Meteorito atravessou o telhado de uma casa na Indonésia e gerou rumores de fortuna; entenda o que realmente aconteceu na negociação
Em agosto de 2020, uma história chamou a atenção do mundo. Um meteorito atravessou o telhado de uma casa na Indonésia, e logo surgiram manchetes afirmando que o morador havia ficado milionário. No entanto, os fatos não são exatamente como foram divulgados.
No dia 1° de agosto de 2020, Josua Hutagalung, de 33 anos, trabalhava na fabricação de caixões em sua casa em Kolang, na Indonésia.
Enquanto trabalhava, ouviu um forte barulho vindo do céu, seguido de um estrondo em seu telhado. Ao verificar, encontrou um buraco e, no chão, uma rocha escura de 2,1 kg afundada no solo. Era um meteorito carbonáceo, uma peça rara que parecia capaz de mudar sua vida.
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A descoberta viraliza e atrai compradores
Josua registrou sua descoberta em vídeo e compartilhou nas redes sociais. O registro viralizou rapidamente e atraiu compradores interessados no meteorito.
Ele sabia que o objeto tinha valor e preferiu não vender de imediato. Mesmo com as restrições causadas pela pandemia, alguns fragmentos menores encontrados por ele e por vizinhos foram vendidos a estrangeiros.
A negociação com o representante americano
Cerca de um mês e meio após a queda, Jarred Collins, um americano morador da Indonésia e entusiasta da meteorítica, entrou em contato com Josua. Collins representava compradores americanos interessados na peça principal.
As negociações avançaram, e Josua aceitou vender o meteorito. Inicialmente, ele não quis divulgar o valor da venda. Jarred informou à imprensa que Josua negociou bem e recebeu o equivalente a 30 anos de salário. Em vendas de meteoritos, é comum que os valores sejam mantidos em sigilo para preservar o vendedor.
A origem da confusão no valor
A falta de informações exatas abriu espaço para especulações. Um jornalista decidiu tentar calcular o valor da rocha com base em anúncios na internet. Ele encontrou um fragmento de 33,7 gramas do mesmo meteorito sendo vendido por US$ 29.120. A partir daí, estimou o preço por grama em US$ 864.
Multiplicando esse preço pela massa de 2,1 kg, chegou ao valor impressionante de US$ 1,8 milhão, cerca de R$ 10 milhões.
Esse número ganhou destaque e foi repetido por vários veículos de comunicação. Assim, a história de que Josua teria ficado milionário circulou amplamente, mas não correspondia à realidade.
Segundo dados, a estimativa é que Josua tenha vendido o meteorito por apenas cerca de US$ 14.000.
Como se calcula o valor de um meteorito?
Meteoritos são fragmentos de rochas espaciais que sobrevivem à entrada na atmosfera e atingem o solo. Eles não contêm metais preciosos como ouro ou diamantes. O valor dessas peças está ligado ao interesse científico, histórico e de colecionadores.
No caso do meteorito de Kolang, seu valor é alto por ser um meteorito carbonáceo. Essa categoria contém água, aminoácidos e compostos orgânicos que ajudam a estudar a origem da vida na Terra.
Além disso, o fato de ter atravessado o telhado de uma casa o torna ainda mais interessante para museus e colecionadores.
O erro comum nas estimativas
Porém, não existe uma cotação fixa por grama para meteoritos. Cada peça é negociada individualmente, considerando o interesse de quem compra e de quem vende.
Peças pequenas geralmente têm um valor por grama maior, pois mais pessoas conseguem comprá-las. Já peças maiores costumam ter um preço por grama reduzido, pois são poucos os compradores com recursos suficientes para adquiri-las.
O erro do jornalista foi aplicar diretamente o preço de um pequeno fragmento sobre a peça inteira. Isso gerou uma valorização irreal.
Diferente de commodities como soja, ouro ou nióbio, o mercado de meteoritos não funciona com tabelas de preço fixas. Os valores variam muito conforme a raridade, o tamanho, o interesse científico e a negociação entre as partes.
A verdadeira importância da peça
Apesar da ampla divulgação da cifra milionária, Josua não ficou tão rico quanto muitos imaginaram. Ele de fato lucrou com a venda, mas em patamares muito abaixo dos números divulgados.
O caso do meteorito de Kolang ilustra bem como informações imprecisas podem ganhar força e criar histórias distorcidas. No fim, a verdadeira importância da rocha está mais no seu valor científico do que na fortuna prometida pelas manchetes.
Especulações sobre os valores
Antes das especulações milionárias, o próprio Josua indicou ter recebido o equivalente a 30 anos de salário com a venda do meteorito.
Na Indonésia, o salário anual varia entre US$ 500 e US$ 1100, o que colocaria a negociação entre US$ 15 mil e US$ 33 mil.
No entanto, Josua revelou mais tarde que recebeu apenas US$ 14 mil, ou cerca de R$ 75 mil na época, vendendo a peça por US$ 6,67 o grama. Ele se disse enganado ao ver que fragmentos de 33 gramas eram vendidos por valores muito superiores.
A venda por um preço abaixo do potencial ocorreu principalmente pela falta de concorrência. Durante a pandemia, poucos compradores puderam chegar até Kolang.
Em casos semelhantes, como em Águas Zarcas, na Costa Rica, meteoritos similares chegaram a ser negociados por mais de US$ 20 o grama. Além disso, o meteorito de Josua foi vendido antes de ser oficialmente classificado, o que diminuiu seu valor na negociação inicial.
Com informações de Bramon Meteor.