A exportação de celulose ajuda Brasil a manter o fôlego, mas tarifaço de Trump impacta a indústria de madeira e móveis.
A indústria brasileira de árvores, responsável por gerar anualmente cerca de R$ 200 bilhões e empregar quase 3 milhões de pessoas, enfrenta um dos maiores desafios da última década.
Desde 2024, as tarifas de Trump vêm pressionando a competitividade do setor, afetando especialmente exportadores de madeira e móveis.
O Brasil, no entanto, conseguiu preservar parte de sua força internacional graças ao desempenho da celulose importação, produto que se mantém competitivo mesmo diante do tarifaço americano.
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A disputa comercial ganhou força após o governo dos Estados Unidos impor sobretaxas sobre diversos produtos brasileiros.
A justificativa do republicano Donald Trump foi clara: fortalecer a indústria nacional americana e, ao mesmo tempo, proteger a segurança econômica do país.
Para o Brasil, entretanto, a medida trouxe consequências diretas nas exportações e no emprego de milhares de trabalhadores.
Celulose mantém respiro no comércio exterior
Mesmo em meio à pressão internacional, a celulose segue como o segmento mais sólido. Atualmente, cerca de 3,5% das exportações brasileiras para os EUA correspondem à celulose, o equivalente a US$ 94 milhões em 2024, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic).
Graças à isenção da sobretaxa de 40% e à reversão de uma alíquota de 10%, anunciada em abril, 90% da celulose exportada pelo Brasil ficou livre das tarifas de Trump. O alívio foi comemorado pelo setor.
“Temos clientes muito relevantes nos Estados Unidos. De certa forma, uma parte importante do setor respira”, afirmou Paulo Hartung, presidente da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), em entrevista à CNN Money.
Madeira e móveis brasileiros sofrem com tarifas de Trump
Se a celulose ainda encontra espaço para crescer, o mesmo não acontece com outros segmentos da indústria de base florestal.
A madeira processada, por exemplo, responde por 1,2% das exportações brasileiras aos EUA (US$ 34,2 milhões em 2024) e já sente os efeitos das sobretaxas.
Empresas chegaram a decretar férias coletivas antes mesmo da entrada em vigor das tarifas. No Paraná, a madeira representa 40% das exportações do estado para os Estados Unidos, e a medida já causou demissões em massa.
Segundo levantamento da Abimci (Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente), 10 mil trabalhadores foram impactados.
Desses, 4 mil já perderam o emprego, 5,5 mil estão em férias coletivas e outros 1,1 mil tiveram seus contratos suspensos temporariamente (layoff).
Novas tarifas ampliam crise no setor moveleiro
A pressão aumentou ainda mais quando Trump anunciou novas tarifas de 10% sobre madeira e 25% sobre armários e móveis.
O golpe foi sentido principalmente no Rio Grande do Sul, onde os Estados Unidos são o principal destino das exportações do setor moveleiro.
De acordo com a Movergs (Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul), os EUA representaram 16% das vendas externas do estado no primeiro semestre de 2020, movimentando US$ 117,5 milhões.
Para as empresas, os custos adicionais tornam “praticamente inviável” a exportação de móveis de cozinha, banheiro e estofados.
“A taxação preocupa, especialmente, empresas que têm os Estados Unidos como principal parceiro comercial”, alertou Ana Cristina Schneider, consultora de mercado e estratégia da Movergs.
Estratégias e negociações para superar barreiras
Diante do cenário, especialistas e entidades defendem que o Brasil insista nas negociações e busque alternativas de mercado. Para Hartung, é preciso persistência:
“Quando você vai a uma porta, bate e ela continua fechada, ao invés de voltar, você precisa bater de novo. Uma hora ela abre e você consegue entrar no ambiente, sentar numa mesa e poder dialogar.”
Já Schneider acredita que a saída está na diversificação e inovação: “Conquistar novos parceiros não é uma tarefa fácil, até mesmo porque cada país tem suas particularidades em relação a consumo, burocracia, logística e acordos comerciais”.
Segundo ela, empresas brasileiras devem considerar estratégias como rever o mix de produtos, investir em marketing, participar de feiras internacionais e até contratar consultorias especializadas para reduzir a dependência do mercado norte-americano.