Petrobras reativa fábrica com um investimento de R$ 870 milhões apesar de um histórico de prejuízos. Especialistas questionam a viabilidade da operação, que gerou mais lucro enquanto estava parada. Será esse um movimento político ou uma decisão econômica acertada?
A Petrobras investe pesado e reativa a fábrica Araucária Nitrogenados (Ansa), que, ironicamente, gerou mais lucro enquanto esteve fechada.
A decisão, que inclui um investimento de R$ 870 milhões, levanta dúvidas sobre a viabilidade da operação. Será que essa reabertura é realmente necessária ou apenas um tiro no pé?
Na quinta-feira (15), a Petrobras oficializou a retomada da produção na fábrica de fertilizantes Araucária Nitrogenados (Ansa), em Araucária, Paraná.
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A cerimônia, marcada pela presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente da Petrobras, Magda Chambriard, celebrou o retorno de uma unidade que estava hibernada desde 2020, após várias tentativas fracassadas de venda.
Viabilidade econômica é questionada
No entanto, a reativação dessa fábrica, que foi motivo de prejuízos bilionários no passado, gera desconfiança.
Segundo o balanço da Petrobras de 2019, a continuidade da Ansa não se mostrava viável economicamente devido às características do mercado de atuação e às projeções de resultados negativos. Para muitos, a dúvida persiste: por que investir em uma operação que já demonstrou ser deficitária?
Estudos indicam viabilidade, mas especialistas discordam
Segundo comunicado divulgado pela Petrobras, a decisão de retomar as atividades foi precedida por estudos que comprovaram a viabilidade técnica e econômica do projeto.
Todavia, essa avaliação não convence todos os especialistas do setor. De acordo com uma fonte ouvida pela jornalista Isadora Camargo, a fábrica é considerada “extremamente ineficiente,” o que coloca em xeque o otimismo em torno do investimento bilionário.
Histórico de altos e baixos da Ansa
A história da Ansa é marcada por altos e baixos. Fundada em 1982 e privatizada em 1993, a fábrica foi repassada à Vale Fertilizantes, que mais tarde foi adquirida pela Mosaic. Em 2012, sob o governo Dilma Rousseff, a Petrobras recomprou a unidade, mas a rentabilidade continuou problemática. Desde então, a Ansa só deu lucro em 2015, 2021 e 2022 — curiosamente, nos dois últimos anos, a fábrica estava fechada.
Prejuízos e desempenho operacional preocupam
Os prejuízos acumulados pela Ansa ao longo dos anos são alarmantes. No fim de 2023, os déficits somavam R$ 2,24 bilhões, segundo dados levantados pelo Valor Pro. Esse cenário levanta ainda mais dúvidas sobre o retorno das operações.
O problema não se resume aos prejuízos líquidos, mas se estende ao desempenho operacional. Em oito anos como subsidiária da Petrobras, a receita da Ansa não cobriu os custos de operação em sete desses anos. Em 2019, por exemplo, a receita de vendas foi de R$ 606 milhões, enquanto os custos operacionais chegaram a R$ 832 milhões.
Investimento ou movimento político?
A pergunta que paira no ar é: o que mudou no mercado para justificar essa reabertura? Caso não haja uma mudança radical nas condições de mercado, é possível que o investimento bilionário seja mais um movimento político do que uma decisão baseada em viabilidade econômica.
Segundo o jornalista Nelson Niero, do Valor Econômico, a reativação da Ansa pode ser vista como uma tentativa de impulsionar a economia local e gerar empregos. Contudo, resta saber se essa estratégia não resultará em mais prejuízos para a estatal, que já carrega um histórico de operações deficitárias nessa planta.
O que o futuro reserva para a Ansa?
A decisão de reativar a Ansa divide opiniões, e a pergunta que fica é: essa reabertura trará realmente algum benefício econômico ou estamos diante de mais um investimento social que pesa no bolso da Petrobras? Os próximos capítulos dessa história prometem trazer mais esclarecimentos, mas as dúvidas permanecem.