Indústrias brasileiras avaliam transferir fábricas ao Paraguai para escapar de tarifas de 50% impostas pelos EUA, atraídas por incentivos fiscais, logística curta e nova lei de competitividade
A pressão tributária dos Estados Unidos contra produtos brasileiros está abrindo uma nova rota industrial na região.
Grandes companhias instaladas no Brasil começam a olhar para o Paraguai como plataforma de produção e exportação, movimento confirmado pelo vice-ministro da Indústria do país vizinho, Marco Riquelme, após a realização do Paraguay Business Week, em Ciudad del Este.
Segundo Riquelme, mais da metade dos participantes do evento eram paraguaios, o que demonstra um novo dinamismo industrial local.
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Essa abertura, ressaltou ele, é estratégica para atrair investidores externos, já que facilita associações com empresários paraguaios que dominam as particularidades do mercado nacional, oferecendo segurança para instalação de fábricas e geração de empregos.
“É a união do conhecimento técnico de que produto fabricar com o conhecimento local dos nossos profissionais. Essa combinação representa uma aposta sólida em investimento, onde ambas as partes saem fortalecidas”, destacou.
A ameaça dos novos impostos dos EUA
O alerta vem da nova taxação norte-americana, que impôs tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros. Diante desse cenário, diversos empresários do Brasil que vendem diretamente aos EUA já demonstram preocupação e analisam transferir operações para o Paraguai.
Dessa forma, poderiam manter seus clientes internacionais sem arcar com os custos adicionais que agora recaem sobre a produção em território brasileiro.
“Existem grandes indústrias brasileiras assustadas com essa medida e que veem o Paraguai como futuro abrigo para suas fábricas”, contou o vice-ministro.
Relações regionais e déficit no Mercosul
Questionado sobre como esse movimento pode impactar as relações com Brasil e Argentina, Riquelme descartou efeitos negativos.
Segundo ele, o Paraguai ainda possui déficit na balança comercial de manufaturados dentro do Mercosul e está longe de equilibrar as trocas com os países que concentram os maiores mercados.
No entanto, assegurou que a comunicação com os vizinhos é constante e que o caminho adotado fortalece a integração produtiva.
Lei de incentivos e logística estratégica
Outro pilar dessa guinada é a nova lei de incentivos industriais, que promete elevar a competitividade paraguaia. Riquelme comparou a legislação a regimes já existentes em regiões como Manaus, no Brasil, e Tierra del Fuego, na Argentina, mas destacou que o Paraguai tem uma vantagem logística inegável.
Enquanto a distância entre Encarnación e Buenos Aires chega a mil quilômetros, de Ciudad del Este até São Paulo a rota é quatro vezes mais curta, reduzindo custos e prazos. Essa condição, somada a estímulos fiscais, transforma o país em alternativa mais rápida e econômica para atender os principais centros consumidores da região.
Mercosul como um só mercado
Para Riquelme, a estratégia de atrair indústrias estrangeiras deve estar associada a uma visão integrada do bloco regional.
“Precisamos conceber o Mercosul como um único país. Muitas vezes, até mesmo conversando com empresários brasileiros ou argentinos, ressaltamos que para nós não há divisão. O Mercosul foi criado justamente para isso”, afirmou.
Com essa mentalidade prática, o Paraguai aposta em se tornar ponto de apoio industrial dentro do bloco, aproveitando vantagens fiscais e logísticas para captar investimentos, gerar empregos e, ao mesmo tempo, contribuir para o aumento da produtividade dos vizinhos.