Planejamento do governo federal busca destravar conexões para 6 GW e viabilizar projetos bilionários travados pela falta de infraestrutura
O Brasil pode estar próximo de um novo marco na transição energética. O hidrogênio verde no Nordeste tem atraído bilhões em investimentos, mas enfrenta gargalos na rede de transmissão que travam a liberação de grandes empreendimentos. Para mudar esse cenário, o Ministério de Minas e Energia (MME) anunciou que os estudos de viabilidade técnica da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) serão concluídos até dezembro de 2025, com o objetivo de liberar conexões de até 6 GW na região.
A declaração foi feita pelo secretário de Transição Energética e Planejamento do MME, Thiago Barral, durante evento da Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde (ABIHV), realizado na Câmara dos Deputados na última terça-feira (6).
Planejamento para liberar os primeiros hubs de hidrogênio verde
Segundo Barral, os estudos visam identificar a infraestrutura necessária para alimentar eletrolisadores em projetos eletrointensivos, base do desenvolvimento de polos de descarbonização no Brasil. O secretário reconheceu que o planejamento atual “se mostrou insuficiente” e revelou uma parceria com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para mapear “espaços e estratégias” que viabilizem os primeiros grandes projetos até 2030 e os hubs de descarbonização até 2035.
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A Abihv e a Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica) também solicitaram a antecipação do Plano de Outorgas de Transmissão de Energia (POTEE) para garantir previsibilidade aos investidores e acelerar as obras de infraestrutura.
Hidrogênio verde no Nordeste: 45 GW em risco por falta de conexão
A urgência é real: apenas o projeto da espanhola Solatio, na Zona de Processamento de Exportação de Parnaíba (PI), teve um investimento avaliado em R$ 27 bilhões negado por limitações na rede elétrica. Segundo a Aneel, que chancelou parecer do ONS, há risco de sobrecarga estrutural e colapso de tensão em subestações da região, especialmente diante da ausência de reforços imediatos no sistema.
A decisão também atingiu projetos bilionários da Casa dos Ventos e da gigante australiana Fortescue, ambos no Porto do Pecém (CE). No total, o Ministério de Minas e Energia registra 11 projetos de hidrogênio verde formalmente pleiteando conexão ao sistema, que juntos somam 45 GW de capacidade até 2038.
Estudos visam ampliar rede para destravar projetos até 2030
Nos estudos da EPE que serão entregues ao MME até o final do ano, o objetivo é ampliar a capacidade de conexão em 4 GW, com possibilidade de antecipar mais 2 GW com base em reavaliações feitas pelo ONS.
A agenda de estudos de transmissão para 2025, divulgada pela EPE, prevê 37 análises técnicas, sendo 15 novas e 22 iniciadas em 2024. Entre os destaques:
- Avaliação da inserção de cargas de hidrogênio verde no Nordeste (estudo 9);
- Aumento da capacidade de exportação da região (estudo 1);
- Reforço da infraestrutura para data centers no Sudeste e Sul;
- Alternativas para o suprimento de energia em estados da região Norte;
- Estudo sobre possível interligação elétrica entre Brasil e Bolívia.
Investimentos travados somam mais de R$ 100 bilhões
No caso da Casa dos Ventos, o investimento previsto no Ceará ultrapassa R$ 49 bilhões apenas em hidrogênio verde, além de mais R$ 50 bilhões em data centers, criando um dos maiores polos tecnológicos do país. Mesmo com estudos técnicos apontando sobra de 2 GW de capacidade na região, o projeto recebeu parecer negativo.
Já a Fortescue, que prevê aporte de R$ 17,5 bilhões para produzir até 2,1 GW em energia verde, também enfrenta bloqueio semelhante, o que acende o alerta sobre a urgência de modernização e expansão da rede de transmissão nacional.
Hidrogênio verde no Nordeste depende de política energética ágil
O desenvolvimento do hidrogênio verde no Nordeste está entre os principais caminhos para o Brasil atingir suas metas de descarbonização e assumir protagonismo na exportação de energia limpa. Contudo, a falta de infraestrutura de rede ameaça comprometer a atratividade dos projetos e a confiança dos investidores.
Para Barral, os estudos em andamento devem fundamentar as decisões que viabilizem os primeiros empreendimentos e criem as bases para um novo modelo energético sustentável no país. “Estamos buscando soluções urgentes para que os projetos não fiquem no papel e comecem a gerar benefícios concretos até o final desta década”, afirmou o secretário.