Presidente da Febraban alerta para o risco do uso de cartões de crédito em apostas e cassinos virtuais, destacando que o aumento da inadimplência pode elevar as taxas de juros.
Nos últimos anos, as apostas esportivas e eletrônicas, conhecidas como bets, se tornaram uma verdadeira febre no Brasil. Milhões de brasileiros estão mergulhando nesse mundo, atraídos pela promessa de dinheiro fácil e rápido. No entanto, essa explosão de apostas também trouxe uma série de problemas financeiros e sociais. Recentemente, o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, defendeu a proibição imediata do uso de cartões de crédito como forma de pagamento para bets e plataformas de cassino virtual, como o jogo do tigrinho.
Por que proibir o uso de cartões de crédito nas apostas?
Durante um evento com jornalistas, Sidney fez um apelo claro ao governo federal: proibir o uso de cartões de crédito para pagamentos em plataformas de apostas. O principal argumento do presidente da Febraban é que essa modalidade de pagamento tem o potencial de comprometer seriamente as finanças dos correntistas e aumentar a inadimplência no país.
Sidney afirmou: “O governo deveria usar todos os meios legais para proibir, imediatamente, o uso do cartão de crédito para a realização de jogos. O uso desse produto já está afetando o consumo das famílias e aumentando a inadimplência”.
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Ele também revelou que já tratou do assunto diretamente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Segundo Sidney, o crescimento das apostas esportivas pode ter impacto direto no aumento dos juros para concessão de crédito, já que a inadimplência tende a crescer com o endividamento causado pelas apostas.
A posição da Febraban e o cenário atual das apostas no jogo do tigrinho
Apesar do forte posicionamento de Sidney, a Febraban divulgou uma nota esclarecendo que a opinião expressa pelo seu presidente é pessoal, e que ele não fala oficialmente em nome da federação ou dos bancos associados. Mesmo assim, o tema ganha cada vez mais relevância no cenário financeiro brasileiro.
Desde abril deste ano, o Ministério da Fazenda já havia tomado medidas para regular as apostas eletrônicas, determinando que os pagamentos só poderão ser feitos via Pix, transferência bancária ou débito. Essa nova regra, contudo, só entrará em vigor em janeiro de 2025, quando a regulamentação oficial das bets será implementada.
O uso de cartões de crédito para apostas continua liberado até lá, o que, na visão de Sidney, é preocupante, dado o impacto que essa prática pode ter sobre o orçamento das famílias brasileiras.
Crescimento das apostas e os riscos de endividamento
O número de brasileiros que se aventuram nas apostas esportivas e eletrônicas, como o jogo do tigrinho e outros tipos de cassinos virtuais, só aumenta. Em 2024, estima-se que cerca de 25 milhões de pessoas no Brasil tenham realizado algum tipo de aposta online. Esse crescimento, no entanto, está longe de ser positivo para as finanças pessoais de muitos jogadores.
Segundo uma pesquisa do Instituto Locomotiva, 86% dos apostadores no Brasil possuem algum tipo de dívida, e 64% estão com o nome negativado. Isso demonstra que as apostas estão levando cada vez mais pessoas a situações financeiras complicadas. O que começa como uma tentativa de ganhar dinheiro rápido acaba se transformando em um ciclo vicioso de endividamento.
Para muitas famílias, especialmente nas classes D e E, as apostas já representam uma fatia considerável do orçamento. Um estudo da PwC mostrou que, nessas classes sociais, 1,38% da renda familiar está sendo destinada às bets. Esse número é cinco vezes maior do que o registrado há cinco anos, indicando que o impacto econômico das apostas está crescendo rapidamente.
O papel dos bancos e as consequências psicológicas
Os impactos negativos das apostas não são apenas financeiros. O vício em jogos de azar, especialmente online, pode trazer sérias consequências psicológicas para os jogadores. A sensação de vitória, mesmo que rara, libera dopamina no cérebro, ativando o sistema de recompensa e levando o apostador a buscar incessantemente essa sensação de prazer. Com o tempo, isso pode se transformar em um comportamento compulsivo, no qual o jogador continua apostando mesmo diante de perdas financeiras expressivas.
Para os bancos, essa realidade apresenta um desafio adicional. A Febraban já está estudando como o crescimento das apostas pode impactar o superendividamento das famílias e, por consequência, o aumento da inadimplência no sistema financeiro. A longo prazo, isso pode se refletir em taxas de juros mais altas para concessão de crédito, já que os riscos de não pagamento aumentam.
Como a proibição dos cartões de crédito pode ajudar
A proibição do uso de cartões de crédito nas apostas eletrônicas, incluindo as com o popular jogo do tigrinho, pode ser uma medida eficaz para diminuir o impacto financeiro e psicológico causado por essa prática. Ao limitar as formas de pagamento a opções como Pix, transferência ou débito, o governo pode ajudar a evitar que os jogadores gastem dinheiro que não possuem, o que, por sua vez, pode reduzir os casos de inadimplência.
Embora ainda não seja uma realidade, a defesa de Sidney para a antecipação dessa proibição mostra que há uma preocupação genuína em proteger os brasileiros do impacto negativo das apostas eletrônicas. Ao proibir o uso de cartões de crédito, a esperança é de que menos pessoas se endividem e que o mercado de apostas seja um pouco mais regulado.