gerando mais um capítulo nessa história. Segundo consta nos autos do pedido, “a empresa autora do processo alegou que se faz necessária a observância ao princípio constitucional da isonomia a fim de garantir igualdade de oportunidades, no entanto o Estaleiro Atlântico Sul resolveu conferir Stalking Horse à empresa APM Termianis B.V. (APMT), integrante do grupo Maersk”.
Stalking Horse é a oferta inicial e antecipada que um comprador interessado faz para tentar fechar negócio com uma empresa que está em recuperação judicial, conferindo a prerrogativa de preferência mediante a oportunidade de cobrir a melhor oferta.
Além do cais sul, desejada pela Maersk, o leilão tem o objetivo de encontrar um comprador para um segundo espaço, denominado UPI-B Central, avaliado em R$ 595 milhões. Em outubro de 2021, o Estaleiro Atlântico Sul chegou a realizar um leilão dos dois terrenos juntos, por R$ 895 milhões, mas não houve que apresentasse interesse. Portanto, agora a ideia é vender dividido.
Expectativa é para geração de milhares de empregos
Atualmente, o Estaleiro Atlântico Sul conta com cerca de 500 funcionários. Entre os anos de 2007 e 2014, todo o EAS chegou a gerar mais de 11 mil empregos. Naquela época, o estado de Pernambuco foi apontado como situação de quase pleno emprego (quando a taxa de desemprego não passa dos 6%).
Todo o complexo industrial portuário de Suape chegou a concentrar mais de 65 mil trabalhadores e trabalhadoras vindos não só de Pernambuco, mas também de várias partes do Brasil. Naquele momento, estavam instalados grandes empreendimentos, como estaleiros, refinaria, um polo de equipamentos para a indústria eólica, entre outros.
Dos mais de 60 mil trabalhadores, pouco mais de 42 mil estiveram empregados no ápice das obras da Refinaria Abreu e Lima. Em 2021, a empresa realizou serviços em 11 embarcações, o que gerou receitas de R$ 65,4 milhões tornando possível uma geração de caixa líquida de R$ 26,6 milhões.
O Estaleiro Atlântico Sul, no Porto de Suape, é administrado pelas empreiteiras Queiroz Galvão e Camargo Correa. As empresas têm o objetivo de pagar dívidas com o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social, através da venda de ativos. O BNDES é o maior credor do antigo projeto de indústria naval.