Baiana de 15 anos cria sistema movido à luz solar que purifica água da chuva no sertão e conquista prêmio da ONU por inovação ambiental e impacto social.
Aos 15 anos de idade, enquanto milhares de adolescentes ainda decidiam o que cursar na faculdade, Anna Luísa Beserra, nascida em Salvador, Bahia, já estava determinada a mudar a vida de comunidades inteiras. O que começou como um trabalho escolar sobre sustentabilidade virou, anos depois, um projeto reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como uma das inovações ambientais mais importantes da América Latina.
Em 2019, Anna foi premiada com o Young Champions of the Earth, concedido pela ONU Meio Ambiente, após desenvolver o Aqualuz, um sistema simples, acessível e movido à energia solar capaz de purificar a água da chuva armazenada em cisternas no semiárido nordestino. A invenção, criada quando ela ainda era estudante do ensino médio, nasceu da observação da realidade: famílias do sertão precisando caminhar quilômetros em busca de água potável, mesmo em locais onde a chuva era coletada, mas permanecia imprópria para o consumo.
Uma ideia nascida no coração do semiárido
A inspiração de Anna surgiu durante um programa educacional sobre sustentabilidade promovido em sua escola. Com apenas 15 anos, ela começou a pesquisar métodos alternativos para o tratamento de água. Ao visitar comunidades rurais no interior da Bahia, percebeu que, embora as cisternas instaladas por programas sociais armazenassem água da chuva, essa água nem sempre era segura.
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“Percebi que o problema não era apenas a escassez, mas a contaminação. Muitas famílias estavam adoecendo por consumir água sem tratamento”, contou Anna em entrevista à Agência Brasil.
Determinada a criar uma solução viável e barata, ela começou a desenvolver um sistema que usasse apenas a luz do sol como agente purificador. Assim nasceu o protótipo do Aqualuz, que hoje já é reconhecido internacionalmente como uma das tecnologias sociais mais promissoras do Brasil.
Como funciona o sistema Aqualuz
O Aqualuz é composto por um reservatório conectado à cisterna. A água captada da chuva é conduzida para uma caixa transparente, onde é exposta à radiação solar por cerca de quatro horas, eliminando bactérias e micro-organismos patogênicos.
Não há necessidade de energia elétrica, produtos químicos ou manutenção complexa, apenas o sol e o tempo certo de exposição.
Segundo dados da startup fundada por Anna, a Safe Drinking Water for All (SDW), cada equipamento tem vida útil de até 20 anos e é capaz de purificar até 10 litros de água por hora, atendendo uma família inteira. Além disso, o dispositivo conta com sensores que indicam quando a água está pronta para o consumo.
A tecnologia foi testada e certificada por laboratórios da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e recebeu apoio de programas de pesquisa do SEBRAE e da Fundação Toyota.
Reconhecimento da ONU e impacto social
O prêmio Young Champions of the Earth, concedido pela ONU Meio Ambiente, é voltado a jovens empreendedores com projetos inovadores e de alto impacto ambiental. Em 2019, Anna Luísa foi escolhida como representante da América Latina e do Caribe — tornando-se a primeira brasileira da história a receber a honraria.
Na cerimônia de entrega, realizada em Nova York, a ONU destacou que o Aqualuz “é um exemplo claro de como a tecnologia simples, baseada em soluções locais, pode transformar comunidades e melhorar vidas em regiões vulneráveis”.
Desde então, o sistema já foi instalado em diversas comunidades rurais da Bahia, Piauí, Pernambuco e Ceará, beneficiando mais de 3.000 pessoas com acesso a água potável. Em parceria com ONGs e governos locais, o projeto também capacita moradores das próprias comunidades para instalar e manter os equipamentos, gerando emprego e renda.
Da invenção escolar à startup social premiada
O sucesso do Aqualuz levou Anna a fundar sua própria empresa social, a SDW for All, com o objetivo de expandir a solução para outros países da América Latina e da África.
Hoje, aos 26 anos, ela é reconhecida como uma das principais jovens empreendedoras ambientais do planeta, segundo a revista Forbes, que a incluiu na lista Under 30 de 2020 na categoria Ciência e Educação.
Em declarações à imprensa, Anna costuma destacar que o impacto de seu trabalho vai além da tecnologia:
“A inovação não está apenas em criar um produto, mas em entender a realidade das pessoas e devolver dignidade por meio da ciência. O Aqualuz é sobre isso: garantir que a água chegue limpa a quem mais precisa.”
Além do prêmio da ONU, o projeto já recebeu reconhecimento da Federação das Indústrias da Bahia (FIEB), da Agência Nacional de Águas (ANA) e de instituições internacionais ligadas à sustentabilidade e à economia verde.
Um modelo que inspira o futuro da engenharia ambiental
O caso de Anna representa uma virada importante na forma como o Brasil é visto no cenário científico global. Em um país historicamente carente de investimentos em pesquisa, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, a trajetória da jovem baiana prova que a inovação pode surgir de onde menos se espera.
A ONU destacou em relatório de 2022 que tecnologias como o Aqualuz têm papel fundamental para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), especialmente o ODS 6 — Água potável e saneamento para todos.
Hoje, Anna é convidada frequente em fóruns internacionais de sustentabilidade e atua em projetos de educação ambiental voltados a meninas e jovens pesquisadores. Em palestras, ela costuma lembrar que a simplicidade do sistema é o segredo do seu sucesso:
“A luz do sol está em todo lugar. Bastava olhar para ela de um jeito diferente.”
Do sertão à ONU: a jornada de uma ideia que virou esperança
A história de Anna Luísa Beserra é mais do que um exemplo de empreendedorismo social — é um retrato da capacidade do Brasil de produzir soluções reais para problemas globais. O que nasceu como um projeto escolar de uma adolescente curiosa hoje garante água limpa, saúde e dignidade a famílias inteiras do sertão.
E, enquanto o sol continuar brilhando sobre o semiárido, a invenção dessa jovem baiana seguirá transformando o impossível em cotidiano — um copo de água limpa de cada vez.


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